Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Bíblia

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As tuas palavras
Anunciam desejos.
Os teus lábios
Prometem beijos.
As tuas mãos
Semeiam carícias.
As tuas ancas
Conjuram delícias.

Se não for o anúncio falso
E a promessa vã,
Se não for a sementeira estéril
E a conjuração improcedente,
Nascerá uma nova manhã
De odores citrinos e inaugurais.
Manhã ímpar e fresca
De gestos simples e fundamentais.

Um mundo renovado
E uma nova religião,
O credo do pastor amado
E a prece da paixão.
Reescrevo versículos
Com a cabeça abandonada
Em tuas nádegas desnudas.
Se soubesses
O quanto mudas
Só por estar aqui.
Tenho uma nova Bíblia,
Repleta de orações,
Que nasceu em ti.
E esse livro,
Sagrado e controverso,
Desenha um ato de amor
Em cada singelo verso.

jpv


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Fogo

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Porque me namoras assim?
Porque me incendeias a alma
E a palavra
E ateias o lume do corpo?
Porque me dás sem pedir?
Porque me prendes
E me libertas?
Porque ofereces tuas formas
Às minhas mãos desertas?
Porque me acaricias a existência
E me abandonas a arder?
Porque me deixas ganhar-te
Se te não posso perder?

João Paulo Videira


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Místicas

Quando ela me olhou, quando me sorriu e estendeu os braços para mim, eu estava a milésimos de segundo de ser surpreendido e, ainda assim, a milhas de distância de saber o quão feliz ela me faria hoje.

Passa um pouco da uma e trinta da manhã, estou na minha cama e escrevo para os meus leitores a história do dia em que a vida me surpreendeu e sorriu. Mas… vamos lá a contar a história pela ordem correta, que é como quem diz, do princípio para o fim.

A Páscoa, este ano, foi em Portugal. Todo o tempo com a família é pouco. Ainda por cima e por causa de um contratempo que houve pelo meio, só foi possível estar nove dias em Portugal. Quando se é emigrante a dez mil quilómetros de casa, em Moçambique, neste caso, todo o tempo que se passa aqui é pouco. Chega para quase nada. É preciso estar com a família, é preciso dar atenção aos mais chegados, é preciso ir ao médico, comprar medicamentos, tratar dos impostos, de inúmeros pormenores de manutenção da casa, comprar bens que fazem falta em Maputo, levar coisas que alguns colegas pediram… muito movimento… muita azáfama.

É evidente que, benfiquista apaixonado e saudavelmente doente pelo Glorioso, não pude deixar de reparar que, durante a minha estadia em Portugal, jogava-se o Benfica – Braga. Jogo a prometer emoções fortes, o estádio a ameaçar encher… Pensei que, se pudesse, se sobrasse tempo, iria… claro. Acontece que só na quarta feira me lembrei de comprar bilhete para sexta feira, 1 de abril… o que me disseram na casa do Benfica de Torres Novas parecia mentira:

– Não há bilhetes. Está tudo esgotado!

Contactei várias casas do Benfica. Entroncamento, Fátima, Alpiarça… nada, sempre em vão, sempre a mesma resposta. Não há bilhetes. Ainda na quarta feira, a comunicação social informou que no dia seguinte seriam vendidos os últimos dois mil bilhetes. Contactei uma amiga que trabalha em Lisboa, pedi-lhe que fosse ao estádio à hora de almoço e tentasse comprar-me dois bilhetes. Um para mim, outro para o meu cunhado. Ela ligou-me a dar a triste notícia. Os dois mil bilhetes esgotaram em vinte minutos.

Decidi não ir hoje a Lisboa. Não valia a pena estar nas imediações do estádio e não ter como entrar. De manhã, levantei-me, tratei de diversos aspetos relacionados com a manutenção da casa, escrevi um pouco, virei-me para o sol primaveril e senti-o aquecer-me a pele. Pela hora de almoço, a minha mulher diz-me que se esquecera de comprar umas coisas em Lisboa que precisava de levar para Maputo:

– Sempre podes tentar encontrar os bilhetes…

– Os bilhetes esgotaram! Qual parte da palavra esgotados é que tu não percebes?!

Mas fiz-lhe a vontade e levei-a a Lisboa. Happy wife, happy life…

Estar junto ao Estádio da Luz fez renascer a esperança até a esperança se esmurrar de encontro à realidade. Na primeira bilheteira que visitei, disseram-me que estava tudo esgotado, na segunda, tudo esgotado, fui à MegaStore do Benfica, tudo esgotado. Não gosto de comprar bilhetes na candonga. Normalmente são falsos. Não perdi tempo com isso. Resolvi aceitar o destino e o destino não queria que eu visse o jogo na Catedral. Aparentemente. Fui a uma loja de roupas e artigos desportivos lá no estádio e decidi recompensar-me comprando a camisola do Benfica. Sorri à menina que me atendeu e pedi-lhe que gravasse jpvideira nas costas.

– Jota, ponto, pê, ponto, Videira?

– Não, não. Não leva pontos. Só as letras.

– Com espaços entre as letras?

– Não. Tudo junto, por favor. JPVIDEIRA tudo junto, sem pontos, nem espaços.

– Muito bem. Volte daqui a quinze minutos.

Durante esses quinze minutos fui a mais uma bilheteira, mas era inútil. Vagueei por ali, cumprimentei o Eusébio e fui, por fim, buscar a camisola. Sorri à menina, perguntei se já estava, que sim, que estava. Agradeci-lhe simpaticamente e foi então que ela me olhou como se me quisesse dizer algo especial, como se procurasse em mim uma história e disse só estas palavras:

– Aqui tem a sua camisola. Tenha um bom jogo.

– Oh… muito obrigado, mas eu não vou ver o jogo. Vim de Maputo para passar uns dias e queria ver o jogo, mas os bilhetes esgotaram…

Ela abriu a caixa registadora, tirou de lá dois bilhetes, estendeu-me a mão com eles e disse:

– Vai ver o jogo pois. Tome divirta-se! São os últimos!

Eu estava incrédulo. Tentara tudo por dois bilhetes, caros que fossem e aquela moça de olhar meigo e sorriso a iluminar a face estava a oferecer-me dois bilhetes… Fiquei sem saber como reagir.

– O que posso fazer por si? Sabe a alegria que me está a dar?

– A única coisa que pode fazer por mim é ir ver o jogo e divertir-se!

– Se não fosse homem chorava…

– Chorar não é vergonha… Ah e já agora… que ganhe o Benfica!

– Que ganhe o Benfica.

Empoleirei-me no balcão, dei-lhe dois beijinhos e fui tirar uma foto com o Rei Eusébio, desta vez eu tinha JPVIDEIRA escrito nas costas e dois bilhetes no bolso!

O resto foi o que se sabe. Uma noite farta e generosa. Cinco a um no marcador, alegria, cânticos, 61042 pessoas a encherem o estádio e… a memória da S. sempre comigo… o seu sorriso, no momento em que me entregou os bilhetes, era mais do que um prognóstico, era a certeza de que a mística benfiquista existe, era a emoção de uma vitória linda a anunciar-se.

E agora vou dormir… mais feliz… com pouca coisa me faço feliz… umas palavras, uma bola jogada na incerteza do resultado, um sorriso, um olhar… um momento mágico à Benfica!

jpv


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A Paixão de Madalena: Um Romance, Duas Apresentações

Em Lisboa, a 20 de dezembro de 2015, pelas 15h, no Clube Literário da Chiado Editora, Av. da Liberdade, nº 188, Galeria Comercial Tivoli Forum.
https://www.facebook.com/events/527307534102570/

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No Porto, a 9 de janeiro de 2016, pelas 15h, na Casa de Allen, Rua António Cardoso, nº175.
https://www.facebook.com/events/1538142943162965/


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A Paixão de Madalena Também no Porto

Caros Amigos e Leitores,

Para aqueles que não puderem estar na apresentação de “A Paixão de Madalena”, já no próximo domingo, 20 de dezembro, pelas 15 no Clube Literário da Chiado Editora, teremos muito prazer gosto em recebê-los na Casa De Allen, no Porto, dia 9 de janeiro pelas 15h.

Eis o cartaz e o convite do evento.

João Paulo Videira

CartazAPaixãoDeMadalena-Porto ConviteAPaixaoDeMadalena-Porto


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A Pensar em Ti

A Pensar em Ti

A Pensar em Ti

A pensar em ti
Fiz os poemas apaixonados
Da juventude…
Os versos arrebatados
Do amor
E da incompletude.

E foi a pensar em ti
Que rimei rimas
Sem nexo
De luxúria e sexo
Exposto
Ao vento e ao luar.
A pensar em ti
Meu coração
Aprendeu a rimar.

A pensar em ti
Escrevi
Sobre o desespero
E a desilusão,
Sobre grandes projetos
E o espectro da separação.

E vieram outras mulheres
Doces e belas
Partilhar meus braços.
Escrevi imenso sobre elas,
E tudo o que escrevi
Foi a pensar em ti.

A pensar em ti
Escrevi palavras de paciência,
De fulgor sem fulgor nenhum.
A pensar em ti
Escrevi a resiliência
Do amor especial e comum.

E agora,
Que se anuncia
Outra meninice
Que não é pujança
Nem velhice,
Penso em ti
E na força dos afetos.
Traço duas linhas de ternura,
Penso em ti
E escrevo sobre nossos netos.

jpv


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A Paixão de Madalena – Capítulo 30 (Excerto)

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O presente texto constitui um excerto do capítulo 30 do Romance “A Paixão de Madalena” que publicaremos em breve.

A PAIXÃO DE MADALENA
LIVRO V – FIAT LUX

30. Marcelle e Mark tornaram-se presenças distantes, os seus contactos eram escritos, por e-mail. Não se escreviam com frequência, em pequenas mensagens, a contar episódios da sua vida, como correra isto ou aquilo. Escreviam-se pouco, três ou quatro vezes por ano, mas quando o faziam, eram longas missivas carregadas de ilusões, de desilusões, de aventuras amorosas, de desventuras, de projetos profissionais, de emoções e saudades. Continuaram a comunicar-se como se estivessem juntos de quando em vez e continuaram até a fazer planos para coisas que haveriam de fazer quando estivessem uns com os outros, mas a verdade é que não se viam desde Joanesburgo. Marcelle entusiasmou-se com a separação de Madalena e Pablo Sentido, disse que a visitaria na aldeia. Precisava vê-la, estar com ela, a viagem do Canadá a Portugal seria baixo preço a pagar por estarem juntas. E veio mesmo. E esteve uma semana com Madalena. O suficiente para a amar com volúpia e desejo redobrado e o suficiente para aperceber-se de que, naquela fase, não havia espaço para si na vida de Madalena.

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[O presente texto constitui um excerto do Capítulo 30 de “A Paixão de Madalena” a publicar em breve em livro. Boas leituras!]


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A Paixão de Madalena – Capítulo 19 (Excerto)

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O presente texto constitui um excerto do capítulo 19 do Romance “A Paixão de Madalena” que publicaremos em breve.

A PAIXÃO DE MADALENA

LIVRO III – CAIM E ABEL

19. O corpo do homem branco está tombado de bruços com a cara semi-enterrada num charco, a roupa rasgada, o sangue do próprio e alheio a mancharem-na. Um pé negro virou-o e expô-lo à luz do sol. Respirava. Levaram-no para a sanzala. Lavaram-no. Cobriram-lhe as feridas com uma pasta de ervas e deram-lhe água. Acordou febril dois dias depois e viu-a, alta e esguia a seu lado. Teve medo, quis mexer-se, levantar-se e fugir. Ela segurou-o pelo tronco desnudo e levou-lhe um pouco de funge frio à boca. Só então se apercebeu de que tinha fome e comeu tudo o que ela lhe deu. E reparou que pela primeira vez na sua vida fora tocado por um negro. E sentiu o toque sedoso e quente da pele humana e sentiu-se surpreendentemente reconfortado. E sentiu-se envergonhado por ter sido preciso que lhe tocassem para que se certificasse da sua humanidade. Não fora de seres humanos que lhe falaram nos treinos, mas de animais selvagens, bestas insaciáveis e assassinas e, contudo, ali estava ele, salvo por essas pessoas, tratado por elas, alimentado por elas, tocado por elas, um toque quente e sedoso, acolhedor. E sentiu-se em casa. Nunca falaram. Não seria possível. Sempre que tentaram, as barreiras do desentendimento erguiam-se. Eram tão impercetíveis para eles os sons de Manuel como para si os sons deles. Entenderam-se por gestos. E quando pôde andar, foi conhecer a aldeia e fez-se útil e ajudou. E nesses breves tempos, que correram céleres como a felicidade dos inconscientes, Manuel foi um homem tranquilo e pacificado.

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[O presente texto constitui um excerto do Capítulo 19 de “A Paixão de Madalena” a publicar em breve em livro. Boas leituras!]


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A Paixão de Madalena – Capítulo 14

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A Paixão de Madalena

Livro II – O Cordeiro de Deus

14. Há palavras que nos afastam da realidade. Que nos empurram para uma espécie de universo paralelo. Porque nos transportam para um sonho, porque nos alegram, porque nos entristecem, porque nos chocam. Foi este o caso. Choque. Em abono da verdade, Madalena não conhecia aquelas palavras. E esse foi o primeiro sinal de alerta. Hipertensão Crónica do Líquido Cefalorraquidiano. Dispraxia. Desfasamento Etário do Desenvolvimento Emocional. Jacob tinha um problema e ela desconhecia as palavras necessárias para o identificar. Estava, por isso, longe de perceber o que se passava com o seu menino e mais longe ainda de perceber o caminho da cura. Rápido lhe disseram que nestes casos não se tratava de cura, não estávamos, ainda, nesse patamar. Por agora, a Medicina contentava-se com tentar perceber o problema que, como ela entenderia, era raro. Poucos casos no Mundo inteiro. Seriam necessários mais exames, novos testes, seria necessária medicação, cumprir com rigor a terapia, e… muito amor. Madalena levantou os olhos para o médico e resmungou:
– Muito amor? Mas acha que lhe tem faltado amor? Se a falta de amor fosse o problema, o meu filho não teria doença nenhuma!
– Não duvido, minha senhora, o que estou a dizer-lhe é que estes pacientes… enfim, o pouco que se sabe sobre eles é que reagem muito bem a climas equilibrados de forte afetividade.
– Preciso de ajuda. Não sei o que ele tem, não consigo perceber, sequer, onde é a doença e não sou inculta, doutor, mas essas palavras não são do meu universo.
– Penso que o seu… penso que o Dr. Sentido poderá elucidá-la em relação a esse aspeto…
– O Pablo tem a vida dele.
– Sim, mas o Dr. Sentido mostrou-se muito preocupado com toda a vontade de colaborar.

– Interessado? Tu mostraste-te muito interessado? Mas quem é que tu julgas que és?
– Pois, tens razão. Eu não sou ninguém.
– Pois não! O médico hesitou, quase ia dizendo que eras meu marido.
– E não sou? Qual é a diferença? Eu nunca serei nada que não queiras que eu seja, mas não podes negar-me os afetos. Nós vivemos juntos, eu, tu, a Mariana, o Jacob…
– Desculpa…
– Estás assustada.
– Pior do que isso. Estou perdida.
– Eu ajudo-te.
– Desculpa!
– Não continues a pedir desculpas ou ainda as aceito!
– Safado!
– Dá cá um abraço.
– Sou uma parva, não sou? Tu é que reparaste nisto, conseguiste a consulta e eu fui uma ingrata.
– Assustou-te a possibilidade de eu te dar como garantida, ter a ousadia de me anunciar como teu qualquer coisa.
– É a minha liberdade, sabes. É a única coisa que tenho, a única coisa que sempre tive e de que nunca abdiquei.
– E não precisas abdicar dela para sermos um casal. Nem sequer somos um casal comum.
– Pois não. Tens razão.
– Afinal, qual foi o diagnóstico?
– Um monte de palavras que eu não percebo.
– Tu ajudas-me com as contas, eu posso ajudar-te com essas palavras…
– Só preciso que me digas…
– Eu sei. Eu digo-te: vai correr tudo bem, Madalena.
– Vai mesmo?
– Vai mesmo!

Foi no Outono tardio. O ar de Genebra já estava frio, o bafo das pessoas já desenhava nuvens de vapor junto ao nariz e as mãos procuravam a face para encontrar o calor do ar expirado. Cachecóis, casacos compridos e um sol doirado, pendurado sobre a cidade como que a iluminar o frio. Marcelle levou-a. Chegaram à porta da universidade e Madalena disse-lhe, como quem antecipa, Espera aqui, eu vou lá sozinha. Procurou o átrio, depois as vitrinas, as pautas, o seu nome, viu as classificações e a vida voltara a recompensá-la. Saiu sorrindo, entrou no carro, abraçou Marcelle longamente enquanto as lágrimas lhe corriam pela face. Depois, beijou-a suavemente nos lábios. Não havia ali desejo. Só gratidão. Contra todas as probabilidades, Madalena acabara o curso dois anos antes do seu final regular. Fora um processo de sofrimento e sacrifícios, mas agora muitas portas se abriam. Agora, só lhe apetecia correr para os braços de Pablo e beijá-lo também, e agradecer-lhe também. E queria trabalhar, queria conseguir o tal trabalho digno que a libertaria de todas as dependências. Poucas semanas depois, ainda antes de terminar o ano de dois mil e um, receberia um convite que aceitaria de olhos fechados. Gesto impetuoso e sôfrego de que não viria a arrepender-se.

 Logo após as notícias preocupantes acerca do problema de Jacob, Pablo Sentido preocupara-se com a possibilidade de ela não resistir à adversidade e entrar em depressão e foi por isso que fez a sugestão mesmo pensando que ela não aceitaria:
– Porque não terminas já o teu curso?
– Porque faltam dois anos.
– E depois? Esse é um curso modular. Podes sempre propor-te aos exames finais.
– Seriam muitos.
– Faz um plano de trabalho, propõe-te aos exames e conclui.
– Não é humanamente possível. Já houve quem tentasse…
– Sim, mas tu não tentaste.
– Estás a empurrar-me?
– Estou.
– Pablo!
– Para quê fingir? A ocupação é o melhor que pode acontecer-te neste momento.
– Mas eu trabalho!
– Trabalho mal pago, não especializado, ou seja, se alguma vez tiverem de dispensar alguém, serás a primeira a sair. Além disso, eu não disse para deixares de trabalhar…
– Pablo! A Mariana, o Jacob, o trabalho, tu…
– Eu?
– Sim… tu és o meu mestre e o meu mestre tem desejos…
– Tu és capaz. Tu sabes que és capaz. Além disso, não suportarás viver a tua vida sem saber se terias conseguido ou não.
– Aquilo tem despesas…
– Que eu pago.
– Não sei…
Mas soube. Poucos dias depois anunciou a sua intenção.

 No primeiro mês trabalhou com particular dedicação. Nem acreditava que lhe pagassem o que estava escrito no contrato. Passou o mês a imaginar que iriam inventar descontos e impostos até ficar o valor que recebia até então. E o final do mês chegou e ela foi verificar o saldo da conta e as lágrimas correram-lhe face abaixo. Normalmente teria de trabalhar quatro meses para chegar àquele valor. Começou a imaginar tudo o que poderia fazer, todas as necessidades que poderia suprimir, os mimos com que iria presentear os seus meninos. Nessa noite quase não dormiu. Amou vigorosamente Pablo, levantou-se e foi fazer contas. Decidiu criar um fundo de emergência para o qual contribuiria mensalmente, decidiu o que melhorar no seu dia a dia e decidiu convidar a avó, Marcelle e Pablo para almoçarem juntos nesse fim de semana. Pagaria ela. No novo trabalho, o acolhimento havia sido fantástico. Pelo facto de ser uma Técnica Superior de Contas, de ter a formação, o diploma, todas as portas pareciam abrir-se, até as da simpatia. Era quase como se tivesse entrado para um clube exclusivo. Renasceu em si a determinação de não esquecer os tempos das dificuldades, de os honrar com trabalho honesto e competente e, como que num retorcido paradoxo mental, cresceu em si, ao mesmo tempo, a determinação de nunca mais voltar a esses tempos.

 Como qualquer outro sentimento, a resignação pode apoderar-se da mente humana  e tolhê-la, impei-la de crescer. A libertação de uma mente pode ser um processo tão demorado e penoso como o seu aprisionamento. Madalena levou tempo a habituar-se às suas novas possibilidades, levou tempo a descobrir o que poderia fazer com a independência conquistada. Levou tempo a soltar-se dos sacrifícios, dos ritmos e dos rituais que tinha antes e houve mesmo pequenos gestos que nunca perdeu. Guardar um fósforo já riscado dentro da caixinha para poder usá-lo de novo ao acender um segundo bico, despejar o óleo de fritar usado num frasquinho para poder reutilizar, ou  cortar a bisnaga da pasta de dentes com uma tesoura para poder rapar todo o conteúdo. Reaprendeu a viver, em primeiro lugar, através das crianças. Começou por comprar-lhes roupa com mais frequência, a renovar o material escolar mais vezes, a encher a despensa com o essencial, mas também com o que noutros tempos seria dispensável. E só depois reaprendeu a cuidar de si. Quando chegou o ano de dois mil e dois, decidiu oferecer-se duas prendas. Uma mais ligada ao trabalho e à matéria. Ofereceu-se um computador portátil. Seria mais fácil transportar o trabalho, poderia, em certas circunstâncias, trabalhar a partir de casa e poderia gerir a sua carteira de clientes com outra eficácia. E uma segunda prenda, de um universo diferente. O dos afetos. Nesse ano, Madalena fará vinte e nove anos, o último aniversário dos seus vintes, uma década que se despede, uma outra que se anuncia. E decidiu, por isso, celebrar esse aniversário com amigos. Alguns colegas do trabalho, um ou outro da faculdade, a avó Bá, Pablo, Marcelle, um ou outro amigo de Kyle cujo paradeiro Pablo conhecia. E estava reunindo numa lista aqueles que por uma razão ou por outra lhe diziam um pouco mais, quando se lembrou de Mark Merrit. Que seria feiro dele? Uma rápida visita a uma caixa de cartão onde guardava coisas antigas foi suficiente para encontrar o número que ele lhe dera em África. Por certo não funcionaria. Ainda assim, tentou ligar. Para sua surpresa, o telefone tocou e uma voz feminina atendeu:
– Bom dia. Com quem deseja falar?
– Com Mark Merrit.
– Só um momento… quem devo anunciar?
– Humm… Kyle, Kyle Mckenzie.
– Senhora Kyle Mckenzie?
– Não. Senhor Kyle Mckenzie. Eu sou a secretária dele.
– Ah! Com certeza. Só um momento…
Quando Mark atendeu o telefone, a sua voz soou inconfundível e Madalena, ao ouvi-la, quase conseguiu sentir o cheiro do café aquecido numa fogueira crepitante na noite africana. Recompôs-se e falou:
– Mark?
– Kyle? Esta voz não é do Kyle.
– Infelizmente…
– Madalena!
– Não era suposto tomares conta de mim?
E reataram laços em poucas palavras. As justificações absurdas de quem não tem nada para justificar, a notícia de que Kyle morrera pouco depois de o conhecer, uma breve e sincopada história dos dias vividos desde então, em Genebra, os contornos da situação atual. E Mark correspondeu com o pouco que reuniu de improviso acerca de si próprio, momentânea carta de reapresentação, a sua saúde, a intermitência na relação com o seu companheiro que ora era tórrida e apaixonada, ora depressiva e distante, o trabalho cada vez mais volumoso e uma vida faustosa de que quase não conseguia usufruir. Madalena perguntou-lhe se não teria nenhuma viagem programada para a Europa nos próximos tempos e Mark Merrit não poderia ter sido mais claro na resposta:
– Não tenho, mas por ti vou de propósito. Devo isso ao Kyle…
– Não é um bocadinho excessivo? Acho que nos conhecemos de umas noites à fogueira a beber café num local inóspito de África.
– Por isso mesmo. Por ter sido tão pouco e ter significado tanto. Diz-me, madalena, achas que as nossas vidas teriam sido as mesmas se não nos tivéssemos cruzado?
– Concordo que não, mas isso pode ter sido mais por causa da missão do que por nossa causa…
– Nós éramos a missão! E só nos tínhamos uns aos outros… de resto… porque me telefonaste?
– Porque… – fez uma pausa – estava à procura de pessoas especiais…
– Eu sou especial?
– Acho que sim.
– Vês, além da honra, isso vem dar-me razão. Uns meses perdidos no deserto à procura do sentido da vida, umas noites à fogueira e é quanto basta para sermos especiais uns para os outros.
– Tens razão, Mark, foi a qualidade do tempo passado. O Kyle gostava muito de ti. Eu admirava a tua irreverência e a tua autonomia. Para mim, és o exemplo do sucesso conquistado a pulso.
– E afinal porque me ligaste?
– Como te disse, vivi uns anos difíceis. As coisas estão a correr melhor e eu decidi celebrar os meus vinte e nove anos. É só daqui por um par de meses…
– Conta comigo!
– Tu vens? Dos Estados Unidos aqui?
– Claro! Dinheiro não é problema, felizmente, estou a precisar de descansar, a precisar de distanciar-me disto tudo, incluindo daquele tipo que aparece de vez em quando lá em casa e a que chamo namorado… vou uns dias antes do teu aniversário e fico uns dias depois, se concordares.
– Isso seria magnífico. Tenho uma amiga que vais adorar… vocês são tão parecidos… podes ficar em casa dela…
– Naaa… não me parece… não te preocupes com isso, a minha secretária vai planear-me a viagem, alojamento incluído.
– Ok.
– Ok. Combinado. Olha…
– Sim…
– Vai ligando…
– Certo. Tens e-mail?
– Claro.

Enquanto esteve em Genebra , ao longo de duas semanas, Mark Merrit ficou no hotel somente duas noites. A primeira e a última. A sintonia foi imediata. Com Pablo, tinha em comum a amizade por Kyle, com Marcelle, as ideias progressistas, a irreverência do caráter, a vertigem da independência, o gosto pela crítica envolta em palavras acidulantes e a ternura por Madalena. Com esta, o brilho no olhar e o gosto por noites longas à fogueira das palavras. Enquanto Mark Merrit esteve em Genebra  saíram muito, os quatro. Pablo conduzia, Madalena a seu lado, os outros dois lá atrás. E o entusiasmo da conversa projetava-se no timbre sonoro das suas vozes. Entre Mark e Marcelle nasceu rapidamente a cumplicidade de terem percebido ambos que, não sendo heterossexuais, homossexuais também não eram. Eram só pessoas. À procura de outras pessoas. A lutar contra rótulos. Mente aberta, preconceitos ao largo. O animado e improvável grupo fez o percurso dos pubs, dos restaurantes, dos teatros e dos pubs de novo. E tudo parecia convergir, lá em casa, noite dentro, com um porto entre as mãos e as palavras a bailar embaladas por espíritos inteligentes e motivadores. Normalmente, Pablo ia deitar-se primeiro, depois era Madalena quem se despedia e os outros dois ou ficavam por ali mais um pouco ou retiravam-se para casa de Marcelle onde Mark se havia instalado em definitivo e onde a conversa continuava até ao raiar do dia. Por uma ou duas vezes, adormeceram no sofá enroscados um no outro, cobertos por edredãos de penas e com os copos da longa noite poisados ali por perto. De manhã, ou saíam para as suas camas ou iam diretos para o chuveiro. Primeiro eu, depois tu. Numa dessas manhãs, Marcelle acordou primeiro e foi para o duche e já saía da casa de banho com as linhas do corpo a verem-se à transparência da túnica  de tecido fino que vestia, quando Mark se levantou para dirigir-se ao seu quarto. E viu-a vir, a silhueta elegante, o ar angélico, o aroma do duche perfumado e algo em si acordou. Foi ao seu quarto, depois tomou um duche em pouco tempo, sem ser convidado, entrou no quarto de Marcelle, entrou na cama, ela virou-se para ele à procura do desejo que lhe vira há pouco quando se cruzaram e encontrou-o. Nesse dia não saíram de casa. Nem do quarto. À noite, jantaram com Pablo e Madalena que viu no olhar de ambos a satisfação do corpo. Sorriu. Sorriram. Quando Pablo se foi deitar, Madalena não resistiu a sondar o incomum casal:
– Então e como é que vocês se estão a dar na minha ausência? O Mark tem-te tratado bem?
– Muito bem – retorquiu Marcelle – e sendo muito honesta e muito direta contigo… aconteceu hoje e foi libertador. Sublime!
– Marcelle! Mark! Que bom! Como fico feliz por vocês! Mas vocês… quer dizer… como é que… ai… não sei se me faço entender…
– Então, Madalena, os meninos têm uma pilinha e as meninas têm uma vagina!
E largaram os três a rir riso cristalino e Madalena retomou:
– E esconderam isto de mim todo o dia, toda a noite e só agora… por causa do Pablo! Não quiseram falar à frente dele.
– O Pablo é um bom homem, Madalena – disse Mark – mas é demasiado masculino, demasiado impetuoso.
– Sim, Madalena, gira tudo à volta do pénis dele. Com o Mark foi libertador porque sendo ele homem, não foi impositivo, e é dotado de uma sensibilidade especial.
– E sendo a Marcelle mulher, Madalena, percebeu o que eu precisava e completou-me.
– O meu Pablo é um bom homem, ele não vos iria recriminar.
– Claro que não. Mas também não iria perceber.
– E eu? Porque me contam com esse entusiasmo a vossa aventura?
– Primeiro, porque tu perguntaste. Depois porque foi uma descoberta. Foi mais uma descoberta. É simples, Madalena, Marcelle e eu falámos em ti durante o dia e pensamos que também tu és uma alma livre como nós, capaz de nos compreender e até de partilhar alguns momentos connosco.
– Soa a convite.
– Não é. É só a constatação de que tu tens uma mente livre e aberta como nós.
– Até posso ter, mas neste momento estou muito concentrada no Pablo e em todas as coisas boas que me estão a acontecer.
Conversaram até muito tarde. Sobre as suas opções de vida, sobre os seus trabalhos, sobre arte, sobre livros. Eram leitores compulsivos. Compararam autores, estilos, falaram das obras que mais os haviam marcado, falavam de cada livro como se tivesse sido um momento único nas suas vidas, uma revelação. Falaram de música, das suas canções preferidas, falaram das outras pessoas, de algumas em particular, falaram do preconceito, do sofrimento e do sucesso e falaram, claro, de sexo.  E cada um disse o que tinha para dizer, sem máscaras, com naturalidade. Perceberam a sintonia entre si, as experiências de vida fortes e marcantes que os tornavam cúmplices e fortaleceram uma amizade. E quando foram dormir foi como se o Mundo se tivesse tornado um local melhor para se viver, mais acolhedor, mas harmonioso. E foi esse sentido de harmonia que guardaram nos seus corações e levaram para o aniversário de Madalena, daí a dois dias.

Foi um dia especial. Em todas as suas vertentes, em todas as suas possibilidades. Madalena há de relembrar o seu vigésimo nono aniversário enquanto tiver memória. Os amigos começaram a chegar por vota das cinco da tarde. Nessa altura, Albertina e os miúdos ainda estavam com eles, as pessoas deliciavam-se com os petiscos que a avó Bá e Marcelle haviam preparado no dia anterior e nessa mesma manhã. Mark encarregou-se da decoração da sala e Pablo comprou um bolo gigante e organizou uma prova de vinhos. Vieram os colegas do trabalho, os da faculdade, alguns amigos de Pablo, e ainda dois ou três do tempo de Kyle, Liberta esteve uns momentos e veio beijar e abraçar a irmã. Soava uma música de fundo, era Jacques Brel e depois Piaf. A noite foi perfeita. Um jantar volante, com as pessoas a circularem animadas pela casa, a petiscarem isto e aquilo, a beberricarem vinhos diferentes sobre os quais opinavam de forma imprecisa mas entusiástica. Fizeram sucesso particular os pastéis de bacalhau da avó Bá. Mark tinha comprado umas garrafas de champanhe que se serviu e muito frio e deu um toque de elegância à celebração. As caras dos convidados transpareciam satisfação e bem-estar, as conversas nasciam a cada canto da casa, a avó Bá saiu primeiro com as crianças para poderem descansar e os adultos ficaram na conversa que começou como uma fogueira, pouco a pouco, e atingiu um auge de trocas de impressões calorosas e crepitantes e era já tarde quando todo esse fogo acalmou e deu lugar a brasas discretas, mas quentes. As pessoas foram saindo, Pablo foi com um dos grupos explorar o resto da noite fora de casa e, por fim, restaram só Madalena, Marcelle e Mark e foi ele que perguntou:
– Já repararam que os nossos nomes começam todos por M?
– Achas que isso é um sinal?
– Não. Nós é que vemos o sinal porque somos atraídos para ele pela nossa própria vontade. Não uma vontade consciente, uma outra mais poderosa que nos contraria a razão.
Levantou-se. Foi buscar uma taça larga que tinha sido cheia com cerejas recheadas de licor e envoltas em chocolate e propôs um jogo:
– Meninas, vamos lá a ver quem merece estas cerejas achocolatadas e cheiinhas de licor. Proponho um jogo.
– Boa, boa, um jogo, que seja interessante…
– Muito. Cada um de nós escolhe uma vítima, um interlocutor, e faz uma aposta em relação a ele, uma espécie de pergunta já com resposta. Algo que o outro já pensou, já pensou fazer, já fez, deseja fazer. Se acertar na aposta que fez, o outro, a vítima que ele escolheu tem de vir aqui à taça tirar uma cerejinha, coloca-a entre os lábios e oferece-a ao outro, assim como se fosse um beijinho achocolatado.
– Espera lá, esse teu jogo tem uma falha.
– Não tem nada.
– Tem, tem.
– Qual é?
– Quem é que garante que a aposta estava certa ou errada?
– O próprio. O desafiado. A vítima.
– Mas a vítima pode mentir.
– É, concordo com a Madalena.
– Meninas, muito mais do que sobre beijos achocolatados, este jogo é sobre confiança. A confiança é a chave disto tudo. A confiança e a partilha.
– Então e sobre o quê podem ser as perguntas?
– Tudo! Desde as coisas mais insignificantes como um livro que tenhas lido, um local onde gostes de passar a tarde de domingo, até às mais privadas e íntimas e reveladoras.
– E é obrigatório responder?
– Se não for, não estamos preparados para jogar, não somos ainda suficientemente próximos. É obrigatório, mas é obrigatório porque cada um de nós aceita isso. Jogamos?
Elas olharam uma para a outra, depois para ele e responderam sorrindo e em uníssono:
– Jogamos!
E jogaram. e, assistindo nós ao jogo, ficámos sem saber onde acabava a sedução e começava o sexo. Sexo não houve. E sexo não deixou de haver. Tudo se passou com certa gradação. Começaram por desafiar-se com apostas fáceis e simples e pouco embaraçosas e talvez por isso as recompensas eram oferecidas sem volúpia. Um simples tocar de lábios, um passar de cereja, Ainda agora era minha, tua se fez. Já aqui se disse que tinham as cerejas licor e é sabido que o licor, mormente administrado em pequenas e persistentes doses, acaba sempre por ter seus efeitos. E teve. Libertou as línguas que começaram a perguntar mais desinibidamente o que as mentes queriam saber. E à medida que as perguntas ficavam mais complexas, mais profundas, e geravam maiores hesitações e inquietações, as respostas vinham mais sérias e pausadas e quando acontecia estarem corretas as apostas, a cereja do vencedor era entregue com maior cuidado, mais demoradamente, prenhe de volúpia. E o que era suposto ser um encosto de lábios, transformou-se numa carícia demorada e em pouco tempo em beijos molhados e ardentes. Todos se recompensaram. Recompensou Mark a Marcelle. Recompensou Marcelle a Madalena. Recompensou Madalena a Mark. Recompensou Marcelle a Mark. Recompensou Madalena a Marcelle. Recompensou Mark a Madalena. Arriscaram. Erraram. Acertaram. E sempre que acertaram foram recompensados de cerejas e chocolate e licor e lábios e língua. E nunca se negaram a uma aposta. Expuseram-se sempre. E, para o final do jogo, já quase não erravam nas apostas que faziam porque se ficaram a conhecer profundamente. Intimamente. E a noite envelheceu. E Mark, como quem sela uma união, foi buscar três copos e uma garrafa de champanhe. Abriu-a. Encheu os copos. Levantou o dele e disse:
– Ao inseparável grupo dos três emes!
Elas ergueram os copos em reflexo do gesto dele e repetiram a mesma frase. Estranha ironia. Inseparável, disseram eles. Separar-se-iam daí por minutos pois Mark e Marcelle rumariam a casa dela. Separar-se-iam daí por cinco dias pois Mark voltaria aos Estados Unidos e ao seu trabalho. Separar-se-iam daí por dois meses pois Marcelle aceitaria uma proposta de trabalho no Canadá. Partiria. Preferia isso a conviver partilhando Madalena com Pablo Sentido. E quererá a vida que se reúnam outra vez. Será à volta de uma fogueira. Em áfrica!

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