Não se assiste impunemente Ao sucumbir de uma alma. À chacina violenta de um espírito. Não se educa para a morte, E menos ainda para a subserviência. De resto, a morte é sempre preferível À subserviência. É uma questão de decência E ética pura, Não habituar as almas brevemente nascidas Ao peso ignaro da censura. Respeite-se quem quebra as regras. Respeite-se quem desrespeita. Respeite-se quem não se verga. Respeite-se quem corre o risco e espreita A paisagem proibida. E não lhe chamem futuro, senhores. A dignidade quere-se hoje. Hoje, é já tarde para a dignidade. É já tarde para ensinar a sonhar E ir mais além. Não sabe ensinar Quem pergunta e quer ouvir o que ensinou. Professor… professor a sério… Olha para trás e vê o aluno que se revoltou. Não vê a matéria… Vê a transformação. Quem ensina E quer que se aprenda Não sabe o número da lição. Não deu lição. A Educação não pode ser uma esmola. Tem de ser um foguetão que não existe, Um disparo de pistola Com uma palavra em riste. Uma conta errada. Todas as contas certas estão erradas. Tem de ser a aurora boreal num cálice de sonhos, Um poema letal antes das emboscadas. Uma alma livre vagueando Na madrugada de uma cidade adormecida. O segredo da juventude eterna. O resgate e a redenção da vida À porta de uma taberna Cheia de doutores com beatas sob os pés. Diz-me o que és E dir-te-ei quem não quero ser. Cadáver ambulante, Morto antes de morrer. Grita, berra alto, grita! Até que fiquem surdos Os detentores do saber E quem te dá conselhos E esfrega as mãos ao ver-te falecer. Era bom rapaz! Vês?! Antes nunca o tivesses sido. Antes tivesses parido Uma cesta de incómodos E sete armários de preocupações. Mete-te em confusões E faz tudo ao contrário Do que te pedem. Por baixo dos fatos cinzentos E das maquilhagens de marca Todos os corpos fedem. Fá-los pagar o preço Deste Mundo que te deixaram. Desobedece! E quando vierem à tua procura, Não fujas! Não sejas vítima! Ergue a cabeça e aparece. Ergue a voz e fala. Ordena e cala. Faz-te comandante Do único navio que vale a pena comandar, Da única viagem que vale a pena fazer, Da vida que vieste viver.
Se não percebeste isto, Já morreste E ninguém te veio dizer!
Não há maus alunos, nem alunos maus. Há jovens que ainda não encontraram o seu caminho e o seu lugar. E há jovens saudavelmente selvagens que recusam a formatação social e educativa que violentamente lhes queremos impor.
Onde não houver afeto significativo, não ocorrerá aprendizagem significativa.
De pouco importa saber o que é necessário saber para construir uma ponte sem que caia, se não soubermos, antes de mais, porque é que as pessoas querem atravessar pontes.
Há tantos aspetos com que me identifico. Na verdade, quase todos. Já propus tantas destas coisas em tantas instâncias diferentes. Quase sempre me dizem que ainda não é o tempo. Que ainda não estão reunidas as condições. Andamos a adiar o inadiável. Andamos a destruir gerações de criatividade e curiosidade.
Quão precisa está esta análise. Quão certeira!
Infelizmente, Ken Robinson deixou-nos em agosto de 2020. Vai fazer muita falta ao pensamento ocidental, e não só, sobre Educação.
Era de uma lucidez ímpar e de uma inteligência e sensibilidade inigualáveis.
E, ainda por cima, tinha o dom de dizer tudo de forma desassombrada e simples.
Crónicas de Maledicência Não havia Escola antes da Covid-19!
Não podemos querer tudo. Peço desculpa pela revelação abrupta e pela contundência das palavras, mas, efetivamente, não podemos querer tudo. Das duas uma, ou a Escola, considerando a evolução diacrónica, trabalhou bem, fez muito pela Humanidade e, naturalmente, temos de a melhorar, mas reconhecemos que houve um trajeto de muitos sucessos pelo que melhorá-la não é arrasar o que existe e refundá-la, ou a Escola fez tudo mal e temos de a refundar porque nada do que chegou até hoje representa um esforço positivo. Não podemos é ter tudo. Não podemos opinar dizendo que a escola fez tudo errado e depois reclamar responsabilidades na evolução da Humanidade. Também não podemos dizer que fez tudo certo e apontar falhas na evolução da espécie pensante.
Enfim, o mais prudente, penso, seria admitir que a Escola fez muito pela Humanidade, que muitos progressos se fizeram graças aos seus esforços, mas que, como qualquer organismo vivo, está em constante evolução e pode sempre melhorar.
Ultimamente, olho para esta Escola, vítima da Covid-19, e fico com a sensação de que não sabíamos nada, não sabíamos fazer nada antes da Covid, de facto, chego até a sentir que não fizemos mesmo nada. Tenho a sensação de que não sabíamos comunicar, de que não sabíamos registar o que fazíamos, tenho a sensação de que andámos a empatar as aprendizagens dos nossos alunos e o progresso da Humanidade. E sinto mais. Sinto que, não fora a pandemia ter-nos forçado a ser competentes e diligentes e assíduos e produtivos e teríamos ficado no marasmo improdutivo em que vivíamos antes desta abençoada pandemia que nos veio acordar da letargia e transformar-nos em excelentes trabalhadores, em excelentes professores.
Ora vejamos.
Antes do Moodle não fazíamos planificações nem produzíamos materiais para os alunos. Antes do Zoom não reuníamos uns com os outros nem falávamos sobre o nosso trabalho. Antes do Teams não trocávamos materiais nem fazíamos registo do nosso trabalho.
Antes dos mecanismos inerentes ao ensino a distância, a bem dizer, praticamente, não havia ensino. Deambulávamos, perdidos, pelos corredores das escolas forçando o tempo a passar e deixávamos os nossos alunos ao abandono, sem ensino de qualidade nem uma avaliação cabal e válida das suas competências. Efetivamente, foi preciso surgirem, como que por magia, estas ferramentas, da neblina espessa da pandemia para que começássemos a trabalhar à grande e a partir de casa e a quaisquer horas, mesmo doentes, mesmo infetados.
Sejamos claros. Em tempos de emergência e perigo, temos de nos adaptar e ser diferentes. Temos de dar mais, extraordinariamente mais, temos de fazer as coisas de forma diferente, mas não podemos cair na falácia autofágica de que nada prestava antes, nada se fazia antes, nada se media e controlava antes. De resto, deixem-me revelar-vos o seguinte: o que temos feito, enquanto docentes, em tempos de pandemia, é valiosíssimo, temos sabido dar a volta a um problema muito sério e difícil que é preservar um clima de aprendizagem nestas condições. Mas sejamos ainda mais claros: o que temos feito é incomparavelmente mais pobre do que o que fazíamos antes. Do ponto de vista pedagógico, a pandemia forçou-nos a regredir. Não há pedagogias de sucesso sem alunos na escola, há remendos. Não há pedagogia de sucesso sem o contacto pessoal, direto e humanizado entre alunos, professores, funcionários e toda a estrutura que permite e favorece as aprendizagens. Nós temos feito o possível e, por vezes, até o impossível, mas tudo isso é muito pouco comparado com uma Escola preparada para receber os seus alunos nas suas salas de aula a desenvolver os seus projetos de aprendizagem.
É urgente desligar os computadores e ligar as pessoas. É urgente desinstalar os Teams e os Zooms e os Moodles e ligar as salas de aula e os ginásios e os recreios e os olhos nos olhos e os dedos no ar e as perguntas quando não se percebe e o sentir da pessoa que o aluno é, ali, à nossa frente e não num monitor à distância da impossibilidade de o perceber.
Eu alinho muito pouco no discurso de que esta pandemia tem coisas boas e veio ensinar-nos coisas boas. Esta pandemia, no âmbito da educação, não tem nada de bom. Não trouxe nada de bom. Nem mesmo a tão propalada autonomia dos alunos. Nós nem sequer sabemos se foram eles que fizeram o que pedimos ou se, simplesmente, alguém fez por eles! Esta pandemia trouxe remendos, trouxe cortes e supressões, trouxe a ultrapassagem de etapas fundamentais da aprendizagem, trouxe desumanização, falta de contacto, roubou-nos a capacidade de avaliar progressões, evoluções, processos e produtos e trouxe produtos que tanto o podem ser como não.
Nunca, antes disto, deixámos de inovar, deixámos de ser criativos, deixámos de estudar, deixámos de produzir, deixámos de registar e de avaliar. Nunca. E, contudo, propaga-se, como uma praga pestilenta, esta ideia de que a pandemia nos veio ensinar a reinventar o ensino e a nós próprios. Temos sido dedicados e briosos, temos investido milhares de horas extra não reconhecidas, nuns casos, reconhecidas e valorizadas, noutros. Temos tentado fazer face a uma dificuldade global que decorre deste contexto pandémico, mas, em honestidade, temos de reconhecer que estamos muito aquém do que já fazíamos na Escola pré-pandémica. É que há aspetos inultrapassáveis e a natureza da Escola é um deles. Não sei se repararam, ao longo das últimas décadas, pelo menos desde a década de 70 do século passado, têm-se feito experiências sucessivas para reinventar a Escola e, contudo, a sua matriz emerge sempre das experiências como aquilo que restou, aquilo que permaneceu incólume ao nosso experimentalismo. E essa matriz é a matriz humanista de ensinar em presença fazendo com o outro, construindo com ele, ensinando pela palavra, pelo exemplo, pela orientação. É a matriz dos valores de cidadania. E, até que haja uma alternativa válida, esta Escola que temos construído olhos nos olhos é mesmo a melhor que existe.
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