Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Poesia

 

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Primeiro,
Pressente-se, ao longe,
Esfumada,
E não se percebe bem
O que lá vem.

Depois,
Cresce um pouco,
Um incómodo incerto,
Uma inquietação imprecisa.
Avança tímida e indecisa
E faz-se mais perto.

Agora,
É já uma visível preocupação,
Ou uma alegria exuberante,
Em todo o caso,
É inconfundível a excitação
E a inconstância constante.

Por fim,
Irrompe sob os dedos, em bailado,
A criação.
Um jogo de fúrias e medos em tornado.
E atropelam-se,
Galgam-se desejos e voracidades,
Procuram a frente e as verdades,
Anunciam batalhas, vitórias e perdições.

São só palavras
Desenhando emoções.
São só estas linhas imperfeitas.
São só esta coisa absurda
Que tenho no peito,
Este reduto último
De quem vive dilacerado e desfeito.

Cada palavra rasga-me a carne
E cada verso é escrito a sangue,
Cada estrofe é uma coisa que arde
E exala de meu cadáver exangue.

Palavras…
Arrancadas
À noite e ao dia.
Em minha mente
Torturadas…
Poesia.

jpv


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E havia tanto mar…

Não houve…
Não poderia ter havido.
Foi sempre um mar incerto,
Uma embarcação sem rumo
Nem sentido.

Não tem mais
Cavalos selvagens nos teus cabelos.
Não tem mais
Borboletas coloridas nos teus lábios.
Sucumbiste
Aos conselhos sábios
Da razão e da prudência.
Presente…
Só a ausência.

E havia tanto mar.
Havia tanto marinheiro.
Havia um homem por inteiro
E um desejo a saciar.
E agora
Há só este chão queimado,
Este deserto desolado
De ter-te.

Nem me viste.
Nem chegaste a ignorar-me.
Poeta sem poesia.
Modelo sem charme.
Músico sem notas.
Coração vazio
De onde brotas
Sem nunca
Teres entrado.
Só este terreno inóspito,
Este chão queimado.

Não houve…

João Paulo Videira


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Revolta

Muda o tempo,
Muda a gente,
Muda a palavra
E a promessa,
Muda o encanto,
Muda o olhar
E o mudar não cessa.
Muda a luz,
Muda a paisagem,
Muda o piloto
E o destino da viagem.
Muda a intenção,
Muda o imutável,
Muda a geração
E o destino favorável.
Muda o amor,
Muda o corpo
E a sensação.
Muda o sexo,
Muda a cama
E o frio do chão.
Muda o desespero,
Muda a fome
E muda a solidão.
Muda o suor,
Muda o sol
E muda o vento.
Só não muda
Esta revolta cá dentro.

João Paulo Videira


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Leve Passada

Não se ouvem teus passos,
De leves que tens as passadas.
Não abres as portas
Que não estão fechadas.
Chegas e és tu,
Tua presença sente-se
Na ausência de ti.
És leve e de leveza
Se faz teu encanto,
Teu princípio
E teu fim.
Teu corpo anuncia desejos,
Teu olhar não esconde tentações.
Trazes nos lábios promessas de beijos
E nas palavras sementes de paixões.
E não invades.
Não me invades.
Danças ao ritmo
De meu peito.
Tens um certo e estranho jeito
De prender-me
E de me libertar.
Ainda agora começaste
E já estás a acabar…
Passas leve,
De leves tens as passadas.

João Paulo Videira


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Hoje Estamos Muito… Multiculturais!

MPMI Muito MulticulturalHonestamente, não sei o que se passa. Sei que, ainda o dia é uma criança, e já leitores de ONZE nações diferentes nos visitaram!

O peso da responsabilidade que decorre desta procura tão díspar em termos culturais assusta um pouquinho… cá estaremos, contudo, para saudar todos com os nossos textos.

Bem-vindos!

jpv


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Crónicas de Maledicência – Conchita Wurst: A Diferença Incomoda

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Crónicas de Maledicência – Conchita Wurst: A Diferença Incomoda

Conchita Wurst é uma moça austríaca que ganhou, este fim-de-semana, o Festival Eurovisão da Canção. E vai daí toda a gente, e quando digo toda a gente, refiro-me ao mundo inteiro, começou a falar dela.

Até aqui, aparentemente, tudo bem. Só aparentemente. É que ninguém, desse toda a gente, resolveu falar da canção, da voz da cantora, do mérito, ou não da vitória. Nada disso. O mundo inteiro concentrou-se na barba de Conchita. E isso deixou-me triste. Triste, porque eu às vezes deixo crescer a barba e ninguém fala dela. Triste, porque expurgamos todo o tipo de diferença sempre com o pressuposto de que “isto não é nada comigo”. Triste pelo exacerbado e desrespeitoso exercício de preconceito. Os seres humanos são corrosivamente preconceituosos e exercem essa mesquinharia sem o mínimo de critério. Basta que seja diferente. E, se for diferente, incomoda. Muitos, não sabem nada da moça. Viram uma foto, leram ou ouviram alguém a dizer mal e vai de fazer eco do preconceito.

Esteticamente, eu não gosto da opção. Acontece que isso não me dá o direito de ser desrespeitoso nem insultuoso. Eu próprio tenho diferenças e quero que as respeitem. Acho, por isso, que um bom caminho para respeitarem as minhas é respeitar as dos outros. Logo, podemos manifestar o nosso gosto por uma opção estética ou dizer que não gostamos. Destruir, por princípio, é preconceito primário.

De resto, quem somos nós, humanos, para criticar a diferença. Uma mulher de barba? Era o que faltava que isso fosse o mais incomum que vimos até hoje. Se vivemos com homens de longa cabeleira loira, se vivemos com negros de cabelo oxigenado, se vivemos com mulheres de cabeça rapada, e outras de cabeça tapada, se vivemos com homens e mulheres tatuados, com brincos, piercings por todo o corpo incluindo onde o prazer acaba e a vida começa, furos nas orelhas, no nariz, as roupas mais extraordinárias que se pode imaginar, unhas pintadas, caras maquilhadas, se convivemos com pessoas que usam brilhantes nos dentes e anéis nos dedos, se convivemos com pessoas que não usam nada disto e optam por uma gravata a sufocar o pescoço e um fato cinzento num dia de Verão, porque raio nos há de incomodar a barba da Conchita? Enquanto humanos, não temos autoridade moral para criticar a diferença pois é, ela mesma, um dos nossos principais traços comportamentais.

Enfim, criticar, criticar, só me apetece criticar o nome, Conchita. Sei lá, Conchita faz-me lembrar espanholas, touradas na Andaluzia, Malaguenhas com vestidos de roda às bolas vermelhas, castanholas e olés. A Conchita merecia um nome mais helénico. Digo eu.

Já quanto à canção, deixem-me dizer-vos que gostei bastante, tem um crescendo melódico muito bonito e a Conchita tem um vozeirão de fazer inveja. Olha, fazer inveja, será que… Enfim, para os Amigos e Leitores de MPMI poderem avaliar convenientemente, aqui ficam a canção e uma entrevista com a mais recente vencedora do Festival Eurovisão da Canção.

TenhoDito!
jpv


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Um Átomo de Esperança

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Um Átomo de Esperança

Tudo é desencanto.
Tudo morre e fenece.
Tudo se perde
Por entre as palavras de uma prece.
Nada do que deixou de ser
Será alguma vez.
Mesmo quando se tira o luto,
Permanece a viuvez.

Tudo se esvai.
Tudo escapa às mãos
Por entre os dedos.
Jazem frios e podres
Os espíritos mais ledos.

As palavras persistem
Resistem ao tempo e à sorte.
Mas, como tudo o resto,
Adormecem nos braços da morte.

Resta uma ténue luz.
Um átomo de esperança
Na curva de um corpo que seduz,
Numa mão…
Que outra mão alcança.
A luz que resgata a Humanidade
Quando ganha força e folgor
Liberta para a eternidade
Quem persegue um grande amor!

jpv


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Benfica Campeão 2013/2014



É hora de festejar mais um Glorioso título do SLB!

SLB, SLB, SLB, SLB, Gloriooooso, SLB, Gloriooso SLB!



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Dedicatória

Para a minha Mana. 
Só ela sabe porquê!


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Sexta-Feira em Moçambique

Como Anima a Marrabenta – Neyma