
Não há resoluções de ano novo. Esperanças ténues, talvez. Dessas que nos entusiasmam devagarinho, como quem desconfia. Publicar outro romance… terminar mais um… amar sem restrições e comer com elas enquanto me lembrar de que sou mortal.
Não quero muito, não peço muito. Tudo basta-me. Estou cada vez mais convencido de que sem mim não existe mundo, nem céu, nem terra, nem mar, nem livros a folhear, nem golos no último minuto, nem corpos a desbravar, nem conversas a incendiar. E não é um pensamento egotista, assim como quem se arroga a dar sentido à existência das coisas. É mesmo a simples e humilde constatação de que a minha existência dá vida ao cosmos… para mim! Mais do que isto é ir pelas certezas divinas e transmateriais da alma em espaços paralelos. Creio em Deus Todo-o-Poderoso? Claro. E pratico. Mas até Deus morre para mim no momento em que partir. Ou ficar.
Não há resoluções de ano novo. Exceto uma. Ainda mais escrita de caneta a roçar no papel, quase a rasgá-lo de emoção e cafés quentes na mão e cada vez menos digital. Cá virei para vos mostrar o que nasceu do namoro entre a caneta e o papel. Mas não me peçam “Gostos” e “Adoros” e polémicas acesas acerca de coisa nenhuma. Não é nada convosco. Sois espetaculares. Tendes uma paciência de santo… É só que preciso de mim um poucochinho mais… e estou cansado… preciso de menos urgências e mais paciências. Menos causas e mais atos. Preciso reunir-me e reencontrar-me. E publicar um romance e terminar o outro.
E depois… depois tenho um filho a ser homem e vê-lo crescer dá muito trabalho e leva muito tempo. Um neto é que era. Mas, para resolução de ano novo, falta-me em capacidade do que quer que seja o que me sobra em ânsias e desejos… um neto é que era… O miúdo voou. Foi ter vida e fazer coisas e conquistar mundos e amar e desamar e… eu, que lhe dei as asas, fico aqui, perdido, com pena de o ver voar. E nem sei porquê. Porque me faz falta. Sempre fez…
A minha mãe… a minha mãe que, sem saber se poderia cumprir a promessa, um dia me prometeu que não me deixaria ir à tropa, é que tinha razão. A dizer-me que eu daria as suas passadas e sofreria de dores como as suas.
E pronto, fica prometido. Mais caneta e odor a papel. Menos digital. E quanto ao resto, seja o que Deus quiser!
Bom ano, amigos!
João Paulo Videira








