Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


Deixe um comentário

Multiculturalidade

Mails para a minha Irmã tem muito, e cada vez mais, orgulho nos seus leitores, na sua multiculturalidade.

Este quadro reflete a localização de quem leu MPMI num dia desta semana.

Obrigado, Amigos e Leitores.

jpv


2 comentários

Se…

Se soubesses, meu amor,
O quanto gosto de ti.
Se ao menos conseguisses imaginar
Todos os peixinhos que há no mar,
Nesse oceano sem fim,
E quantas estrelas há no céu…
Saberias uma centelha
Das razões por que sou teu.

jpv


Deixe um comentário

A Tatuagem do Caminhante

Uma voz interior
Acorda um clamor
Dentro do peito exangue.
Uma ave corta o céu
No azul que brilha sobre a mão.
Informes, as nuvens
Desenham futuros em vão.

É uma planície
E é um terreno acidentado
E montanhoso.
É um jovem fogoso
E um velho decrépito a morrer.
E não sabe o velho porque não viveu,
Não sabe o jovem porque não vai viver.
É uma dúvida nua
Cravada no pensamento.
E ter o tempo todo
E gastá-lo como se não houvera mais tempo.
É uma coisa indizível
Sem palavras para a desenhar.
E é outra coisa, igualmente perecível,
Com todos os verbos no lugar.
É um rebentamento devastador
E uma música dolente
No horizonte distante.
É um homem-estátua
Rindo-se do caminhante.

A voz é agora um grito
E o pássaro livre procura, aflito,
Onde emudecer sossegado.
É uma estrada de terra vermelha
Tomando conta do chão macadamizado.
E o caminhante passa descalço,
Pés rasgados a arder,
Continua a rir-se o homem-estátua,
Inerte e imutável, sem Saber
E sem ignorância também.
Ri-se com desdém do desdém
Do olhar azul e altivo
Do caminhante só e cativo
De si e do Conhecimento.

Calou-se a voz interior.
Desfez-se o terreno acidentado.
Morreu o jovem ignaro
E foi a sepultar o velho abandonado.
Não há, já, dúvida,
Nem palavras para a vestir.
Não há música,
Nem homem-estátua a rir.
Só a estrada,
Um cavalo alado que dança,
O asfalto fervente,
A imensidão do vazio
E a linha magra e infinita
Na frente do caminhante
Que sorri de esperança.

jpv


Deixe um comentário

De Rerum Natura

Rosa do Deserto denominada “Bárbara Dias”

Não é…

Este texto não é sobre a Covid-19. É sobre coisas realmente importantes. Não são urgentes. São importantes. Não são mediáticas nem vão vender jornais ou fazer subir audiências. São só importantes. E o que é importante, hoje, tem muito pouca importância.

Não é porque não reajo que não vejo o que fazeis ao meu redor. Como vos reunis à volta da minha carne e farejais o sangue. Eu vejo. Não reagir é uma opção consciente e calculada. É um gesto de preservação da minha serenidade e da minha paz. Só depende de mim. Oiço música tranquila, neste momento em que escrevo à brisa de uma sombra fresca. E ninguém, nem nada, me tira isso. Não estou interessado em mais nada. Só na brisa e na frescura da sombra.

Não é porque não me insurjo que não percebo a injustiça e a ignomínia. Como conjurais com base em argumentos falaciosos construídos com conhecimento quase nulo de coisa nenhuma. Eu percebo. Mas não sinto. Não sentir é uma opção consciente e calculada. Nada do que digais ou façais tem o poder de, sequer, bater-me à porta da consciência tranquila em que me cerro e encerro.

Não é porque não veja o afastamento delicado e maquinado que não o denuncio. Eu vejo bem todo o direito e todo o avesso conjurado da trama. Sei por onde passa, para onde vai e que objetivos tem. Não denunciar é uma opção consciente e calculada. Porque, ao contrário de vós, eu já sou feliz e não careço da conjura para realizar-me e ser o que já sou. Porque a minha paz não se alimenta dessa matéria pútrida e fétida que alimenta a vossa existência. Por vezes, é melhor não existir do que cheirar mal. É melhor deixar correr os rios de lama do que cais na inglória e vã intenção de pôr-lhes diques. A lama corre sempre.

Aqui, onde me encontro, chegam sons da Natureza e dos Homens e a brisa e a sombra fresca e afetos simples e caseiros. Aqui, chega o tempo de ter tempo, chega a paz da contemplação e nada abaixo disso trepa os muros que lhe coloquei à volta. Neste Olimpo de serenidade, a conjura não tem como formar-se, crescer e subir porque é de outro universo. Um universo que não se cruza com este. Correm realmente paralelos.

Ainda há pouco aqui veio Deus perguntar-me o que mais queria para ser feliz, quem queria que resgatasse ou condenasse, um desejo só, que falasse e concretizar-se-ia. Vai pelos outros e dá-lhes do meu viver, disse-Lhe. E Deus foi, amuado e com um sorriso semi-desenhado na face imprecisa. Foi educado. Pediu desculpa por interromper. Eu fiz-Lhe um aceno desajeitado e reconfinei-me à minha efémera, perecível e doce felicidade. A felicidade de quem assoma à proa da vida e conduz o Destino de forma consciente e calculada. Esse nauta vê a borrasca no horizonte e vê-a aproximar-se e passa por ela e recupera o sol na pele e o céu limpo a fundir-se com o mar no olhar. Não se debate com a ondulação enfurecida. Navega-a, impassível e imperturbável. Sem hesitação nem temor. É que o nauta tem um segredo. Sabe onde fica o porto seguro. E tem uma bússola no coração. E tem um sextante na alma.

Não é porque não vejo a rebentação feroz das ondas na tempestade que não me debato com elas. Não debater-me com elas é uma opção consciente e calculada.

jpv


2 comentários

Segunda Pessoa do Singular

Uma volta
Circular e simbólica.
Uma doença
Persistente e diabólica.
Uma mudança
Surpreendente e brutal.
Uma paixão
Arrebatadora e total.
Outra volta,
Oculta e interior.
Um caminho
De harmonia e amor.
Outra doença,
Cruel e visceral.
Outra paixão,
Terna e pueril.
Um olhar a cem,
Um coração a mil.
Outra volta ainda
Em torno da decisão
Porque a roda não finda
E não pára o coração.
Um ano,
E outro ano também.
Um tempo de não ser ninguém,
Outro tempo de renascer alguém.
Uma palavra ecoa
No espaço límpido e nu
E a palavra és tu.

jpv


Deixe um comentário

53! [04/10/67]

Já está!