Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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“A Vida Delas Importa”

Hoje, um aluno de há muitos, muitos anos, publicou um texto que considero oportuno, incisivo e de uma grande lucidez.
O aluno, o Ricardo Rodrigues, menciona-me no seu texto. Não senti orgulho. Ou melhor, senti, mas não foi isso o mais importante.

O que realmente senti foi a responsabilidade do que é ser educador e professor. Nas outras profissões, dão-se respostas imediatas com resultados imediatamente observáveis. Na docência, nada é imediato, mas tudo é estrutural e fundamental.
Naturalmente, este antigo aluno era já, por contexto familiar e dotação pessoal, um jovem com valores e princípios muito bons, contudo, foi o professor, naquele momento, que moldou um traço do pensamento. Algo quer viria a ser importante na construção do pensamento futuro. Os professores fazem isso, moldam o pensamento e constroem a massa crítica das sociedades.

É nestas situações que se vê claramente a relevância de uma profissão muito sacrificada, muito maltratada e muito desvalorizada na nossa sociedade.

O texto do Ricardo Rodrigues vale muito a pena ser lido. Por isso mesmo deixo aqui a ligação!

jpv

Leia o texto do Ricardo aqui:
https://saudeefraternidade.blogs.sapo.pt/a-vida-delas-importa-12841


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Sapatilhas

Na dádiva
E na entrega
Uma súplica
E uma prece.
Uma mão estendida
E um cuidar
Quando tudo acontece.
Fortes e determinadas
São as passadas
Do desejo.
Vai já vencida
A tormenta.
É a luz que penetra,
A sombra que se ausenta.
E sobra um gesto,
Um encantamento,
Talvez ilusão.
Um sopro de vida,
Um grito mudo
No silêncio
E na solidão.
Toma, oferece.
Aceito, recebe.
Na generosidade
Da oferta,
O egoísmo
Da salvação.
Ergue-se,
Poderoso e invencível,
O Senhor da submissão.

jpv


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Canção do Peito Exangue

Na tormenta.
Na dor.
No corpo que se ausenta.
No sussurro de outro amor.
No mar alto e encapelado.
No vislumbre do futuro,
A sombra do passado.
Nas mãos que tocam
E acariciam.
No corpo que se contorce.
Na investida.
E nos silêncios que se anunciam.
Na espera.
No tempo vácuo.
Na imagem projetada,
Uma alma suja
Na alma lavada.
No ritmo sufocado
Do desespero.
Na noite que se perde
E se esvai,
Um coração arde
E um muro cai.

No tempo da súplica.
No tempo da exigência.
No momento de recuar
E enfrentar a sorte,
O peito pressente a morte
E teme sobreviver.
Contra o que está feito,
Nada há que se possa fazer.

Já foste e já vieste.
Já reclamaste
E já deste.
Já tudo foi experimentado.
Na noite, a solidão.
E o peito sangra,
Exangue e cansado,
Os versos desta canção.

Na tormenta.
Na dor.
No corpo que se ausenta,
Talvez… o Amor.

jpv


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Eclipse

Houve um tenebroso eclipse de amar
E a criança na cama a chorar.
Houve uma morte funesta que aconteceu
E a criança soluçando na noite de breu.
E houve demónios à solta e em conjuração
E a criança deitada na cama sem chão.
E houve um anjo ignaro e bruto
E a criança banhada em lágrimas de luto.
E veio o verbo e a revelação final
E a criança ressente a dor original.

Sem Cristo, nem Deus, nem profecia
A criança venceu a noite e vislumbra o dia.
Nasceu então aquele sol revelador que cega
E no peito da criança a tempestade sossega.
Um abraço, Um sussurro, uma surda e longa promessa de amor
E no peito da criança desfaz-se o eclipse de dor.

jpv