MPMI deseja a todos os amigos, leitores e familiares um fantástico ano de 2015!
Monthly Archives: Dezembro 2014
Gritos – O Silêncio
O silêncio não é de ouro.
É uma mordaça.
E o que guarda o verdadeiro tesouro
São as palavras na boca da moça que passa.
Não te cales, grita!
Não cedas, ocupa!
Ergue a voz e o braço,
Dá um passo e luta!
Não cales, nunca, a palavra.
Não recolhas, nunca, o ato.
O texto é um arado que lavra.
Não dês espaço à ignorância,
Zurze e castiga os néscios.
Confina-os ao redil
Da sua própria imbecilidade.
Pisa e esmaga
A palavra assim proferida.
Ganha terreno ao silêncio
E, pelo verbo,
Conquista a vida.
jpv/dezembro 2014
Gritos – O Mandato
Gritos – O Abjeto
Gritos – A Carga
Trago arrependimentos
No porão da minha existência.
Trago desilusões arrancadas
À minha essência.
Trago insultos por cuspir.
Trago palavras de não deixar mentir
A mentira.
E trago esta pobre e desgastada lira
Por arma e companheira.
Trago palavras por dizer
E corpos por amar
E outros amados em pecado.
Trago a raiva no peito
E um murro na mesa
Solitário e adiado.
Já só resta o eco.
Trago pudores enjeitados,
Coisas que não são de mim,
Trago dias de não me conhecer,
Caminhos vedados sem preço,
Ilusões… sem fim.
E arrasto tudo isto,
Todo este peso,
Toda esta lama
E este sangue
Que me turva a vista
E barra o caminho.
Trago este fardo sozinho
E não sei quem sou.
jpv/dezembro 2014
Gritos – O Sentido
Jogar pelo seguro
É uma merda.
A vida não se prende
Nem se herda
Nem se entrega
Para viver.
Suga-se.
Usa-se.
Gasta-se em cada palavra irrefletida
E em cada gesto inesperado.
Tudo o resto é mentira.
Adiar inevitável do fim.
Na vida,
Há só uma e única maravilha,
A consciência de que cada instante
Tem de ser vivido
Em êxtase
E frenesim.
Qualquer plano
É um plano a mais.
O único caminho
É atravessar os pinhais,
Voar os céus,
Mergulhar no mar bem fundo
E acordar do outro lado do mundo
Com um par de botas gastas,
Um pouco de nada na algibeira
E a consciência intacta
E inteira
De não ter prometido nada,
De não ter cumprido nada,
De não ter falhado nada.
De ter vivido tudo.
Não querer, não ter,
Não possuir.
Viver cada dia
Com o sentido único
De usufruir.
E tu, alma errante e indecisa,
Não te arrependas do que deixaste por fazer.
Não havia nada para fazer!
A segurança é uma prisão,
Uma alma agrilhoada.
Um velho decrépito
Que acumulou tudo
E agora não tem nada.
Preserva um olhar,
Um momento contemplando o horizonte,
Guarda um abraço,
Um sol por cima do monte,
E o recorte dos sobreiros.
E guarda um beijo
Desenhado em lábios de desejo.
E um corpo oferecido e nu.
Guarda para ti, sempre,
O único e irrepetível sentido
De seres tu!
jpv/dezembro 2014
Da Escrita
Os Votos de MPMI para Esta Quadra Natalícia
Feita a jornada de trabalho e a viagem que ligou Maputo a Joburg, feito o caminho aéreo e incerto que nos retrouxe a casa na velhinha e charmosa Europa com muitas peripécias pelo meio, até um avião avariado, o que vale é que eu saí do avião e vim cá fora dar um empurrão, foi tempo de reencontros e novas aventuras e até novas pessoas nas nossas vidas.
E porque tudo isto são milagres de vida, o mano e a mana deste blogue vêm desejar a todos os leitores, amigos e familiares, uma Natal repleto de harmonia, de alegria, de doces, de música, de amor, de família… e um novo ano a superar todas as expectativas!
FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO!
jpv
Modo de Voo
Longe.
Distante.
Dias e horas me separam
Desse abraço que anseio.
Queria já o momento
Saltando o que fica pelo meio.
Sem tecnologias,
Nem crédito, nem saldo,
Nem luz que anuncia
Ilusória presença.
Só tu e eu
E a deliciosa sentença
De um abraço,
Queimando o tempo
Suprimindo o espaço.
Falta ainda o asfalto
Cá em baixo,
E aquele outro lá no alto,
Impreciso e etéreo trilho,
Que começa no meu peito
E termina junto a ti, filho!
jpv
A Paixão de Madalena – Capítulos 33, 34 e 35 (Excertos)

Esta publicação apresenta excertos dos capítulos 33, 34 e 35 do Romance “A Paixão de Madalena” que publicaremos em breve. Estes são os três últimos capítulos do livro. Até breve.
A PAIXÃO DE MADALENA
LIVRO V – FIAT LUX
33. Patrocínio Paixão fora sempre uma alma boa e na sua mente os factos, os problemas e as situações eram processados um de cada vez na sequência que entendesse ser a mais lógica. E assim se percebe que, quando fez amor com Maria de Jesus, estava só amando a mulher da sua vida, não estava traindo seu irmão porque não seria capaz dessa maldade. E por isso quis conversar com ele depois, e por isso sofreu a sua violência sem queixar-se e depois o seu desdém e a sua distância. Patrocínio Paixão acredita que todas as pessoas são boas, em particular, Manuel Paixão que lhe ensinou a ir aos ninhos, a armar costilos, a pescar à bóia e ao fundo, a andar de bicicleta e de mota e, indo mais longe no tempo, lembra-se, até, de ter sido ele quem lhe ensinou a dar um laço nos atacadores.
34. Mariana e Jacob não nasceram irmãos, mas foram criados como irmãos, foram amados como irmãos e cresceram como irmãos. Não se estranhou, por isso, que, quando veio a ser mãe, Mariana tivesse escolhido Jacob para padrinho de batismo da bebé a que chamara Dulce Felício. O apelido era do pai e o nome fora escolhido porque aprendera na escola que Dulce vinha do latim e queria dizer doce. Ora, Mariana queria a filha com a doçura de caráter do irmão, Jacob, agora seu padrinho.
35. É isto um jardim. Ouve-se o zumbido das cigarras sob o calor de julho e a água correndo em carreiros por entre as árvores que dão a sombra onde ela se senta. Criara o hábito de contar-lhe histórias no jardim. Fadas, princesas, príncipes a cavalo, reis autoritários e o amor que tudo vence. Há pouco, a doce menina, Dulce chamada, chegou-se ao pé dela e pediu:
– Vovó, contas-me uma história?
– Claro, minha querida. Pequena ou grande?
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[O presente texto constitui um excerto dos Capítulos 33, 34 e 35 de “A Paixão de Madalena” a publicar em breve em livro. Boas leituras!]



