Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Feliz Ano Novo

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MPMI deseja a todos os amigos, leitores e familiares um fantástico ano de 2015!


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Gritos – O Silêncio

2014-12-28 23.54.13

O silêncio não é de ouro.

É uma mordaça.

E o que guarda o verdadeiro tesouro

São as palavras na boca da moça que passa.

Não te cales, grita!

Não cedas, ocupa!

Ergue a voz e o braço,

Dá um passo e luta!

Não cales, nunca, a palavra.

Não recolhas, nunca, o ato.

O texto é um arado que lavra.

Não dês espaço à ignorância,

Zurze e castiga os néscios.

Confina-os ao redil

Da sua própria imbecilidade.

Pisa e esmaga

A palavra assim proferida.

Ganha terreno ao silêncio

E, pelo verbo,

Conquista a vida.

jpv/dezembro 2014


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Gritos – O Mandato

2014-12-28 23.54.13

Hoje, não sou cordato.

Sou o decreto e o mandato

Do caos e da desordem.

Hoje, tenho unhas que ferem

E dentes que mordem.

jpv/dezembro 2014


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Gritos – O Abjeto

2014-12-28 23.54.13

O abjeto entrou em mim,

Corroeu-me

E transformou-me.

O abjeto não sou eu,

Mas matou-me.

Uma palavra.

Um engano.

Uma ilusão.

O abjeto teve cirúrgica e precisa mão.

jpv/dezembro 2014


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Gritos – A Carga

2014-12-28 23.54.13

Trago arrependimentos

No porão da minha existência.

Trago desilusões arrancadas

À minha essência.

Trago insultos por cuspir.

Trago palavras de não deixar mentir

A mentira.

E trago esta pobre e desgastada lira

Por arma e companheira.

Trago palavras por dizer

E corpos por amar

E outros amados em pecado.

Trago a raiva no peito

E um murro na mesa

Solitário e adiado.

Já só resta o eco.

Trago pudores enjeitados,

Coisas que não são de mim,

Trago dias de não me conhecer,

Caminhos vedados sem preço,

Ilusões… sem fim.

E arrasto tudo isto,

Todo este peso,

Toda esta lama

E este sangue

Que me turva a vista

E barra o caminho.

Trago este fardo sozinho

E não sei quem sou.

jpv/dezembro 2014


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Gritos – O Sentido

2014-12-28 23.54.13

Jogar pelo seguro

É uma merda.

A vida não se prende

Nem se herda

Nem se entrega

Para viver.

Suga-se.

Usa-se.

Gasta-se em cada palavra irrefletida

E em cada gesto inesperado.

Tudo o resto é mentira.

Adiar inevitável do fim.

Na vida,

Há só uma e única maravilha,

A consciência de que cada instante

Tem de ser vivido

Em êxtase

E frenesim.

Qualquer plano

É um plano a mais.

O único caminho

É atravessar os pinhais,

Voar os céus,

Mergulhar no mar bem fundo

E acordar do outro lado do mundo

Com um par de botas gastas,

Um pouco de nada na algibeira

E a consciência intacta

E inteira

De não ter prometido nada,

De não ter cumprido nada,

De não ter falhado nada.

De ter vivido tudo.

Não querer, não ter,

Não possuir.

Viver cada dia

Com o sentido único

De usufruir.

E tu, alma errante e indecisa,

Não te arrependas do que deixaste  por fazer.

Não havia nada para fazer!

A segurança é uma prisão,

Uma alma agrilhoada.

Um velho decrépito

Que acumulou tudo

E agora não tem nada.

Preserva um olhar,

Um momento contemplando o horizonte,

Guarda um abraço,

Um sol por cima do monte,

E o recorte dos sobreiros.

E guarda um beijo

Desenhado em lábios de desejo.

E um corpo oferecido e nu.

Guarda para ti, sempre,

O único e irrepetível sentido

De seres tu!

jpv/dezembro 2014


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Da Escrita

2014-12-27 09.19.16


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Os Votos de MPMI para Esta Quadra Natalícia

mano-e-manaFeita a jornada de trabalho e a viagem que ligou Maputo a Joburg, feito o caminho aéreo e incerto que nos retrouxe a casa na velhinha e charmosa Europa com muitas peripécias pelo meio, até um avião avariado, o que vale é que eu saí do avião e vim cá fora dar um empurrão, foi tempo de reencontros e novas aventuras e até novas pessoas nas nossas vidas.

E porque tudo isto são milagres de vida, o mano e a mana deste blogue vêm desejar a todos os leitores, amigos e familiares, uma Natal repleto de harmonia, de alegria, de doces, de música, de amor, de família… e um novo ano a superar todas as expectativas!

FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO!

jpv


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Modo de Voo

voo

Longe.
Distante.
Dias e horas me separam
Desse abraço que anseio.
Queria já o momento
Saltando o que fica pelo meio.

Sem tecnologias,
Nem crédito, nem saldo,
Nem luz que anuncia
Ilusória presença.
Só tu e eu
E a deliciosa sentença
De um abraço,
Queimando o tempo
Suprimindo o espaço.

Falta ainda o asfalto
Cá em baixo,
E aquele outro lá no alto,
Impreciso e etéreo trilho,
Que começa no meu peito
E termina junto a ti, filho!

jpv


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A Paixão de Madalena – Capítulos 33, 34 e 35 (Excertos)

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Esta publicação apresenta excertos dos capítulos 33, 34 e 35 do Romance “A Paixão de Madalena” que publicaremos em breve. Estes são os três últimos capítulos do livro. Até breve.

A PAIXÃO DE MADALENA
LIVRO V – FIAT LUX

33. Patrocínio Paixão fora sempre uma alma boa e na sua mente os factos, os problemas e as situações eram processados um de cada vez na sequência que entendesse ser a mais lógica. E assim se percebe que, quando fez amor com Maria de Jesus, estava só amando a mulher da sua vida, não estava traindo seu irmão porque não seria capaz dessa maldade. E por isso quis conversar com ele depois, e por isso sofreu a sua violência sem queixar-se e depois o seu desdém e a sua distância. Patrocínio Paixão acredita que todas as pessoas são boas, em particular, Manuel Paixão que lhe ensinou a ir aos ninhos, a armar costilos, a pescar à bóia e ao fundo, a andar de bicicleta e de mota e, indo mais longe no tempo, lembra-se, até, de ter sido ele quem lhe ensinou a dar um laço nos atacadores.

34. Mariana e Jacob não nasceram irmãos, mas foram criados como irmãos, foram amados como irmãos e cresceram como irmãos. Não se estranhou, por isso, que, quando veio a ser mãe, Mariana tivesse escolhido Jacob para padrinho de batismo da bebé a que chamara Dulce Felício. O apelido era do pai e o nome fora escolhido porque aprendera na escola que Dulce vinha do latim e queria dizer doce. Ora, Mariana queria a filha com a doçura de caráter do irmão, Jacob, agora seu padrinho.

35. É isto um jardim. Ouve-se o zumbido das cigarras sob o calor de julho e a água correndo em carreiros por entre as árvores que dão a sombra onde ela se senta. Criara o hábito de contar-lhe histórias no jardim. Fadas, princesas, príncipes a cavalo, reis autoritários e o amor que tudo vence. Há pouco, a doce menina, Dulce chamada, chegou-se ao pé dela e pediu:

– Vovó, contas-me uma história?
– Claro, minha querida. Pequena ou grande?

———————————- jpv ———————————-
[O presente texto constitui um excerto dos Capítulos 33, 34 e 35 de “A Paixão de Madalena” a publicar em breve em livro. Boas leituras!]