
Não há mais palavras
Nem vontade,
Nem desejo.
Há só a calma aceitação
Do que sinto
E do que vejo.
Era tão bom
Quando ainda me importava.
Quando havia luxúria no meu corpo.
Quando a energia me arrepiava as carnes
E o cheiro do teu corpo
Bloqueava os outros sentidos.
E o sentido era único.
Já não quero a eternidade.
Não me diz nada o tempo todo.
Tinha uma só vida…
E adiei-a.
Tinha uma só voz
E poupei-a.
Tinha um só corpo
E preservei-o.
E nada me resta mais
Que a condição miserável
De morrer conservado
E saudável.
Bebam o álcool todo!
Fumem todo o tabaco!
A vida é um barco
E não há terra.
Deleitem-se com todos os corpos,
Possuam todos os sexos!
E caminhem nus pela praia da vida
Na aurora de cada dia.
Nada mais existe do que o momento.
Cada momento
É todo o tempo
Que temos.
Cada dia é a hora de ser vivido.
Amanhã é tempo perdido.
E quando olhardes para trás,
Contemplai
Um lastro de vida vivida,
Um rasto de experiência
E desperdício.
Os verdadeiros despojos
Do exercício
De sentir-se único e vivo.
E pagai para ver!
Correi todos os riscos!
Só no limiar do azar
Abunda a sorte.
A vida inteira e única
Só se conhece nas fronteiras da morte.
jpv