Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Lá Longe

amor

Lá longe.
Lá, onde o olhar não chega,
Do outro lado do Mundo,
Há um peito
Onde habita meu coração
A bater profundo.

Lá longe.
Lá, onde os rios correm ao contrário,
Bate a descompasso
E sem horário
Um relógio de amar.

Lá longe.
Lá, onde estou, mas não chego,
Aguarda-me esse inigualável sossego
De teus braços a abraçar.

Lá longe.
Lá, nessas ruas desertas de mim,
Onde deambulam teus passos, assim
Como quem me inaugura o desejo…
Lá, onde estou e te não vejo,
Mas te amo com devoção.

Lá longe.
Lá, onde me falta o chão
E me sobra o caminho.
Lá, onde piso devagarinho
E me aproximo sem chegar
A esse apetecível altar
De rezas e súplicas imploradas.
Lá, onde está teu ser
E meu ser desejava estar
Ao cair da noite
E nas auroras anunciadas.

Lá longe…

jpv


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Bíblia

casal2

As tuas palavras
Anunciam desejos.
Os teus lábios
Prometem beijos.
As tuas mãos
Semeiam carícias.
As tuas ancas
Conjuram delícias.

Se não for o anúncio falso
E a promessa vã,
Se não for a sementeira estéril
E a conjuração improcedente,
Nascerá uma nova manhã
De odores citrinos e inaugurais.
Manhã ímpar e fresca
De gestos simples e fundamentais.

Um mundo renovado
E uma nova religião,
O credo do pastor amado
E a prece da paixão.
Reescrevo versículos
Com a cabeça abandonada
Em tuas nádegas desnudas.
Se soubesses
O quanto mudas
Só por estar aqui.
Tenho uma nova Bíblia,
Repleta de orações,
Que nasceu em ti.
E esse livro,
Sagrado e controverso,
Desenha um ato de amor
Em cada singelo verso.

jpv


2 comentários

Se me deixasses

semedeixasses

O toque suave
Da tua face
Poderia resolver
Este doloroso impasse
Que é desejar-te
E não te ter.
Bastava que me deixasses morrer
Em teus braços,
Após os longos e exalados cansaços,
Que vêm depois
Do que foi antes.

O odor adocicado
Do teu pescoço,
Quando encosto nele
Meus lábios sedentos,
Deveria ser rastilho
Para inusitados momentos
De luxúria ofegante.
Bastava que me deixasses viver
Em teus seios generosos,
Me desses de beber em tuas fontes,
Subir teus montes
E descer a teus vales frondosos.

E, quando me seguras a mão,
Dá-se um milagre,
Faz-se uma conexão
Entre a tua pele que me convida
E o meu desejo que te deseja.
E essa mão singela,
Inocente e dada,
Impele-me
A reação despudorada
E tentações a acontecer.
Se ao menos me deixasses ser,
Por um bocadinho que fosse,
O teu pecado de prazer…
Nasceria outro homem
Em mim.
E esse homem, sim,
Valeria a pena viver.

jpv


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Príncipe

tree

Ainda agora
Se não via,
Em teu rosto,
O mais insuspeito
Traço de alegria.
Ainda agora,
Há uns momentos atrás,
Diria que te faltava toda a paz.
Negro e dorido,
Teu coração,
Sem horizonte
Nem solução.
Ainda agora,
Há poucochinho,
Diria que choravas
Por dentro,
Vítima de violento
E incontrolado sentimento.

Mas ele chegou.
Talvez fosse um príncipe,
Mas não parecia um príncipe.
E teu rosto se iluminou.
Passo desacertado,
Chinelo no dedo,
Mal segurado.
A barba desalinhada,
A camisa branca aberta
E desengomada,
A alma deserta
De tudo,
Menos de ti,
Como querias.

Pensei que sabias,
Eu desejei, em tempos,
Ser ele.
E outra, que não conheces,
Eras tu.
Já não tenho
Esse desejo cru
E genuíno.
Hoje, contento-me
Com a tua luz,
Como o menino
Que vê brincar os outros
E fica feliz.

Não és ela.
Mas és a prova
De que havia,
Para o príncipe em mim,
Uma donzela.

E agora resta-me
Ver-te a face
Em leve rubor
De excitação.
Restam-me estes sentimentos
Confusos e dispersos,
Estas linhas sinuosas,
Estes atormentados versos.

jpv


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Neblina no Caminho

sta-carolina

Já eras
A diáfana imagem
Da perfeição
Quando te conheci.
Já eras o amor
E a sedução
Quando me apaixonei
Por ti.
Róseo seio,
Delicada pétala,
Flor sem fruto
Na inocência da idade.
És memória,
E és saudade.

Já eras
Um mar encapelado,
Um vento revoltado,
No olhar
E nos cabelos.
Eras a graça,
O beijo inaugural,
O primeiro corpo
Sob o meu.
Tinhas um perfume
Adocicado e experimental,
A tua nudez,
A minha pele arrepiada
E o corpo tremendo.
Tinha medo de estragar-te.
Queria amar-te
Para sempre
E não sabia
Quanto era isso.
Paixão,
Amor,
Feitiço…
O sal do mar
Sabia melhor
Na tua boca.

Já eras
O caminho
E a caminhada louca.
Já vivia em ti,
Sozinho,
A minha solidão.
Feitiço,
Amor,
Paixão…

jpv


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E havia tanto mar…

Não houve…
Não poderia ter havido.
Foi sempre um mar incerto,
Uma embarcação sem rumo
Nem sentido.

Não tem mais
Cavalos selvagens nos teus cabelos.
Não tem mais
Borboletas coloridas nos teus lábios.
Sucumbiste
Aos conselhos sábios
Da razão e da prudência.
Presente…
Só a ausência.

E havia tanto mar.
Havia tanto marinheiro.
Havia um homem por inteiro
E um desejo a saciar.
E agora
Há só este chão queimado,
Este deserto desolado
De ter-te.

Nem me viste.
Nem chegaste a ignorar-me.
Poeta sem poesia.
Modelo sem charme.
Músico sem notas.
Coração vazio
De onde brotas
Sem nunca
Teres entrado.
Só este terreno inóspito,
Este chão queimado.

Não houve…

João Paulo Videira


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Jogo Mal Jogado

a-pensar-em-ti

Quando tua pele me toca,
Não é o mesmo que deixar-se tocar.
Quando teu corpo me convoca,
Não sou eu que te estou a convocar.
Quando teu olhar me olha
E me atira lanças de desejo,
Não sou eu a suplicar-te
Húmido e despudorado beijo.
Quando teu corpo chama pelo meu,
Em seu jeito desajeitado,
Não sou eu a imaginá-lo
Em cama de luxúria deitado.
E quando me chamas e me suplicas,
Com teu olhar tímido e tentador,
Não sou eu a convidar-te
Para o doce enlevo do amor.

E é por isso que não percebo,
Neste jogo mal jogado,
Quem seja o anfitrião,
E quem faça de convidado.

jpv