Uma voz interior
Acorda um clamor
Dentro do peito exangue.
Uma ave corta o céu
No azul que brilha sobre a mão.
Informes, as nuvens
Desenham futuros em vão.
É uma planície
E é um terreno acidentado
E montanhoso.
É um jovem fogoso
E um velho decrépito a morrer.
E não sabe o velho porque não viveu,
Não sabe o jovem porque não vai viver.
É uma dúvida nua
Cravada no pensamento.
E ter o tempo todo
E gastá-lo como se não houvera mais tempo.
É uma coisa indizível
Sem palavras para a desenhar.
E é outra coisa, igualmente perecível,
Com todos os verbos no lugar.
É um rebentamento devastador
E uma música dolente
No horizonte distante.
É um homem-estátua
Rindo-se do caminhante.
A voz é agora um grito
E o pássaro livre procura, aflito,
Onde emudecer sossegado.
É uma estrada de terra vermelha
Tomando conta do chão macadamizado.
E o caminhante passa descalço,
Pés rasgados a arder,
Continua a rir-se o homem-estátua,
Inerte e imutável, sem Saber
E sem ignorância também.
Ri-se com desdém do desdém
Do olhar azul e altivo
Do caminhante só e cativo
De si e do Conhecimento.
Calou-se a voz interior.
Desfez-se o terreno acidentado.
Morreu o jovem ignaro
E foi a sepultar o velho abandonado.
Não há, já, dúvida,
Nem palavras para a vestir.
Não há música,
Nem homem-estátua a rir.
Só a estrada,
Um cavalo alado que dança,
O asfalto fervente,
A imensidão do vazio
E a linha magra e infinita
Na frente do caminhante
Que sorri de esperança.
jpv