
Naquele dia,
Naquele fim de tarde
De cores difusas,
Encontrei Deus e perguntei:
Que fazes aqui?
A Potestade,
Com olhar supremo e doce,
Respondeu:
Vim cuidar de ti.
Como não acreditasse,
Incrédulo e surpreso,
Que a Divindade
Viesse ver uma só faúlha
De todo um fogo aceso,
Repliquei com a voz trémula:
De mim?
E olhei em volta.
E Deus,
Como se soubesse tudo,
Falou comigo
Tal pai aconselhando o filho:
Não haja surpresa nisso
Que são insondáveis,
Para os humanos,
Os motivos do seu Criador.
Em tua face
Está um olhar.
Nesse olhar
Brilha uma lágrima.
No brilho,
Mostra-se uma emoção.
Na emoção,
Baila uma mulher.
Nessa mulher,
Vive uma morte.
Dessa morte,
Nasce uma revolução.
Na revolta,
Estende-se uma mão.
Junto com a mão,
Revela-se um braço.
Ao cimo do braço,
Está um peito
Onde bate um coração.
O coração prende a dor
Que vim libertar.
Mas, respondi,
Não poderias ir direto
Ao peito sofredor?
Não, filho.
Toda a chuva
Tem um céu,
Toda a luz
Tem um sol,
Toda a noite
Tem um breu,
Toda a dor
Tem uma estrada
A ser vencida,
Passada a passada,
Até que o pó do sofrimento
Seja alimento
E brilhe de novo um olhar.
Só então,
Teu Deus te virá libertar.
E, como veio,
Deus partiu.
E quando saiu,
A tarde já se fizera manhã.
jpv
