Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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7º Aniversário

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“Mails para a minha Irmã” faz hoje sete anos. Sete anos sem outras pretensões nem desejos que não fossem dar a conhecer o que vamos escrevendo àqueles que, por uma razão ou por outra, vão lendo o que aqui se publica.

Sete anos de cumplicidade e compromisso tácito para com os meus leitores.

Sete anos e já três romances, dezenas de contos, centenas de poesias, centenas de crónicas e inúmeras parvoíces.

Sete anos que são meus, mas que são, sobretudo, vossos. Nenhum texto existe sem um leitor e cada leitor é um autor, também.

Grato a todos, imensamente grato, pela vossa atenção, pelo vosso carinho, pelas vossas leituras que são o meu sopro de vida.

Dessa vida que continua…

Até já!

jpv


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E Depois…

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Pois…
Houve um momento lindo
E depois
Perdeu-se a chama,
Perdeu-se toda a glória
E morreu à nascença
A nossa história.

Pois…
Houve um momento lindo
E depois
O meu coração batia
Do lado em que o teu fingia.
E a mim me faltou
O rumo e o remo,
A vela e a quilha,
E o barco naufragou.
E restei só eu
Preso e perdido
Na ilha.

Pois…
Houve um momento lindo
E depois
Quis mais do que podias dar-me,
Quis a ilusão e a promessa,
Quis o tempo e a tua mão.
Mas tu tinhas pressa.
Não te acompanhei,
E não há para a tua liberdade
Amor, nem prisão.

jpv


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Chão de Vida

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Chão de Vida

Estes são os meus dias,
As minhas cores,
Os meus pássaros,
Os meus animais selvagens,
Os meus ritmos,
As minhas manhãs,
Os meus perigos,
O meu peito cheio de esperança,
A minha paisagem,
A minha música
E a minha dança.

É aqui que pertenço em vida.

Cada hora vivida,
Doce ou amarga,
De chegada
Ou de partida,
É aqui o seu tempo.

É aqui o Paraíso
E a falta dele.
A liberdade
E o medo.
A revelação
E o segredo.

São daqui os momentos
Que vale a pena viver.
A minha família é este chão.
Este sentir que há tempo
Para além do tempo.
Este ir e voltar,
Partir e regressar
Sob a pele marcado.
Minha vida é uma viagem
E este é o porto
Que vê chegar o nauta cansado.

jpv


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Místicas

Quando ela me olhou, quando me sorriu e estendeu os braços para mim, eu estava a milésimos de segundo de ser surpreendido e, ainda assim, a milhas de distância de saber o quão feliz ela me faria hoje.

Passa um pouco da uma e trinta da manhã, estou na minha cama e escrevo para os meus leitores a história do dia em que a vida me surpreendeu e sorriu. Mas… vamos lá a contar a história pela ordem correta, que é como quem diz, do princípio para o fim.

A Páscoa, este ano, foi em Portugal. Todo o tempo com a família é pouco. Ainda por cima e por causa de um contratempo que houve pelo meio, só foi possível estar nove dias em Portugal. Quando se é emigrante a dez mil quilómetros de casa, em Moçambique, neste caso, todo o tempo que se passa aqui é pouco. Chega para quase nada. É preciso estar com a família, é preciso dar atenção aos mais chegados, é preciso ir ao médico, comprar medicamentos, tratar dos impostos, de inúmeros pormenores de manutenção da casa, comprar bens que fazem falta em Maputo, levar coisas que alguns colegas pediram… muito movimento… muita azáfama.

É evidente que, benfiquista apaixonado e saudavelmente doente pelo Glorioso, não pude deixar de reparar que, durante a minha estadia em Portugal, jogava-se o Benfica – Braga. Jogo a prometer emoções fortes, o estádio a ameaçar encher… Pensei que, se pudesse, se sobrasse tempo, iria… claro. Acontece que só na quarta feira me lembrei de comprar bilhete para sexta feira, 1 de abril… o que me disseram na casa do Benfica de Torres Novas parecia mentira:

– Não há bilhetes. Está tudo esgotado!

Contactei várias casas do Benfica. Entroncamento, Fátima, Alpiarça… nada, sempre em vão, sempre a mesma resposta. Não há bilhetes. Ainda na quarta feira, a comunicação social informou que no dia seguinte seriam vendidos os últimos dois mil bilhetes. Contactei uma amiga que trabalha em Lisboa, pedi-lhe que fosse ao estádio à hora de almoço e tentasse comprar-me dois bilhetes. Um para mim, outro para o meu cunhado. Ela ligou-me a dar a triste notícia. Os dois mil bilhetes esgotaram em vinte minutos.

Decidi não ir hoje a Lisboa. Não valia a pena estar nas imediações do estádio e não ter como entrar. De manhã, levantei-me, tratei de diversos aspetos relacionados com a manutenção da casa, escrevi um pouco, virei-me para o sol primaveril e senti-o aquecer-me a pele. Pela hora de almoço, a minha mulher diz-me que se esquecera de comprar umas coisas em Lisboa que precisava de levar para Maputo:

– Sempre podes tentar encontrar os bilhetes…

– Os bilhetes esgotaram! Qual parte da palavra esgotados é que tu não percebes?!

Mas fiz-lhe a vontade e levei-a a Lisboa. Happy wife, happy life…

Estar junto ao Estádio da Luz fez renascer a esperança até a esperança se esmurrar de encontro à realidade. Na primeira bilheteira que visitei, disseram-me que estava tudo esgotado, na segunda, tudo esgotado, fui à MegaStore do Benfica, tudo esgotado. Não gosto de comprar bilhetes na candonga. Normalmente são falsos. Não perdi tempo com isso. Resolvi aceitar o destino e o destino não queria que eu visse o jogo na Catedral. Aparentemente. Fui a uma loja de roupas e artigos desportivos lá no estádio e decidi recompensar-me comprando a camisola do Benfica. Sorri à menina que me atendeu e pedi-lhe que gravasse jpvideira nas costas.

– Jota, ponto, pê, ponto, Videira?

– Não, não. Não leva pontos. Só as letras.

– Com espaços entre as letras?

– Não. Tudo junto, por favor. JPVIDEIRA tudo junto, sem pontos, nem espaços.

– Muito bem. Volte daqui a quinze minutos.

Durante esses quinze minutos fui a mais uma bilheteira, mas era inútil. Vagueei por ali, cumprimentei o Eusébio e fui, por fim, buscar a camisola. Sorri à menina, perguntei se já estava, que sim, que estava. Agradeci-lhe simpaticamente e foi então que ela me olhou como se me quisesse dizer algo especial, como se procurasse em mim uma história e disse só estas palavras:

– Aqui tem a sua camisola. Tenha um bom jogo.

– Oh… muito obrigado, mas eu não vou ver o jogo. Vim de Maputo para passar uns dias e queria ver o jogo, mas os bilhetes esgotaram…

Ela abriu a caixa registadora, tirou de lá dois bilhetes, estendeu-me a mão com eles e disse:

– Vai ver o jogo pois. Tome divirta-se! São os últimos!

Eu estava incrédulo. Tentara tudo por dois bilhetes, caros que fossem e aquela moça de olhar meigo e sorriso a iluminar a face estava a oferecer-me dois bilhetes… Fiquei sem saber como reagir.

– O que posso fazer por si? Sabe a alegria que me está a dar?

– A única coisa que pode fazer por mim é ir ver o jogo e divertir-se!

– Se não fosse homem chorava…

– Chorar não é vergonha… Ah e já agora… que ganhe o Benfica!

– Que ganhe o Benfica.

Empoleirei-me no balcão, dei-lhe dois beijinhos e fui tirar uma foto com o Rei Eusébio, desta vez eu tinha JPVIDEIRA escrito nas costas e dois bilhetes no bolso!

O resto foi o que se sabe. Uma noite farta e generosa. Cinco a um no marcador, alegria, cânticos, 61042 pessoas a encherem o estádio e… a memória da S. sempre comigo… o seu sorriso, no momento em que me entregou os bilhetes, era mais do que um prognóstico, era a certeza de que a mística benfiquista existe, era a emoção de uma vitória linda a anunciar-se.

E agora vou dormir… mais feliz… com pouca coisa me faço feliz… umas palavras, uma bola jogada na incerteza do resultado, um sorriso, um olhar… um momento mágico à Benfica!

jpv


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São Tantos e Tão Intensos

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São tantos e tão intensos,
Os afetos.
E tudo isto é tão pouco.
Queria ver-te viver
Para sempre.
Não és uma pessoa,
Nem humana é tua
Essência.
Tu és a razão de toda a existência.
Tu és o espaço preenchido.
O coração enfunado
De amor.
Tu és o exercício vencido
De suportar qualquer dor.

Não temo a morte,
Venha quando vier,
Seria sempre essa a sorte.
Tenho só pena de deixar-te…
Tenho pena de não poder ouvir-te mais…
Ver-te desenhar a vida
A traços de loucura e coragem,
Desafiar os limites
Na insana voragem
Do horizonte.

Não há palavras
Para o que tenho no peito.
Há só estes versos sem jeito
A rasgarem lágrimas de alegria
E saudade.
Há a imagem de ti
Como um universo sem fim.
Há a minha vida
Nas tuas mãos…
Para além de mim.

jpv


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Condição

sexy couple[Imagem daqui]

Há, na tua juventude,
Algo que faz falta à minha velhice.
E, dizes-me tu com matreirice,
Que existe na minha condição
Muito charme,
Muito tesão.

Mentimos os dois.

Nem eu posso levar
Para antes
O que é do depois,
Nem tu me podes oferecer
O que, por condição,
Não tenho como receber.

jpv


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Prenhe Vazio

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No vazio das palavras,
O ato.
No vazio do tempo,
O momento exato.
No terreno estéril
E árido
De meu peito
Cresce uma esperança
Sem jeito
Nem destino.
Fenómeno inexplicável,
Como mão grande e afável
Percorrendo o cabelo do menino.

No vazio da cama
Um homem que ama.
No vazio de um peito de mulher,
Um homem que quer.
Numa folha branca
Uma palavra que grita
E deseja,
Uma linha sensual,
Uma vírgula que beija
A hesitação,
E de novo a mão.
Agora suave e sedosa
Em provocante e prazerosa
Provocação.

No vazio de tudo…
A reinvenção!

jpv

 


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O Testador de Piscinas

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Esta manhã, de soalheiro domingo, tive uma ideia para um negócio promissor e de grande rentabilidade. Vou abrir uma empresa de uma pessoa só como “Testador de Piscinas”.

Qual o grande medo de quem possui piscinas? Não, não é a manutenção. É a possibilidade aterradora de chegarem amigos para uma churrascada e um mergulho e a piscina não estar em condições.

A coisa funciona assim. O cliente convida-me para um churrasco ou um belo de um cocktail. Entre dois goles de sangria de champanhe, elemento fundamental para que corra tudo bem, eu dou uns mergulhos, umas braçadas, avalio a qualidade e a limpeza da água, a decoração e os recursos adjacentes, como chuveiros, lavabos, camas de rede,etc.

No imbatível prazo de 24 horas produzo um relatório com conselhos de manutenção e cuidados da piscina bem como dicas sobre como melhorar o churrasco ou a caipirinha.

A foto que encima este texto testemunha o meu primeiro serviço. Eu contratei-me a mim mesmo e posso garantir que estou satisfeitíssimo com a qualidade do serviço.

Se vives em Maputo e queres dar um mergulho nesta piscina contacta-me pelas mensagens privadas. É que o condomínio tem uma casa vaga e andamos à procura de inquilino… quem sabe… de resto, o preço do aluguer é convidativo e a vizinhança é 5 estrelas!

jpv


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Olhar

Essa pose serena,
Essa magia encantada,
Essa intenção não revelada
Por essa boca pequena.
Mas o olhar… o olhar, meu Deus, como te trai!
Olhas-me como quem despe o pudor.
Não. Não é amor,
É esse desejo, essa luxúria dos corpos suados,
Olhas-me, e a minha roupa cai
No chão do teu quarto.
E fazes, em gestos suaves e delicados,
A via sacra do meu corpo oferecido.
E antes mesmo de tocar-te,
Antes de me percorreres com o fogo da excitação,
Sou já um homem vencido.

jpv


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Retrato de Moça

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O olhar húmido
E inseguro.
Olhos pequeninos
Que brilham no escuro…
E suplicam.
Lábios finos
E gentilmente recortados
Ameaçam um sorriso
Que fica…
Na intenção.
Os dedos frágeis
E longilíneos
A explicarem-me as palavras.
Seios redondos,
Bem definidos,
E pequeninos,
Insinuam-se no teu peito
Ao peito que lavras…
De amor.
Tens a cintura da donzela
E o sexo da mulher.
Tens no corpo,
Sem saberes,
As obras do desejo
Que o homem quer.

Estás sentada
À porta do meu coração.
Sempre nua
Como a Thétis
Que o monstro petrificou.
Não estou mudo, eu,
Nem quedo.
Debato-me com a ânsia e o medo
De possuir-te,
De ter-te em meus braços,
E haver nisso
Um funesto e terrível feitiço.
Que estender-te a mão
E tocar-te
E prender-te minha
Desfaça a ilusão
E morra a esperança
E a melodia.

Ficarás sentada,
Em pose ténue e fugidia,
À porta de meu coração.

jpv