A convite do mui estimado Professor Doutor José Augusto Cardoso Bernardes, estarei amanhã no congresso Os Lusíadas na Escola pelas 11h de Portugal, 13h de Moçambique.
Deixo, infra, os detalhes do evento.
Gratidão.


A convite do mui estimado Professor Doutor José Augusto Cardoso Bernardes, estarei amanhã no congresso Os Lusíadas na Escola pelas 11h de Portugal, 13h de Moçambique.
Deixo, infra, os detalhes do evento.
Gratidão.


Há tantos aspetos com que me identifico. Na verdade, quase todos.
Já propus tantas destas coisas em tantas instâncias diferentes. Quase sempre me dizem que ainda não é o tempo. Que ainda não estão reunidas as condições. Andamos a adiar o inadiável. Andamos a destruir gerações de criatividade e curiosidade.
Quão precisa está esta análise. Quão certeira!
Infelizmente, Ken Robinson deixou-nos em agosto de 2020. Vai fazer muita falta ao pensamento ocidental, e não só, sobre Educação.
Era de uma lucidez ímpar e de uma inteligência e sensibilidade inigualáveis.
E, ainda por cima, tinha o dom de dizer tudo de forma desassombrada e simples.
Vejam este vídeo. Não vão perder o tempo.

Crónicas de Maledicência
Não havia Escola antes da Covid-19!
Não podemos querer tudo. Peço desculpa pela revelação abrupta e pela contundência das palavras, mas, efetivamente, não podemos querer tudo. Das duas uma, ou a Escola, considerando a evolução diacrónica, trabalhou bem, fez muito pela Humanidade e, naturalmente, temos de a melhorar, mas reconhecemos que houve um trajeto de muitos sucessos pelo que melhorá-la não é arrasar o que existe e refundá-la, ou a Escola fez tudo mal e temos de a refundar porque nada do que chegou até hoje representa um esforço positivo. Não podemos é ter tudo. Não podemos opinar dizendo que a escola fez tudo errado e depois reclamar responsabilidades na evolução da Humanidade. Também não podemos dizer que fez tudo certo e apontar falhas na evolução da espécie pensante.
Enfim, o mais prudente, penso, seria admitir que a Escola fez muito pela Humanidade, que muitos progressos se fizeram graças aos seus esforços, mas que, como qualquer organismo vivo, está em constante evolução e pode sempre melhorar.
Ultimamente, olho para esta Escola, vítima da Covid-19, e fico com a sensação de que não sabíamos nada, não sabíamos fazer nada antes da Covid, de facto, chego até a sentir que não fizemos mesmo nada. Tenho a sensação de que não sabíamos comunicar, de que não sabíamos registar o que fazíamos, tenho a sensação de que andámos a empatar as aprendizagens dos nossos alunos e o progresso da Humanidade. E sinto mais. Sinto que, não fora a pandemia ter-nos forçado a ser competentes e diligentes e assíduos e produtivos e teríamos ficado no marasmo improdutivo em que vivíamos antes desta abençoada pandemia que nos veio acordar da letargia e transformar-nos em excelentes trabalhadores, em excelentes professores.
Ora vejamos.
Antes do Moodle não fazíamos planificações nem produzíamos materiais para os alunos.
Antes do Zoom não reuníamos uns com os outros nem falávamos sobre o nosso trabalho.
Antes do Teams não trocávamos materiais nem fazíamos registo do nosso trabalho.
Antes dos mecanismos inerentes ao ensino a distância, a bem dizer, praticamente, não havia ensino. Deambulávamos, perdidos, pelos corredores das escolas forçando o tempo a passar e deixávamos os nossos alunos ao abandono, sem ensino de qualidade nem uma avaliação cabal e válida das suas competências. Efetivamente, foi preciso surgirem, como que por magia, estas ferramentas, da neblina espessa da pandemia para que começássemos a trabalhar à grande e a partir de casa e a quaisquer horas, mesmo doentes, mesmo infetados.
Sejamos claros. Em tempos de emergência e perigo, temos de nos adaptar e ser diferentes. Temos de dar mais, extraordinariamente mais, temos de fazer as coisas de forma diferente, mas não podemos cair na falácia autofágica de que nada prestava antes, nada se fazia antes, nada se media e controlava antes. De resto, deixem-me revelar-vos o seguinte: o que temos feito, enquanto docentes, em tempos de pandemia, é valiosíssimo, temos sabido dar a volta a um problema muito sério e difícil que é preservar um clima de aprendizagem nestas condições. Mas sejamos ainda mais claros: o que temos feito é incomparavelmente mais pobre do que o que fazíamos antes. Do ponto de vista pedagógico, a pandemia forçou-nos a regredir. Não há pedagogias de sucesso sem alunos na escola, há remendos. Não há pedagogia de sucesso sem o contacto pessoal, direto e humanizado entre alunos, professores, funcionários e toda a estrutura que permite e favorece as aprendizagens. Nós temos feito o possível e, por vezes, até o impossível, mas tudo isso é muito pouco comparado com uma Escola preparada para receber os seus alunos nas suas salas de aula a desenvolver os seus projetos de aprendizagem.
É urgente desligar os computadores e ligar as pessoas. É urgente desinstalar os Teams e os Zooms e os Moodles e ligar as salas de aula e os ginásios e os recreios e os olhos nos olhos e os dedos no ar e as perguntas quando não se percebe e o sentir da pessoa que o aluno é, ali, à nossa frente e não num monitor à distância da impossibilidade de o perceber.
Eu alinho muito pouco no discurso de que esta pandemia tem coisas boas e veio ensinar-nos coisas boas. Esta pandemia, no âmbito da educação, não tem nada de bom. Não trouxe nada de bom. Nem mesmo a tão propalada autonomia dos alunos. Nós nem sequer sabemos se foram eles que fizeram o que pedimos ou se, simplesmente, alguém fez por eles! Esta pandemia trouxe remendos, trouxe cortes e supressões, trouxe a ultrapassagem de etapas fundamentais da aprendizagem, trouxe desumanização, falta de contacto, roubou-nos a capacidade de avaliar progressões, evoluções, processos e produtos e trouxe produtos que tanto o podem ser como não.
Nunca, antes disto, deixámos de inovar, deixámos de ser criativos, deixámos de estudar, deixámos de produzir, deixámos de registar e de avaliar. Nunca. E, contudo, propaga-se, como uma praga pestilenta, esta ideia de que a pandemia nos veio ensinar a reinventar o ensino e a nós próprios. Temos sido dedicados e briosos, temos investido milhares de horas extra não reconhecidas, nuns casos, reconhecidas e valorizadas, noutros. Temos tentado fazer face a uma dificuldade global que decorre deste contexto pandémico, mas, em honestidade, temos de reconhecer que estamos muito aquém do que já fazíamos na Escola pré-pandémica. É que há aspetos inultrapassáveis e a natureza da Escola é um deles. Não sei se repararam, ao longo das últimas décadas, pelo menos desde a década de 70 do século passado, têm-se feito experiências sucessivas para reinventar a Escola e, contudo, a sua matriz emerge sempre das experiências como aquilo que restou, aquilo que permaneceu incólume ao nosso experimentalismo. E essa matriz é a matriz humanista de ensinar em presença fazendo com o outro, construindo com ele, ensinando pela palavra, pelo exemplo, pela orientação. É a matriz dos valores de cidadania. E, até que haja uma alternativa válida, esta Escola que temos construído olhos nos olhos é mesmo a melhor que existe.
jpv

Crónicas de África – Miúdos de Rua
Maputo, 1 de março de 2015
Em Maputo, cada miúdo de rua é uma surpresa. Surpresas de sorrir, de chorar, de sofrer, de entender, de não perceber nada. Conto hoje a história de três miúdos de rua que se cruzaram comigo.
JQ
Quando conheci o J, ele ainda era um adolescente. Tinha dezassete anos e vendia capulanas e panos com animais selvagens pintados à mão para se pendurarem numa parede ou colocarem numa mesa, numa cama. Corria ao lado dos carros quando o trânsito estava lento e dizia às pessoas que elas precisavam muito do que ele tinha para vender, até porque ele só tinha coisas boas para vender. Gostava de regatear e quando o preço chegava ao limite do que ele estava autorizado a baixar, ligava para o boss dele e ficávamos a negociar os três, sendo ele o intermediário e tradutor das conversas. Comprei-lhe diversos panos por aquela altura, em dias diferentes, e por isso nos marcámos. Não lhe esqueci a face, nem ele a minha. Estranhou, um dia, quando lhe perguntei o nome e quis saber o meu de volta. Só vim a saber que ele não o esquecera quase três anos depois, quando nos reencontrámos. Eu, ainda professor, mas muito mais africano. Ele já deixara de passar os dias deitado na areia ou a correr ao lado dos carros. Agora, era segurança. Eu entrava para um restaurante, quando senti uma mão tocar-me no ombro, virei-me e lá estava o sorriso inconfundível do J.
– Patrão João, lembra-se de mim?
– Claro! Tu és o J.
– Lembra!
Abriu mais o sorriso e deu-me um aperto de mão à moçambicano. Tinha sido pai há somente quinze dias, mas a criança falecera há três noites atrás. Mas sorriu ao ver-me porque rever uma pessoa que se lembra do nosso nome é uma coisa boa mesmo quando a alma anda triste.
– A criança caiu bem. Nasceu lá no Hospital Central e nos mandaram para casa. Estava a comer bem. Uma noite, a minha esposa levantou-se para ir na casa de banho e ele já não se mexia. Levámos para o hospital. Já não voltou.
As ruas de Maputo fazem homens de muitas maneiras. Há os que casam e vão ser pais e há os que ficam órfãos dos seus filhos e nos sorriem como se o sol tivesse acabado de nascer.
FR
Em Maputo, um trabalho não precisa estar reconhecido como profissão para ser exercido e ter uma remuneração. Quando alguém se consegue fazer útil por algum meio, tem um trabalho e faz-se pagar por isso. Quando conheci o F, ele trabalhava no mercado. Acartava os sacos de compras das pessoas. Tinha onze anos. Hoje, tem catorze e ainda faz o mesmo trabalho. Ao fim de semana. O Mercado Central de Maputo está repleto destes miúdos que esperam pelas pessoas e se oferecem para andar com os sacos das compras. Seguem os clientes do mercado aliviando-os do peso e quando as compras terminam, acompanham as pessoas ao carro e esperam por uma moeda. A maioria destes miúdos é atrevida, persistente, e a sua vida resume-se a pouco mais do que ao dia a dia no mercado. O F afeiçoou-se à senhora e ao cãozinho e pergunta sempre por eles, mesmo sabendo que é comigo, e só comigo, que trabalha. E informou desde cedo que ia à escola. Interessei-me por ele, entre outras coisas, por este pormenor de ir à escola.
– Então estás aqui todos os dias?
– Não. Só venho ao fim de semana. Durante a semana, ando na escola.
– Estás em que classe?
– Quase a acabar a sétima.
Com o tempo e as conversas enquanto ele me ajudava com os sacos, o F tornou-se em algo mais do que o miúdo que me acarta os sacos. De resto, eu gosto de acartar os meus sacos. Partilho-os com ele. Ele trabalha ao fim de semana para ajudar a pagar os estudos. Começou por trazer-me uma foto com a farda da escola, depois o documento com as notas da oitava classe, e este ano trouxe-me toda a documentação da matrícula na nona. Guardou na senhora que vende ananás para me mostrar. Quando chegou ao carro, encontrou um saco com material escolar que eu lhe tinha levado. O F é um trabalhador estudante. Aos catorze anos. Respeito isso. Há muito que não lhe dou moedas. Dou-lhe notas e material escolar. E ele acarta-me os sacos, pergunta pela senhora e pelo cão e vai-me trazendo as folhas com as notas dos exames.
Nas ruas de Maputo, também há marginais da marginalidade. E esperança. E resiliência.
JL
Não conheço o J de lado nenhum. Não sei quem seja. Só o vi uma vez. O suficiente para lhe perguntar o nome e trazê-lo para esta crónica. Impressionou-me e pronto.
Tinha acabado de sair do supermercado, levei o carrinho das compras, que estava praticamente vazio, meia dúzia de coisas, e coloquei entre elas a minha caneta e a minha agenda, presas uma à outra. Abri o porta-bagagens, coloquei as compras nele e fui para o lugar do condutor. Já estava a sentar-me quando percebi que me tinha esquecido da agenda no carrinho das compras. Voltei atrás, mas não cheguei a dar dois passos. Ele vinha na minha direção com a agenda e a caneta na mão. O miúdo estava aterrado, o seu rosto espelhava medo. Vi que ele quis, a todo o custo, evitar um equívoco, uma acusação. Segurou a mão direita com a esquerda, estendeu-me a agenda e baixou a cabeça fitando o chão. Não foi capaz de me encarar.
– Obrigado.
– De nada.
– Como te chamas?
– J.
– Tens quantos anos?
– Onze.
– Fizeste uma boa ação, J. Obrigado.
A última frase era verdade, mas a verdade é que a disse mais para o tranquilizar do que outra coisa qualquer.
– Andas na escola?
– Ando.
A pergunta e a resposta era inúteis porque ele estava fardado. Num espaço de poucos segundos, enquanto ele se afastava, pensei que não devia dar-lhe nada porque o meu pai me ensinou que das boas ações não devemos esperar recompensa. E, no mesmo instante, pensei que estava em Maputo, que as coordenadas eram diferentes. Não tinha ali nenhum material escolar, peguei numa nota e chamei-o:
– J!
Ele virou-se, dirigiu-se para mim, quando levantei a nota, ele benzeu-se, estendeu a mão direita que segurou com a esquerda e colocou os olhos no chão.
– Fizeste uma boa ação. Compra uma coisa para ti.
– Obrigado.
Tive a sensação de que ele nem vira a nota e segundos depois a sensação confirmou-se. O J atravessou as quatro faixas da estrada e já estava do outro lado da rua quando levou a mão ao bolso e tirou a nota. Viu qual era. Voltou a guardá-la, benzeu-se de novo e fez-se ao caminho.
Nas ruas de Maputo, também crescem os valores e a fé. E o medo!
jpv
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Nota 1. O aperto de mão moçambicano consiste num movimento em três momentos. Mãos na horizontal, na vertical e de volta à horizontal. É uma senha que faz parte dos tempos da libertação. Os três movimentos correspondem a três valores. Liberdade. Igualdade. Fraternidade. Tenho reparado que a maioria dos moçambicanos já não sabe o seu significado, mas este aperto de mão é muito comum.
Nota 2. Segurar a mão direita com a esquerda é um gesto de respeito e humildade. A mão esquerda segura o pulso da mão direita mostrando à outra pessoa que aquilo que vai ser dado ou recebido está seguro.
O teste da foto foi classificado com Satisfaz!
Com Satisfaz Pouco ficou classificado o meu domingo, inteiramente dedicado à correção de testes de avaliação. A empreitada começou pelas sete da manhã, intervalou para um breve frango no Piri-Piri, e continuou tarde dentro até ser noite. Entre testes e fichas, corrigi cerca de oitenta documentos de avaliação!
Agora ia dormir… mas fiz uma promessa de trabalho e vou cumpri-la!
Se eu podia passar um domingo sem corrigir testes? Podia! 🙂
jpv
"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."
A esperança pra quem busca pequeno e grande detalhe do criador. Shaloom....
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