Anseio
Anseio já esse abraço.
Esse toque puro.
Anseio a tua voz
Para cá do muro.
Essa distância que me mata
É a medida imprecisa
E exata
Deste peso no peito,
Desta mão incerta,
Deste amor que te tenho,
Sem o qual
A minha vida é deserta
De tudo.
Até de mim.
Meu olhar vagueia
À procura de ti
Enquanto percorro
Mundo e meio
E finjo outras razões,
Outros motivos e sensações.
E tudo é simples e cristalino,
Sou só um pai perdido
À procura do seu menino.
Andaste lá longe.
Cá longe andei,
Mas já gira a roda
Das palavras que te direi.
Essas palavras de desassossego…
Palavras de ter-te,
De reter-te…
E o medo
De ver-te partir outra vez.
Errante pelo mundo,
Procuras o sentido profundo de ti,
Esse mesmo que tenho em mim
E posso contar-te baixinho
Para ninguém ouvir.
Ser pai é olhar
Um filho partir.
E há nessa contemplação
Uma alegria e uma dor.
A alegria jorra na fonte generosa da presença
E a dor de amar dita sua definitiva sentença.
Eu vivo em ti,
Por ti,
Para ti.
E há nisso
Um gozo e um prazer.
É ver-te crescer e ser homem.
Quem dera morrer
E saber-te bem e completo.
É esse meu desejo secreto,
Minha missão,
Meu ousado cometimento.
Amar-te a cada instante,
Libertar-te em cada momento.
jpv