Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Prece à Deusa do Amor

Amor meu, que te expões na cama,
Sacrificado seja o teu corpo
À minha chama.
Venha a mim a tua carícia,
Seja feita a nossa vontade
Com luxúria e perícia,
Assim no leito como no chão.
Perdoa-me as minhas ausências
Assim como perdoo
A quem me tem cativo
Da mais doce tentação.

jpv


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Eternidade

Composição fotográfica por jpvideira

Meu jardim,
Minha flor,
Meu paraíso.
Minha fonte de amor,
Minha falta de juízo.

Minha virtude,
Meu vício,
Minha plenitude,
Meu precipício.
Tu és meu pecado,
Minha deusa sem idade.
Minha fortuna, meu fado,
Minha eternidade.

jpv


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Divindades Intermitentes

Sempre imaginei
Qua as deusas se banhavam
Em frescas fontes
Brotando cascatas de prata.
E, contudo,
Aqui estás, no meu chuveiro,
Com esse sorriso que resgata
O homem perdido,
Enquanto a espuma desce
As curvas de teu corpo despido.

Sempre julguei
Que as deusas comiam
Sob árvores frondosas e seculares,
Em mesas postas
De iguarias e manjares
Sobre toalhas de linho branco,
Embaladas pelo chilrear dos passarinhos.
E, contudo,
Sentas-te à mesa da cozinha
E comes queijo aos pedacinhos,
Em pão fresco e café quente,
Com papaias generosas no horizonte.

Sempre pensei
Que as deusas descansavam
Em camas de marfim
E imaculados lençóis de cetim
Com o firmamento por teto.
E, contudo,
Sentas-te na nossa varanda
Saboreando a brisa e o tempo
Enquanto escrevo por perto.

Sempre imaginei
Que as deusas orientavam
Os pobres humanos
Com um suave aceno da alva mão.
E, contudo,
Deslizas na sala de aula
De palavra límpida e proferida
E envolvente explicação.

Sempre julguei
Que as deusas dormiam recostadas
Em leitos divinais
Com pajens e amas de quarto
Satisfazendo seus caprichos banais.
E, contudo,
Deitas-te exposta ao meu olhar
Bela, sensual,
E sem qualquer banalidade,
Em lençóis simples e monocromáticos
Comprados na calamidade.

Sempre pensei
Que as deusas amavam
Em leitos de luxúria
E orgias intensas e loucas.
E, contudo,
Em breves dias me ensinaste
Que são parcas e poucas
As artes das deusas
Nesse diálogo de tranquilas euforias
Que nossos corpos travam nos dias
Em que dançam juntos
A melodia do amor…

Tenho dó das deusas.

jpv


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Prece

suor

Ó senhora!
Ó deusa!
Ó musa maior!
Aceita minha dádiva,
Minha prece,
Meu suor.

Seja feita em mim
Tua vontade.
Envia pelo anjo
A sublime e espantosa
Novidade
Que há de surpreender
O Universo perplexo:
Tombou ajoelhado,
Perante tua figura,
O servo do sexo.

Deste forma
Ao meu desejo
E alma
À minha loucura.
És tudo
O que sinto e vejo,
Seio,
Colo,
Sepultura.
Teu corpo
É meu altar,
Teu gemido
Minha devoção.
Em ti
Procuro o grito sentido
Que completa minha oração.

jpv


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Religião

couple

Gosto da tua voz serena
E do teu olhar sem pressa.
Gosto de sentir na tua pele
O nascer de uma promessa.
E gosto quando me tocas
E finges não ter tocado.
Gosto desse sorriso despercebido
Por cima do colo decotado.
E gosto dos teus seios firmes
Quando me roçam devagarinho.
Gosto das tuas palavras quentes
Quando me pressentes sozinho.
E gosto quando à noite
Te chegas a mim
E me sussurras ao ouvido
Que retome no altar do teu corpo
O ritual todas as noites repetido.

És minha deusa profana,
Senhora da minha oração.
És minha virtude e meu pecado,
Minha fé e minha religião.
E gosto quando me despes
Das roupas e do pudor.
Gosto quando me incendeias no sexo
A insana chama do amor.

E quero ter-te, então,
Sob meu corpo e meu suor,
À procura do momento
Em que o grito se faz maior.
Ouve, meu amor…
Descansemos agora,
Faz frio lá fora
E o mundo foi dormir.
De tudo o que resta viver,
Já pouco falta cumprir.

Gosto da tua voz serena
E do teu olhar sem pressa.

jpv