Naquele dia, Naquele fim de tarde De cores difusas, Encontrei Deus e perguntei: Que fazes aqui? A Potestade, Com olhar supremo e doce, Respondeu: Vim cuidar de ti. Como não acreditasse, Incrédulo e surpreso, Que a Divindade Viesse ver uma só faúlha De todo um fogo aceso, Repliquei com a voz trémula: De mim? E olhei em volta. E Deus, Como se soubesse tudo, Falou comigo Tal pai aconselhando o filho: Não haja surpresa nisso Que são insondáveis, Para os humanos, Os motivos do seu Criador. Em tua face Está um olhar. Nesse olhar Brilha uma lágrima. No brilho, Mostra-se uma emoção. Na emoção, Baila uma mulher. Nessa mulher, Vive uma morte. Dessa morte, Nasce uma revolução. Na revolta, Estende-se uma mão. Junto com a mão, Revela-se um braço. Ao cimo do braço, Está um peito Onde bate um coração. O coração prende a dor Que vim libertar. Mas, respondi, Não poderias ir direto Ao peito sofredor? Não, filho. Toda a chuva Tem um céu, Toda a luz Tem um sol, Toda a noite Tem um breu, Toda a dor Tem uma estrada A ser vencida, Passada a passada, Até que o pó do sofrimento Seja alimento E brilhe de novo um olhar. Só então, Teu Deus te virá libertar. E, como veio, Deus partiu. E quando saiu, A tarde já se fizera manhã.
Este texto não é sobre a Covid-19. É sobre coisas realmente importantes. Não são urgentes. São importantes. Não são mediáticas nem vão vender jornais ou fazer subir audiências. São só importantes. E o que é importante, hoje, tem muito pouca importância.
Não é porque não reajo que não vejo o que fazeis ao meu redor. Como vos reunis à volta da minha carne e farejais o sangue. Eu vejo. Não reagir é uma opção consciente e calculada. É um gesto de preservação da minha serenidade e da minha paz. Só depende de mim. Oiço música tranquila, neste momento em que escrevo à brisa de uma sombra fresca. E ninguém, nem nada, me tira isso. Não estou interessado em mais nada. Só na brisa e na frescura da sombra.
Não é porque não me insurjo que não percebo a injustiça e a ignomínia. Como conjurais com base em argumentos falaciosos construídos com conhecimento quase nulo de coisa nenhuma. Eu percebo. Mas não sinto. Não sentir é uma opção consciente e calculada. Nada do que digais ou façais tem o poder de, sequer, bater-me à porta da consciência tranquila em que me cerro e encerro.
Não é porque não veja o afastamento delicado e maquinado que não o denuncio. Eu vejo bem todo o direito e todo o avesso conjurado da trama. Sei por onde passa, para onde vai e que objetivos tem. Não denunciar é uma opção consciente e calculada. Porque, ao contrário de vós, eu já sou feliz e não careço da conjura para realizar-me e ser o que já sou. Porque a minha paz não se alimenta dessa matéria pútrida e fétida que alimenta a vossa existência. Por vezes, é melhor não existir do que cheirar mal. É melhor deixar correr os rios de lama do que cais na inglória e vã intenção de pôr-lhes diques. A lama corre sempre.
Aqui, onde me encontro, chegam sons da Natureza e dos Homens e a brisa e a sombra fresca e afetos simples e caseiros. Aqui, chega o tempo de ter tempo, chega a paz da contemplação e nada abaixo disso trepa os muros que lhe coloquei à volta. Neste Olimpo de serenidade, a conjura não tem como formar-se, crescer e subir porque é de outro universo. Um universo que não se cruza com este. Correm realmente paralelos.
Ainda há pouco aqui veio Deus perguntar-me o que mais queria para ser feliz, quem queria que resgatasse ou condenasse, um desejo só, que falasse e concretizar-se-ia. Vai pelos outros e dá-lhes do meu viver, disse-Lhe. E Deus foi, amuado e com um sorriso semi-desenhado na face imprecisa. Foi educado. Pediu desculpa por interromper. Eu fiz-Lhe um aceno desajeitado e reconfinei-me à minha efémera, perecível e doce felicidade. A felicidade de quem assoma à proa da vida e conduz o Destino de forma consciente e calculada. Esse nauta vê a borrasca no horizonte e vê-a aproximar-se e passa por ela e recupera o sol na pele e o céu limpo a fundir-se com o mar no olhar. Não se debate com a ondulação enfurecida. Navega-a, impassível e imperturbável. Sem hesitação nem temor. É que o nauta tem um segredo. Sabe onde fica o porto seguro. E tem uma bússola no coração. E tem um sextante na alma.
Não é porque não vejo a rebentação feroz das ondas na tempestade que não me debato com elas. Não debater-me com elas é uma opção consciente e calculada.
É bom que Deus, o Diabo, o Destino e todas as outras forças que gerem esta patranha a que chamamos vida se entendam. Há um limite para o que uma pessoa consegue suportar em relação à agressividade e sinuosidade com que a tal vida a trata. Cada um tem o seu. Limite. Cada um reage com as armas que tem. Há quem vá à bruxa, há quem vá à igreja, há quem faça romarias, há quem se revolte e passe a agredir tudo e todos à sua volta, há quem se interne num hospital psiquiátrico e há os que, em meio da turba de contrariedades, tentam manter o equilíbrio. Sou desses. Tento ser. Percebe-se como… escrevo. Mas, à parte estar de boa saúde, tudo o mais parece ter-se combinado para me chatear os cornos.
Está na hora de dizer basta! Chega! Vade retrum ou, como me sabe melhor, puta que pariu!
É bom que Deus, o Diabo e o Destino e mai-lo rai que parta a todos se ponham de acordo e vão bater noutro ceguinho. Um semestre a levar pancada das forças superiores é muito tempo para o que um reles mortal pode suportar. E há mais: o próximo gajo que, referindo-se ao facto de eu estar emigrado em África, disser a expressão ‘Rica vida’ ou mencionar as belas praias do Índico, ouve uma saraivada de impropérios como não julgou ser possível produzir.
Estou farto da ignorância, da perfídia, da desonestidade descarada, estou farto da chico-espertice, estou farto da dissimulação, estou farto das presunções, estou farto de estar farto e estou farto da impotência e da vulnerabilidade perante a impunidade alheia. Estou farto da Humanidade.
Deus, o Diabo, o Destino, o Karma, que se ponham de acordo e escolham outro. Para mim, BASTA!
Essa cristã dicotomia.
Esse excelso apartar.
Essa terrível chaga
De por cada um no seu lugar.
Esse prémio e esse castigo,
A salvação do justo
E a condenação do iníquo.
Essa opção um dia,
Todos os dias.
Esse se
Pendendo sobre o que farias.
O meu suor na tua cama,
Outro corpo suado que me chama.
O meu corpo sobre o teu
E a sombra de outro
Desenhada no meu.
Uma visita furtiva
E um pouco de amor no regaço.
Palavras incendiadas de prazer
E outro prazer no meu espaço.
O sexo e a tentação.
As horas que passo
Em teus domínios.
E logo me chamando
Outras vozes
E outros desígnios.
Há um céu e um inferno
Um gesto brusco e outro terno.
Há um chegar e um partir.
Há uma fuga de mim
E um perseguir
O sonho de querer-te,
Ser feliz…
Rotina de paixão sem fim.
E há uma oração
Em teu corpo nu e ajoelhado
Traçando com precisão
A distância entre Deus e o Diabo.
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