Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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O Mar Reclamou

As aves em migração
Desviam-se da rota,
Perdem o Norte do voo
E desencontram o lugar.
E as flores florescem prematuras,
Coloridas de êxtase,
Ao sentir-te passar.
As nuvens buscam outros céus
E chovem as chuvas desencontradas
Dos solos férteis,
E vão beijar as areias
Escaldantes do deserto.
Hesita na passada
A mulher que deambula
E vira-se, para olhar,
O homem que passa perto.
Estas diferenças
O Mundo não notou.
Mas o mar… o mar reclamou.
Certo rio desviou-se de seu curso
Por te seguir.
Galgou rochas secas a fugir
E inaugurou rotas
Por onde passavas.
Procurava tocar-te,
Perseguia teu odor
E a luz do teu sorriso.
E a água do seu caudal
Não aportou
Na rebentação do mar salgado
Que reclamou.

E o rio reencaminhou-se.
E as mulheres e os homens
Voltaram às suas rotinas.
E as chuvas caíram de novo
Onde era suposto caírem.
E as nuvens reagruparam
Na rota certa.
E voltaram a florir e a perfumar
As flores onde se esperava que o fizessem.
E as aves retomaram seus percursos,
Os longos e os escassos,
Para que pudesses, ó mulher,
Regressar a meus braços.

jpv


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Círculo Perfeito

Nem Deus
Nem o Diabo
Me chamam.
São os teus braços.

Nem a luz
Nem o breu
Me convocam.
São os teus braços.

Nem a coragem
Nem o medo
Me incitam.
São os teus braços.

Abraços de luz.
Olhos trémulos,
Lábios de amor
E uma palavra que conduz
Ao Mundo e…
De volta aos teus braços.

jpv


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Se me deixasses

semedeixasses

O toque suave
Da tua face
Poderia resolver
Este doloroso impasse
Que é desejar-te
E não te ter.
Bastava que me deixasses morrer
Em teus braços,
Após os longos e exalados cansaços,
Que vêm depois
Do que foi antes.

O odor adocicado
Do teu pescoço,
Quando encosto nele
Meus lábios sedentos,
Deveria ser rastilho
Para inusitados momentos
De luxúria ofegante.
Bastava que me deixasses viver
Em teus seios generosos,
Me desses de beber em tuas fontes,
Subir teus montes
E descer a teus vales frondosos.

E, quando me seguras a mão,
Dá-se um milagre,
Faz-se uma conexão
Entre a tua pele que me convida
E o meu desejo que te deseja.
E essa mão singela,
Inocente e dada,
Impele-me
A reação despudorada
E tentações a acontecer.
Se ao menos me deixasses ser,
Por um bocadinho que fosse,
O teu pecado de prazer…
Nasceria outro homem
Em mim.
E esse homem, sim,
Valeria a pena viver.

jpv