
Sempre imaginei
Qua as deusas se banhavam
Em frescas fontes
Brotando cascatas de prata.
E, contudo,
Aqui estás, no meu chuveiro,
Com esse sorriso que resgata
O homem perdido,
Enquanto a espuma desce
As curvas de teu corpo despido.
Sempre julguei
Que as deusas comiam
Sob árvores frondosas e seculares,
Em mesas postas
De iguarias e manjares
Sobre toalhas de linho branco,
Embaladas pelo chilrear dos passarinhos.
E, contudo,
Sentas-te à mesa da cozinha
E comes queijo aos pedacinhos,
Em pão fresco e café quente,
Com papaias generosas no horizonte.
Sempre pensei
Que as deusas descansavam
Em camas de marfim
E imaculados lençóis de cetim
Com o firmamento por teto.
E, contudo,
Sentas-te na nossa varanda
Saboreando a brisa e o tempo
Enquanto escrevo por perto.
Sempre imaginei
Que as deusas orientavam
Os pobres humanos
Com um suave aceno da alva mão.
E, contudo,
Deslizas na sala de aula
De palavra límpida e proferida
E envolvente explicação.
Sempre julguei
Que as deusas dormiam recostadas
Em leitos divinais
Com pajens e amas de quarto
Satisfazendo seus caprichos banais.
E, contudo,
Deitas-te exposta ao meu olhar
Bela, sensual,
E sem qualquer banalidade,
Em lençóis simples e monocromáticos
Comprados na calamidade.
Sempre pensei
Que as deusas amavam
Em leitos de luxúria
E orgias intensas e loucas.
E, contudo,
Em breves dias me ensinaste
Que são parcas e poucas
As artes das deusas
Nesse diálogo de tranquilas euforias
Que nossos corpos travam nos dias
Em que dançam juntos
A melodia do amor…
Tenho dó das deusas.
jpv
26/10/2020 às 09:41
Encantador!
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26/10/2020 às 14:17
Muito obrigado!
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