Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Sei lá… é uma ideia…

A Instrumentalização da Covid-19

Desde que surgiu a pandemia Covid-19, logo desde o seu início, emergiram dezenas de teorias sobre a instrumentalização da doença. Eu também tenho uma da qual, curiosamente, não tenho ouvido falar muito.

As mais óbvias e divulgadas foram: i. um plano da indústria farmacêutica para vender uma suposta vacina que até já existiria. ii. Um plano das multinacionais para fazerem escoar matéria prima sob a forma de máscaras e outros acessórios. iii. Um plano dos chineses para enfraquecerem e dominarem o ocidente. iv. Um plano, à escala mundial, para dizimar os pensionistas com o objetivo de reajustar os macro orçamentos do Mundo na sequência dos efeitos da recente crise económica. v. Um plano do Planeta Terra para se vingar da Humanidade e a disciplinar. E outros, tantos outros…

Consigo perceber os raciocínios, mas considero-os, na sua maioria, lugares comuns, alguns até absurdos, fruto da cultura vigente nas redes sociais: a cultura do domínio da ignorância sobre quaisquer outras forças.

Ora, teorias há muitas e cada um de nós pode ter a sua… a minha é, provavelmente, tão falível e ignorante como todas as outras, mas tenho direito a ela.

Vejamos, em meio de todos os desatinos comportamentais que a Humanidade vinha cometendo, algo havia que nos trazia unidos e trazia, também, tons de esperança sobre esta nossa precária condição: nos últimos trinta anos, com particular ênfase para os últimos vinte anos, a Humanidade unira-se em torno da Questão Ambiental. O Ambiente era um assunto, efetivamente, concatenador das nossas atenções, preocupações e estava a mudar as atitudes e, mais difícil, as mentalidades dos povos. Eram aos milhões as campanhas, a investigação avançava, a informação disseminava-se e a conduta das pessoas estava mesmo a mudar. Reduzir, Reutilizar, Reciclar eram conceitos que estavam a entrar no nosso quotidiano. Tal como estavam a fazer parte dos nossos dias pequeninos gestos que, todos juntos, geravam grandes mudanças. Acabar com o plástico de uso único, apagar as luzes desnecessárias, fechar as torneiras desnecessariamente abertas, usar loiças, talheres, e outros utensílios de uso múltiplo… etc. etc. etc. uma infindável corrente de preocupação e união em torno da causa ambiental que, por medo da Covid-19, foi desbaratada em meia dúzia de meses. O distanciamento físico e o medo de transmissão do vírus trouxeram de volta, em muito pouco tempo, hábitos de consumo que levaram décadas a abandonar ou mudar. Deve haver alguém que ganhe com tudo isto… e particular aqueles cujos ramos de exploração do Planeta e de negócio começavam a perigar porque quando se muda a mentalidade das pessoas e os seus hábitos, há sempre alguém que fica a perder. Entristece-me, não obstante reconhecer a necessidade de nos protegermos da Covid-19, ver a tremenda regressão que está a dar-se nos hábitos de consumo. Já vale tudo de novo. Já todo o plástico de uso único é admissível, já todas as práticas que subvertem os conceitos de Reduzir, Reutilizar e Reciclar, são admissíveis e até encorajadas. Já ninguém quer saber da pegada de carbono e já ninguém quer saber se estão esgotados, ou não, os recursos do nosso Planeta.

É inegável que a Covid-19 veio mudar o nosso modo de vida e, supostamente, vinha fazer-nos refletir e aprender a dar valor àquilo que realmente tem valor. Não considero que isso esteja a acontecer. Pelo contrário, no que diz respeito ao Ambiente, está a fazer-nos recuar décadas.

jpv


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Eh lá! Not Normal Mr. Trump!

Bom dia, caros Amigos e Leitores.
É normal, Graças a Deus, termos cerca de 200 visitas por dia.
Também é normal, e compreende-se, que sejam, sobretudo, oriundas de Portugal e Moçambique.

O que não é normal, mesmo nada normal, é, às dez da manhã, haver quase uma centena de visitas oriundas da Terra do Tio Sam ou, nos dias que correm, da Terra do Tio Trump!

Huuummmm… aqui há gato…
Mr. Trump, and associates, I’m just a writer… 🙂 🙂 🙂 just a writer…
No politics involved! 🙂

jpv


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Cumplicidade

Cumplicidade,
É quando te faço um chá
E to levo à cama
Para poderes descansar.
Cumplicidade,
É quando sei o que vais dizer
Mesmo antes de começares a falar.
Cumplicidade,
É quando te dou a mão
Porque vi uma nuvem cinzenta
Pairar no teu olhar.
Cumplicidade,
É cuidar de quem amas
Quando não te consegues levantar.
Cumplicidade,
É quando entro no consultório
Porque sei que vais desmaiar.
Cumplicidade,
É ficar a ver-te dormir,
Noite dentro,
Até o sol raiar.
Cumplicidade,
É ficar contigo
A contar as ondas do mar.
Cumplicidade,
É enfrentar a tempestade
E ajudar-te a superar.
Cumplicidade,
É trabalhar a teu lado
Até voltares a acalmar.
Cumplicidade,
É uma vida
Na outra vida,
Uma dádiva e uma entrega.
Cumplicidade,
É tomar comprimidos
Porque não chegas
E o peito não sossega.
Cumplicidade,
É fazer-te rir
Quando apetecia chorar.
Cumplicidade,
É um homem perdido
No meio do alto amar.
Cumplicidade,
É ver-te vestir
E quase não ser capaz de respirar.
Cumplicidade,
É adormeceres no meu ombro
Só para te ver descansar.
Cumplicidade,
É olhar o teu corpo
Como se fosse um altar.
Cumplicidade,
É não saber o que vai acontecer
E estar disposto a morrer…

jpv


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Divindades Intermitentes

Sempre imaginei
Qua as deusas se banhavam
Em frescas fontes
Brotando cascatas de prata.
E, contudo,
Aqui estás, no meu chuveiro,
Com esse sorriso que resgata
O homem perdido,
Enquanto a espuma desce
As curvas de teu corpo despido.

Sempre julguei
Que as deusas comiam
Sob árvores frondosas e seculares,
Em mesas postas
De iguarias e manjares
Sobre toalhas de linho branco,
Embaladas pelo chilrear dos passarinhos.
E, contudo,
Sentas-te à mesa da cozinha
E comes queijo aos pedacinhos,
Em pão fresco e café quente,
Com papaias generosas no horizonte.

Sempre pensei
Que as deusas descansavam
Em camas de marfim
E imaculados lençóis de cetim
Com o firmamento por teto.
E, contudo,
Sentas-te na nossa varanda
Saboreando a brisa e o tempo
Enquanto escrevo por perto.

Sempre imaginei
Que as deusas orientavam
Os pobres humanos
Com um suave aceno da alva mão.
E, contudo,
Deslizas na sala de aula
De palavra límpida e proferida
E envolvente explicação.

Sempre julguei
Que as deusas dormiam recostadas
Em leitos divinais
Com pajens e amas de quarto
Satisfazendo seus caprichos banais.
E, contudo,
Deitas-te exposta ao meu olhar
Bela, sensual,
E sem qualquer banalidade,
Em lençóis simples e monocromáticos
Comprados na calamidade.

Sempre pensei
Que as deusas amavam
Em leitos de luxúria
E orgias intensas e loucas.
E, contudo,
Em breves dias me ensinaste
Que são parcas e poucas
As artes das deusas
Nesse diálogo de tranquilas euforias
Que nossos corpos travam nos dias
Em que dançam juntos
A melodia do amor…

Tenho dó das deusas.

jpv


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Desejo Noturno

Uma só.
Uma só palavra.
Uma só palavra no momento.
Uma só palavra no momento exato.
Explode a invasão,
Doma-se o domador,
Toma-se o tomador.
Perde-se a visão, o sabor, a audição e o olfato.
Fica só a palavra.
A intenção.
A remota ideia de existir
E o êxtase sublime do tato.
Já viveu o homem.
O homem agora morre.
Já não sabe quem foi.
Não se lembra, já,
Nem lhe ocorre,
Quem tivesse sido.
Esta palavra foi a morte
Do homem renascido.
Alonga-se o tempo.
Alonga-se o tempo todo.
Alonga-se o tempo todo no espaço exato.
Não fica, sequer, o tato.
Só o abandono.
Só o abandono nos braços.
Só o abandono nos braços da mulher.
Tudo renasce.
Tudo renasce quando.
Tudo renasce quando o homem quer.

jpv


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Há um mar encapelado
No meu peito.
Revelam-se monstros, fantasmas,
E figuras sem forma nem jeito.
Há lumes a arder,
Fumos encarniçados
E mortes a morrer.
Há criaturas que cospem fogo
E salivam revolta.
Há deuses agrilhoados
E demónios à solta.
E há, depois,
O resgate da tua carícia,
O encanto do teu olhar…
Há esperanças que me entregas num beijo
Mesmo antes de acordar.
E há volúpias sedosas
E a marca da tua pele de cetim.
Há sons encantadores
Que te embalam
Para junto de mim.

jpv


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Quatro Meses sem Feicebuque

De Rerum Natura
Quatro Meses sem Feicebuque

Há quatro meses atrás, decidi, consciente e deliberadamente, encerrar todas as minhas contas em redes sociais. Twitter, Instagram, Facebook e outras. Claro que esta última era que me tomava mais tempo e atenção.

Escrevo este texto para vos dizer que estou vivo, não me deu nenhum ataque de nada, nenhuma crise de coisa nenhuma, a desabituação não foi nem um bocadinho difícil e a minha qualidade de vida melhorou assombrosamente. Vou já explicar porquê, mas, por agora, quero só ousar dar-vos um conselho: deixem o FB e, já agora, as outras todas.

Após estes quatro meses sem redes sociais, aquilo que posso dizer-vos com grande certeza é que as redes sociais são, efetivamente, redes antissociais.

Vamos a aspetos práticos…

  • Quando comecei a usar as redes sociais e, em particular, o Facebook, foi para promover a minha escrita através da divulgação das publicações do meu blogue, Mails para a minha Irmã. Ora, volvidos quatro meses sem FB, posso dizer-vos que o número de visitas e leitores no blogue não diminuiu, pelo contrário, aumentou ligeiramente.
  • A minha vida social, por exemplo, eventos em grupo, deixou de estar dependente da selfie perfeita ou da validação de que tinha acontecido através de uma publicação. Os eventos tornaram-se mais tranquilos e genuínos e valem por si mesmos uma vez que desapareceu o espectro da publicação.
  • Ganhei mais tempo para mim. Faço tudo com mais calma. Dedico-me às pessoas e às tarefas com muito mais tranquilidade.
  • Deixei de ser incomodado por notificações de amigos, de amigos de amigos e de amigos de amigos de amigos, normalmente a chamarem a atenção para publicações com nada de útil ou interessante. O tempo é meu, não é dos outros.
  • Socializo mais. Muito mais. Saio com amigos, almoço com amigos, janto com amigos e, durante estes momentos, não interrompo nem sou interrompido por novidades fantásticas que não são novidade e nada têm de extraordinário.
  • Não perco tempo a dar, nem a receber, os parabéns a pessoas que não conheço. Hoje em dia, quando dou os parabéns a alguém é pela relevância que essa pessoa tem para mim e não porque o Facebook me lembrou.
  • Não leio “da-mos” nem “hadem”
  • Não tenho de aturar como doutos, muito sabedores, e até especialistas de ocasião, pessoas que são só ignorantes sem mais nada para fazer ao tempo do que repassar imagens com frases lamechas e imprecisas e citações de autores que nunca disseram aquilo que lhes é imputado. Até cheguei a encontrar a mesma citação atribuída a autores diferentes. Se o Einstein, o Obama, o Dalai Lama, o Fernando Pessoa, a Clarisse Lispector, o José Saramago e o Mia Couto soubessem as frases que lhes foram imputadas, refaziam as suas obras e duplicavam as publicações.
  • Sou eu quem seleciona a informação e as notícias que considero úteis e relevantes.
  • Deixei de receber como importantes e urgentes, notícias, comunicados e diplomas legais, com vários anos e até revogados.
  • Deixei de me ver envolvido em conversas futebolísticas irracionais e virulentas onde o recurso ao insulto pessoal era o nível mais civilizado da coisa.
  • Agora, quando chamo amigo a um amigo, sei que é mesmo meu amigo.
  • A minha privacidade é, efetivamente, minha e privada.
  • Deixei de ser alvo de mal-entendidos inadvertidos ou propositados.
  • Uso de maior rigor e critério na seleção do que leio na Internet.
  • Estou a descobrir uma Internet, até aqui oculta sob as redes sociais, que se tem revelado bem interessante e com muita qualidade.
  • Já ninguém faz juízos de valor acerca do que penso, como, bebo, os locais onde vou, quando e porque vou e com quem vou.
  • Já não sou vítima de fake news nem tenho de me chatear com ninguém por ter revelado que uma certa notícia era falsa.
  • Deixei de sofrer daquela antecipaçãozinha de saber quantos vão ver ou ler uma publicação e quantos “gostos” vai ter o que trouxe muita paz à minha vida.
  • Sou mais igual a mim mesmo e menos permeável à opinião, à ação e às chatices de terceiros.
  • Os senhores do FB, e todos os outros, deixaram de poder fazer juízos de valor acerca de mim e das minhas opções de vida.
  • E, finalmente, não podia esquecer, deixei de ser ameaçado com 100 anos de azar e desgraças por não repassar um powerpoint manhoso por 15 “amigos”! E, claro está, deixei também de ser ameaçado com o pagamento súbito do FB ou mesmo o seu encerramento repentino se eu não mudasse uma certa configuração. O Facebook não me encerrou. Eu é que encerrei o Facebook!

Enfim, não sou melhor nem pior pessoa. Sou só mais igual a mim mesmo, mais genuíno e faço o que quero do meu tempo sem a interferência constante de terceiros. Não tenho nada contra quem tem Facebook, respeito a liberdade de opção das pessoas, mas não quero mais para mim aquilo que, agora vejo, ao cabo de simples 120 dias, era pernicioso para a minha vida, nada acrescentava e muito retirava. Não sofro a tentação de voltar. A Liberdade é assim, quando se experimenta, não se quer mais nada. E agora sou livre.

jpv


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Canon


Uma metáfora no olhar.
Um regato a murmurar.

Uma onomatopeia na voz.
Um som que ecoa em nós.

Uma antítese nos lábios.
Palavras loucas
E conselhos sábios.

Uma aliteração nos seios.
Suaves contornos
E serenos anseios.

Uma personificação na cintura.
Movimento de sedução e loucura.

Uma perífrase nas pernas.
Passada longa e antiga,
Formas modernas.

Uma sinédoque nas mãos.
A parte e o todo
Em rituais sagrados
E desejos pagãos.

E um oximoro no sexo.
Prender-te e soltar-te,
Possuir-te e ser possuído
No vórtice da coerência sem nexo.

jpv


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Inside Out


Cá fora é uma coisa.
Aí dentro é outra coisa mais linda.
É o tempo que não finda,
A carícia que persiste,
O olhar que contempla
E a voz que insiste
Em mostrar-me a eternidade.
Não há espaço,
Nem idade…
Só o olhar,
A carícia,
O desenho da emoção que impera.
A dor da suave espera.
Não magoa nem perturba
Esperar por ti.
Num átomo de tempo estarás aqui.
O que magoa
É a tua ausência.
A luz, a palavra,
O riso e a Ciência
Da Fé.
Magoa não sentir
O odor do teu corpo.
Não estares aqui
É jazer frio e morto
À espera que a vida se refaça.
O tempo passa
E a espera esfuma-se em nada.
A tua ausência, contudo,
Não pode ser apagada
Porque não se apaga das coisas
A essência.
Do amor,
Os amantes.
Do riso,
O espírito.
Do olhar,
A luz.
Do sexo,
O corpo que seduz.
Da palavra,
O ímpeto e a ternura.
Do gesto,
A intenção mais pura.
Cá fora é uma coisa,
Pobre e vazia.
Uma noite
Sem aurora nem dia.
Aí dentro é outra coisa mais linda,
O amor que não finda.
O poder todo do Universo
Num simples e singelo verso.
Aí dentro
Há um infinito.
Um silêncio
E um grito
Onde renasço,
Onde cresço
E habito.
Aí dentro…

jpv


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Três Mil e Seiscentos


Uma hora.
Sessenta minutos.
Três mil e seiscentos segundos.
Cada um deles
É uma eternidade,
Um tempo estrutural,
Uma fundação.
Um barquinho no temporal,
A minha mão
Na tua mão.
Cada segundo,
Não sendo nada para o mundo,
É um poço sem fundo
No amor que te tenho.
Não conheço o mapa,
Nunca vi o desenho
De estar contigo,
Mas sei este clamor,
Conheço esta força
E esta pujança
A cavalgarem-me a emoção
Quando,
Em um de três mil seiscentos,
A minha mão
Não encontra a tua mão.

jpv