
Não te reconheço, já,
No olhar desviado
E altivo.
Não percebo, sequer,
Qual seja o ímpio
Motivo
De teu fingimento
E de tua distância.
Vivo o desespero
E sofro a ânsia
De ver-te regressar
Ao menino que eras,
Repleto de sonhos
E quimeras,
Sorriso largo,
Palavra cristalina.
Não sei…
Não tenho como saber
Quem te desviou o olhar e o ser,
Quem destroçou teu coração.
Eu sou o amparo,
O peito aberto,
A mão que se estende
E fica estendida
À espera de preencher-se.
Mas a espera, meu amor,
Tem seu tempo.
Meu coração chora
Até deixar de acreditar
Que hás-de vir segurar
A minha mão aberta
Depois disso,
Sobra só uma alma magoada
E deserta
Que se fecha e esconde
E quer morrer sozinha
E devagarinho
Na segurança da solidão.
E este lamento
Que choro como uma prece
É um grito violento
Que expõe e oferece
Minha mão à tua,
Um olhar,
Uma alma nua.
jpv