
Ainda agora
Se não via,
Em teu rosto,
O mais insuspeito
Traço de alegria.
Ainda agora,
Há uns momentos atrás,
Diria que te faltava toda a paz.
Negro e dorido,
Teu coração,
Sem horizonte
Nem solução.
Ainda agora,
Há poucochinho,
Diria que choravas
Por dentro,
Vítima de violento
E incontrolado sentimento.
Mas ele chegou.
Talvez fosse um príncipe,
Mas não parecia um príncipe.
E teu rosto se iluminou.
Passo desacertado,
Chinelo no dedo,
Mal segurado.
A barba desalinhada,
A camisa branca aberta
E desengomada,
A alma deserta
De tudo,
Menos de ti,
Como querias.
Pensei que sabias,
Eu desejei, em tempos,
Ser ele.
E outra, que não conheces,
Eras tu.
Já não tenho
Esse desejo cru
E genuíno.
Hoje, contento-me
Com a tua luz,
Como o menino
Que vê brincar os outros
E fica feliz.
Não és ela.
Mas és a prova
De que havia,
Para o príncipe em mim,
Uma donzela.
E agora resta-me
Ver-te a face
Em leve rubor
De excitação.
Restam-me estes sentimentos
Confusos e dispersos,
Estas linhas sinuosas,
Estes atormentados versos.
jpv
