
Primeiro,
Pressente-se, ao longe,
Esfumada,
E não se percebe bem
O que lá vem.
Depois,
Cresce um pouco,
Um incómodo incerto,
Uma inquietação imprecisa.
Avança tímida e indecisa
E faz-se mais perto.
Agora,
É já uma visível preocupação,
Ou uma alegria exuberante,
Em todo o caso,
É inconfundível a excitação
E a inconstância constante.
Por fim,
Irrompe sob os dedos, em bailado,
A criação.
Um jogo de fúrias e medos em tornado.
E atropelam-se,
Galgam-se desejos e voracidades,
Procuram a frente e as verdades,
Anunciam batalhas, vitórias e perdições.
São só palavras
Desenhando emoções.
São só estas linhas imperfeitas.
São só esta coisa absurda
Que tenho no peito,
Este reduto último
De quem vive dilacerado e desfeito.
Cada palavra rasga-me a carne
E cada verso é escrito a sangue,
Cada estrofe é uma coisa que arde
E exala de meu cadáver exangue.
Palavras…
Arrancadas
À noite e ao dia.
Em minha mente
Torturadas…
Poesia.
jpv