Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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E havia tanto mar…

Não houve…
Não poderia ter havido.
Foi sempre um mar incerto,
Uma embarcação sem rumo
Nem sentido.

Não tem mais
Cavalos selvagens nos teus cabelos.
Não tem mais
Borboletas coloridas nos teus lábios.
Sucumbiste
Aos conselhos sábios
Da razão e da prudência.
Presente…
Só a ausência.

E havia tanto mar.
Havia tanto marinheiro.
Havia um homem por inteiro
E um desejo a saciar.
E agora
Há só este chão queimado,
Este deserto desolado
De ter-te.

Nem me viste.
Nem chegaste a ignorar-me.
Poeta sem poesia.
Modelo sem charme.
Músico sem notas.
Coração vazio
De onde brotas
Sem nunca
Teres entrado.
Só este terreno inóspito,
Este chão queimado.

Não houve…

João Paulo Videira


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Fogo

woman-black-and-white

Porque me namoras assim?
Porque me incendeias a alma
E a palavra
E ateias o lume do corpo?
Porque me dás sem pedir?
Porque me prendes
E me libertas?
Porque ofereces tuas formas
Às minhas mãos desertas?
Porque me acaricias a existência
E me abandonas a arder?
Porque me deixas ganhar-te
Se te não posso perder?

João Paulo Videira


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Revolta

Muda o tempo,
Muda a gente,
Muda a palavra
E a promessa,
Muda o encanto,
Muda o olhar
E o mudar não cessa.
Muda a luz,
Muda a paisagem,
Muda o piloto
E o destino da viagem.
Muda a intenção,
Muda o imutável,
Muda a geração
E o destino favorável.
Muda o amor,
Muda o corpo
E a sensação.
Muda o sexo,
Muda a cama
E o frio do chão.
Muda o desespero,
Muda a fome
E muda a solidão.
Muda o suor,
Muda o sol
E muda o vento.
Só não muda
Esta revolta cá dentro.

João Paulo Videira


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Leve Passada

Não se ouvem teus passos,
De leves que tens as passadas.
Não abres as portas
Que não estão fechadas.
Chegas e és tu,
Tua presença sente-se
Na ausência de ti.
És leve e de leveza
Se faz teu encanto,
Teu princípio
E teu fim.
Teu corpo anuncia desejos,
Teu olhar não esconde tentações.
Trazes nos lábios promessas de beijos
E nas palavras sementes de paixões.
E não invades.
Não me invades.
Danças ao ritmo
De meu peito.
Tens um certo e estranho jeito
De prender-me
E de me libertar.
Ainda agora começaste
E já estás a acabar…
Passas leve,
De leves tens as passadas.

João Paulo Videira