Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Retrato de Moça

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O olhar húmido
E inseguro.
Olhos pequeninos
Que brilham no escuro…
E suplicam.
Lábios finos
E gentilmente recortados
Ameaçam um sorriso
Que fica…
Na intenção.
Os dedos frágeis
E longilíneos
A explicarem-me as palavras.
Seios redondos,
Bem definidos,
E pequeninos,
Insinuam-se no teu peito
Ao peito que lavras…
De amor.
Tens a cintura da donzela
E o sexo da mulher.
Tens no corpo,
Sem saberes,
As obras do desejo
Que o homem quer.

Estás sentada
À porta do meu coração.
Sempre nua
Como a Thétis
Que o monstro petrificou.
Não estou mudo, eu,
Nem quedo.
Debato-me com a ânsia e o medo
De possuir-te,
De ter-te em meus braços,
E haver nisso
Um funesto e terrível feitiço.
Que estender-te a mão
E tocar-te
E prender-te minha
Desfaça a ilusão
E morra a esperança
E a melodia.

Ficarás sentada,
Em pose ténue e fugidia,
À porta de meu coração.

jpv


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Paradoxo Parental

iago-belem-rio

Tu não és só o filho.
És a luz no caminho de breu.
És a pegada no trilho.
És o amor que venceu.
És a minha vida noutro corpo.
És o desejo insano de estar morto…
Para que vivas.
És o querer estar vivo
Para ver-te viver.
És o paradoxo em mim.
A prisão e a libertação.
O abraço e a distância.
A lágrima e o riso,
A dor e o prazer,
A loucura e o juízo.

Tu, filho,
És tudo o que preciso
Para saber que estou vivo
E és a vida além de mim.
Meu princípio,
Meu fim.

Tu és o milagre
E a fantasia.
A verdade,
Certa e única,
De cada dia.

No teu olhar,
No teu sorriso,
Nos caracóis da tua barba
E na tua saudável loucura,
Vivem meu ímpeto
E minha doçura.

Tu és o meu errado
E o teu certo.
A minha imperfeição
E o teu gesto perfeito.
Tu és estar tudo feito
E haver tanto para fazer.
Tu és o passado nostálgico
E o futuro promissor,
Minha poesia…
Minha balada de amor.

jpv