Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Nota de Rodapé

jonas

O livro e a provocação!

Um dia destes, cheguei ao trabalho e, em cima da minha secretária, estava um livro e uma provocação. O livro era “O Centenário que Fugiu pela Janela e Desapareceu” e a provocação era um bilhetinho do JM que dizia “Vais Gostar!”.

Importa, antes de mais, agradecer ao JM a generosidade da partilha. Pela maravilhosa pessoa que é, pelo excecional colega que se tem revelado, pela surpresa e pela agitação constante que traz às nossas vidas, no local de trabalho. Pela inteligência, pela sensibilidade e pela generosidade.

E lá fui ler o livro. Tem sido uma trepidante aventura. Terminei hoje com pena de que tivesse terminado. Apesar do título apontar para um centenário, todo o romance tem um ritmo alucinante entre o verosímil e o fantástico e com uma orquestração de factos históricos e aventuras fictícias absolutamente genial. Posso até dizer que olhei o envelhecimento com um pouco mais de esperança. Na verdade, este livro ensina-nos que tudo é possível, com a atitude certa e… um copo de vodka por perto!

Caros amigos e leitores, eu sei de que devia estar a fazer um post para vos aconselhar a leitura de “De Negro Vestida”, mas… há mais vida e há tantos livros fantásticos! Não percam este.

Boas Leituras!
Obrigado JM!
jpv

 


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Normas de Boa Convivência

Ainda me lembro do meu pai na sua eterna janela, já doente, prisioneiro do espaço, encontrar numa pomba a liberdade possível. Sempre gostou de animais. Tinha por hábito dar nomes, por exemplo, aos pássaros. Recordo piriquitos com que o meu pai conversava e batizara de Chico e Chouriço. A pomba vinha às migalhas que ele colocava na janela e ele habitou-a a esse repasto. E assim tinham negócio montado. Ele providenciava os víveres, ela fornecia a companhia.

Quando recentemente mudámos de casa, já cá havia inquilinos de diversa ordem. E em número basto. Rãs, caracóis, lagartixas, baratas e uma imensidão de aves a popular a casa. um casal de pardais fez ninho mesmo por cima da porta de entrada, ao abrigo do telheiro. Escolha sensata. Sobretudo porque a casa não tinha humanos. Quando os humanos chegaram, os ovos estavam postos e continuou-se a azáfama de acabar o ninho pois que estes homens não tinham vindo para aborrecer, exceto às primeiras horas do dia, quando se sentavam por baixo do ninho a tomar o café da manhã.

Certo vendaval noturno trouxe a desgraça. O ninho caiu ao chão. Pela manhã, os humanos iam espetar com aquilo tudo no lixo. Mas não foi isso que fizemos. A Paula foi buscar um vaso de flores daqueles que se suspendem e eu inventei uma forma de pendurar a geringonça num candeeiro por baixo do telheiro. Quando apanhámos o ninho do chão, os jovens pardalitos estavam em mau estado, cabeça a baixo, cheios de palhas, uma bagunça e uma desarrumação. Duas horas foi o tempo necessário para que os pais pusessem a casa em ordem e lavassem as crias.

Quatro dias depois, a malta parece toda muito saudável e chilreante. Estão gordos. Lá fora, tal como cá dentro, ninguém se queixa da cozinheira.

Ao longo dos dias, fez-se a reportagem fotográfica que agora se revela.

Comissão de boas vindas pelo pai pardal.

A habitação tal como a encontrámos.

 

Em processo de mudança após o desalojamento provocado pelo vendaval.

 

Duas horas após a mudança, já a tropa estava toda alinhada e limpinha!

 

O mesmo que o anterior noutra perspetiva.

 

Somente quatro dias depois, a malta já tem casacos novos e engordou muuiiiito!

 

Como as janelas são fumadas e não se vê de fora para dentro, dá para acompanhar a vida da família Pardal bem de perto. Aqui a mãe estava a alimentar as crias.

Vista geral do condomínio!

   jpv


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Nefasta Nuvem

9622d-pai-jpUm segundo perdido.
Um fugaz momento.
Um bater de asas no ar.

Um olhar fugido
Sem espaço nem tempo.
Um coração a pulsar.

Uma palavra segura.
Um raio de luz
Desenhado numa sala escura.

Uma prisão
E a liberdade.
Um corpo caído na estrada
Sem desejo nem vontade.

Um quase poema.
Uma redação da primeira classe
Escrita sobre o joelho
Num papelinho
Onde coube uma casa, uma árvore…
E um caminho.

Um fim.
E um princípio.
Uma solidão
Entregue à tua distante
Companhia.
Uma noite
Que teima em fazer-se dia
Contra minha triste determinação.
A ausência da tua mão,
E nela as mãos todas. Outras.

Uma linha de vida
E um nó.
Uma alma perdida
Em nefasta nuvem de pó.

jpv