Ainda me lembro do meu pai na sua eterna janela, já doente, prisioneiro do espaço, encontrar numa pomba a liberdade possível. Sempre gostou de animais. Tinha por hábito dar nomes, por exemplo, aos pássaros. Recordo piriquitos com que o meu pai conversava e batizara de Chico e Chouriço. A pomba vinha às migalhas que ele colocava na janela e ele habitou-a a esse repasto. E assim tinham negócio montado. Ele providenciava os víveres, ela fornecia a companhia.
Quando recentemente mudámos de casa, já cá havia inquilinos de diversa ordem. E em número basto. Rãs, caracóis, lagartixas, baratas e uma imensidão de aves a popular a casa. um casal de pardais fez ninho mesmo por cima da porta de entrada, ao abrigo do telheiro. Escolha sensata. Sobretudo porque a casa não tinha humanos. Quando os humanos chegaram, os ovos estavam postos e continuou-se a azáfama de acabar o ninho pois que estes homens não tinham vindo para aborrecer, exceto às primeiras horas do dia, quando se sentavam por baixo do ninho a tomar o café da manhã.
Certo vendaval noturno trouxe a desgraça. O ninho caiu ao chão. Pela manhã, os humanos iam espetar com aquilo tudo no lixo. Mas não foi isso que fizemos. A Paula foi buscar um vaso de flores daqueles que se suspendem e eu inventei uma forma de pendurar a geringonça num candeeiro por baixo do telheiro. Quando apanhámos o ninho do chão, os jovens pardalitos estavam em mau estado, cabeça a baixo, cheios de palhas, uma bagunça e uma desarrumação. Duas horas foi o tempo necessário para que os pais pusessem a casa em ordem e lavassem as crias.
Quatro dias depois, a malta parece toda muito saudável e chilreante. Estão gordos. Lá fora, tal como cá dentro, ninguém se queixa da cozinheira.
Ao longo dos dias, fez-se a reportagem fotográfica que agora se revela.

Como as janelas são fumadas e não se vê de fora para dentro, dá para acompanhar a vida da família Pardal bem de perto. Aqui a mãe estava a alimentar as crias.
jpv







06/12/2014 às 23:24
Espetacular relato! Mas em nada surpreendente… Vindo deste ser humano , eeste sim,Espetacular e único! Parabéns! É sempre com muito gosto que leio qualquer texto seu. MT obrigado e boa continuação. bjinhos
GostarGostar
07/12/2014 às 09:21
Olá, Ema! Muito obrigado por tanta generosidade. Fico um pouco sem jeito e muito responsabilizado. Muito obrigado, de novo. Um grande beijinho e, quem sabe, até breve! 🙂
GostarGostar
06/12/2014 às 19:58
Muito obrigado, Augusta, pela simpatia das tuas palavras. Um grande beijinho. // Olá, D! Estão quase a voar… já se mexem imenso! // Obrigado JNascimento, pela divulgação.
GostarLiked by 1 person
06/12/2014 às 16:58
Belíssimo texto, João Paulo! Obrigada por partilhares as tuas belíssimas palavras!
GostarGostar
06/12/2014 às 16:09
Uma bonita família 🙂
Resta-lhes agora crescer para poder voar em breve!
Beijinhos!
GostarGostar
06/12/2014 às 16:05
Reblogged this on O Retiro do Sossego.
GostarGostar