Crónicas de Maledicência – O Skype e Eu
Há uns tempos escrevi uma crónica de maledicência intitulada “O Facebook e Eu”. Hoje é a vez do Skype.
Ainda sou do tempo em que o Skype só existia na ficção científica. Por essa altura, a existência de um telefone através do qual fosse possível ver quem estava do outro lado da linha era uma deliciosa, mas remota possibilidade.
Hoje é real e une e aproxima famílias e amigos por todo o mundo. Atenua ausências, ilude presenças. As pessoas percorrem as casas com o portátil na mão para mostrar como vivem, passam os dedos pelo ecrã simulando que tocam quem está do lado de lá, mostram os animais domésticos, o que estão a comer, o que trazem vestido, e olham-se como se estivessem a ver-se… mas não estão!
Eu não gosto do Skype. Uso-o mais para não desiludir os meus familiares do que por gostar da experiência. Eu sinto as mesmas profundas saudades que os outros, as mesmas dores de separação, as mesmas dúvidas… mas o Skype não me atenua nada disso, pelo contrário. E é por isso que não gosto dele.
O Skype não me atenua a distância, torna-ma mais vívida. O Skype não me cria a sensação de que estive com as pessoas, aviva-me a distância que me separa delas. O Skype não me cria a ilusão de que estive com os familiares, consciencializa-me o quão longe estou deles. O Skype torna-me mais pesado cada dia que falta até ao próximo reencontro. O Skype incomoda-me como me incomoda saber que não há magia, mas ilusionismo. Não é para mim uma quase possibilidade, é uma impossibilidade, não é para mim uma quase verdade, é uma mentira enganosa.
Sim, por vezes, lá de longe a longe, gosto de rever a família e trocar umas palavras como quem mata saudades. Lá de longe a longe… Tirando isso, prefiro saber que a família está bem e manter essa distância para revê-los ao vivo quando for possível, do que me enganar com a falsa proximidade digital. Prefiro três linhas escritas. Um telefonema rápido. Aquilo de ver as pessoas, ali mesmo, ao alcance da mão e não poder tocar-lhes é como se fosse uma promessa de vida quebrada à partida, um beco sem saída onde nos metemos sabendo para onde vamos, um Sísifo, um Tântalo…
O Skype magoa-me e incomoda-me. Lembra-me que algo está errado. Fora do sítio. Peça perdida de um puzzle inacabado. Mas isto sou só eu… um tipo esquisito.
jpv
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Fotos de Família




10/12/2014 às 02:02
Estimado Prof. JPV, como o compreendo 😦
O Skype é do tipo molho “Agridoce”, se por um lado revemos e ouvimos quem mais gostaríamos de abraçar, por outro lado, quando se termina a ligação e ecoa o sinal supersónico, fica a sensação estranha de alegria tristonha e um imenso vazio no coração!!
Valha-nos porém, a imagem e o som em tempo real….que também é tão bommmmm 😉
Grande beijinho
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17/11/2014 às 22:05
Acho que consigo compreender o que dizes sobre o skype. Não é magia.
Porém, acredito que pode facilitar a separação, sobretudo para para os familiares e amigos que, não tendo tomado a decisão do afastamento, podem assim ter uma sensação de “imitação de proximidade”.
Beijinhos!
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18/11/2014 às 06:49
Bem visto, my dear D… never the less… Hugs and kisses! jpv
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17/11/2014 às 20:10
Olá Tecas! Então é assim: eu vou a Portugal no Natal. Já terminei “A Paixão de Madalena” como sabes, mas devido ao volume de trabalho que tenho tido ainda consegui passar tudo do manuscrito para formato digital. Falta-me meia dúzia de capítulos. Isso impossibilitou-me de negociar a publicação. // Quanto a regressar… eu nunca digo ‘desta água não beberei’. Ou digo pouco. Muita coisa pode acontecer na minha vida. Estou sempre aberto à mudança e adapto-me com muita facilidade, contudo, a resposta mais plausível à tua pergunta é que não regressarei a Portugal tão depressa. Sei que voltarei, mas não penso nisso porque, neste momento, a vida é aqui e por aqui vai continuar salvo qualquer imprevisto. Posso perguntar porque perguntaste? Um grande beijinho. jpv
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17/11/2014 às 20:04
Caro JNascimento: grato por divulgar o texto como, de resto, faz com assinalável frequência. São reflexões que nascem nas vivências. É natural, por isso, que façam sentido para outras pessoas. É que aquilo incomoda-me mesmo!
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17/11/2014 às 18:20
Reblogged this on O Retiro do Sossego and commented:
Boa! nunca tinha pensado o skype nessa perspectiva. Mas realmente é isso. quando falamos pelo skype com algum amigo ou familiar que está longe aviva-nos a vontade de correr para abraçá-los, e no final da conversa, ficamos com mais saudade.
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17/11/2014 às 17:39
Quero saber se vens cá pelo Natal e se vai haver uma nova surpresa! âº
A Paixão da Madalena vai sair?
Conta-me tudo!
Beijinhos
Teresa
PS: Já agora, está no teu horizonte, voltares para Portugal? Ou isso é uma visão muito longÃnqua?â¦.
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