
O presente texto constitui um excerto do capítulo 21 do Romance “A Paixão de Madalena” que publicaremos em breve.
A PAIXÃO DE MADALENA
LIVRO III – CAIM E ABEL
21. Um mês antes. Exatamente um mês antes, em 24 de março de 1973, Manuel Paixão regressou. Vinha farto de África, queimado do sol, com a alma gasta, o corpo mal tratado e o nome sujo, cansado de andar de impresso em impresso. Quando finalmente pisou solo português, era um homem agastado, zangado com a vida, cheio de vícios no corpo e impaciências na alma. Não avisou que chegaria e quando o autocarro o largou na aldeia, a notícia correu as ruas à velocidade da luz, propagou-se de porta em porta, de postigo em postigo, e ninguém se importou com o seu estado ou mesmo com o que poderia fazer quando reencontrasse o irmão ou a mulher que, segundo rumores, estava grávida, quase a parir. Deolinda Paixão, sua mãe, mulher de públicas lágrimas e mandar dizer missas pelo regresso do filho, foi ao seu encontro no largo da aldeia onde o autocarro o deixara e os amigos e conhecidos lhe perguntavam como era África e que tal estava a guerra, se era mesmo para ganhar, e abraçou-o num pranto que mais parecia que ele tinha morrido do que regressado são e salvo, tanto quanto se podia ver:
– Meu filho, meu querido filhinho, tu voltaste, meu filhinho!
– Sim, minha mãe, já cá estou e isso é que importa. Acalme-se, minha mãe.
– Ai a minha família reunida, os meus meninos juntos outra vez. Patrocínio! Chamem o meu Patrocínio! Que venha abraçar o Manuel que chegou vivo da guerra. Já chega de desgraças nesta família, já chega de esperas e lágrimas.
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[O presente texto constitui um excerto do Capítulo 21 de “A Paixão de Madalena” a publicar em breve em livro. Boas leituras!]