Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


Deixe um comentário

A Paixão de Madalena – Capítulo 22 (Excerto)

capa-apm-4

O presente texto constitui um excerto do capítulo 22 do Romance “A Paixão de Madalena” que publicaremos em breve.

 

A PAIXÃO DE MADALENA

LIVRO IV – ASCENÇÃO E QUEDA

22. Àquela época, tinham os homens estabelecido, contra a sua própria natureza, que nem todos nasciam livres. Isso seria privilégio de alguns. Os outros teriam de conquistar, ou mesmo comprar, a liberdade. A mairia morria escrava. Ora, em tratando-se de mulheres, mais evidente se tornava a calamidade. É que, mesmo as mulheres de linhagem, só eram livres em lhes sendo concedida a liberdade por seus maridos. Haveria, por certo, os conformados, que em toda a parte os há de haver sempre. E haveria os que queriam viver livres. Muitos nem sabiam porquê. Tinham nascido com aquela ideia ou alguém lha semeara em dado momento e ela florira impertinente. E haveria aqueles, raros, que, como Maria de Magdala, o que queriam era morrer livres.

 

———————————- jpv ———————————-

[O presente texto constitui um excerto do Capítulo 22 de “A Paixão de Madalena” a publicar em breve em livro. Boas leituras!]


Deixe um comentário

A Paixão de Madalena – Capítulo 21 (Excerto)

capa-apm-4

O presente texto constitui um excerto do capítulo 21 do Romance “A Paixão de Madalena” que publicaremos em breve.

A PAIXÃO DE MADALENA

LIVRO III – CAIM E ABEL

21. Um mês antes. Exatamente um mês antes, em 24 de março de 1973, Manuel Paixão regressou. Vinha farto de África, queimado do sol, com a alma gasta, o corpo mal tratado e o nome sujo, cansado de andar de impresso em impresso. Quando finalmente pisou solo português, era um homem agastado, zangado com a vida, cheio de vícios no corpo e impaciências na alma. Não avisou que chegaria e quando o autocarro o largou na aldeia, a notícia correu as ruas à velocidade da luz, propagou-se de porta em porta, de postigo em postigo, e ninguém se importou com o seu estado ou mesmo com o que poderia fazer quando reencontrasse o irmão ou a mulher que, segundo rumores, estava grávida, quase a parir. Deolinda Paixão, sua mãe, mulher de públicas lágrimas e mandar dizer missas pelo regresso do filho, foi ao seu encontro no largo da aldeia onde o autocarro o deixara e os amigos e conhecidos lhe perguntavam como era África e que tal estava a guerra, se era mesmo para ganhar, e abraçou-o num pranto que mais parecia que ele tinha morrido do que regressado são e salvo, tanto quanto se podia ver:

– Meu filho, meu querido filhinho, tu voltaste, meu filhinho!

– Sim, minha mãe, já cá estou e isso é que importa. Acalme-se, minha mãe.

– Ai a minha família reunida, os meus meninos juntos outra vez. Patrocínio! Chamem o meu Patrocínio! Que venha abraçar o Manuel que chegou vivo da guerra. Já chega de desgraças nesta família, já chega de esperas e lágrimas.

———————————- jpv ———————————-

[O presente texto constitui um excerto do Capítulo 21 de “A Paixão de Madalena” a publicar em breve em livro. Boas leituras!]


Deixe um comentário

A Paixão de Madalena – Capítulo 20 (Excerto)

capa-apm-4

O presente texto constitui um excerto do capítulo 20 do Romance “A Paixão de Madalena” que publicaremos em breve.

A PAIXÃO DE MADALENA

LIVRO III – CAIM E ABEL

20. Quase sem saber, por certo sem querer, fora o próprio Lucílio da Conceição quem apressara os acontecimentos porquanto, certa tarde, na tasca do Quim da Barbuda, cruzou-se com Patrocínio Paixão e não resistiu a provocar o mancebo:

– Olha lá, ó miúdo, tu é que te podias fazer útil e ias lá àquilo meu, batias à porta, anunciavas-te em nome das saudades que hás de sentir pela minha filha, e estás por ali um bocado com elas, vês como estão a desenrascar-se sozinhas, sem um homem macho por perto, e depois vens-me fazer o relato da coisa. Que te parece, hã?

– Senhor Lucílio, quando eu quiser visitar a minha cunhada, hei de fazê-lo por meus próprios motivos e por minha própria conta, sejam eles matar as minhas saudades ou levar e trazer novas para meu irmão, que terá cometido os seus erros, por eles está a pagar, mas continua a ser o esposo da senhora sua filha e o pai da menina, sua neta. E agora, se me dá licença, até mais ver.

———————————- jpv ———————————-

[O presente texto constitui um excerto do Capítulo 20 de “A Paixão de Madalena” a publicar em breve em livro. Boas leituras!]