Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Desportos Motorizados


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A imagem está assim às riscas porque é o que acontece quando se tira uma foto a um ecrã que não tem 100 hertz, mas isso agora não interessa nada.

Chega um homem do trabalho, cansado, apetece-lhe ver um pouco de televisão e vai fazer um seu zap. E o que é que encontra? Encontra o EuroSport a transmitir esse entusiasmante desporto motorizado que é o… snooker! Cá para mim joga-se com tacos a gasolina!

Não? Ora leiam com atenção a descrição informativa…
jpv


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TOP 5 MPMI


O que procuram os leitores de MPMI?
Bem, ironizando, eu diria que procuram o Benfica! Ou… poesia!

Ainda como eco do nosso quarto aniversário, deixo aqui algumas estatísticas, nomeadamente, das publicações mais procuradas no último mês e daquelas que são as mais procuradas de sempre, ou seja, desde 12 de maio de 2009 até hoje. É O top 5 de MPMI.

É claro que os números podem ser traiçoeiros. Por exemplo, alguém procura uma imagem do Benfica, escreve SLB no Google e um dos sites que aparece referenciado é MPMI. A pessoa visita o site durante três segundos e vai-se embora. Contudo, os leitores que procuram a poesia ou os romances, vindo muito menos vezes ao MPMI, ficam por cá entre 20 e 80 minutos, havendo mesmo quem tivesse ficado 240 minutos.

Ainda assim, aí fica a curiosidade. As mensagens estão ligadas para as poderem revisitar.

TOP 5 MPMI
Das Publicações Mais Lidas

Nos últimos 30 dias:

1.º“Vermelho Direto – O Benfica é mesmo o Maior”
Tipo de Texto : Crónica Desportiva
Data da Publicação: 26 de maio de 2013
Número de leituras: 126

2.º – “Crónicas de Maledicência – O Palhaço da Discórdia”
Tipo de Texto : Crónica Social e Política
Data da Publicação: 26 de maio de 2013
Número de leituras: 124
Endereço: http://mailsparaaminhairma.blogspot.com/2013/05/cronicas-de-maledicencia-o-palhaco-da.html#.UcHBQPk70vw

3.º – “SLB”
Tipo de Texto : Apontamento
Data da Publicação: 02 de março de 2011
Número de leituras: 121
Endereço: http://mailsparaaminhairma.blogspot.com/2011/03/slb.html#.UcHBS_k70vw

4.º – “É tão pouco, o Mar”
Tipo de Texto : Poesia
Data da Publicação: 29 de junho de 2012
Número de leituras: 104
Endereço: http://mailsparaaminhairma.blogspot.com/2012/06/e-tao-pouco-o-mar.html#.UcHBUfk70vw

5.º – “Crónicas de Maledicência – A Credibilidade da Troika”
Tipo de Texto : Crónica Social e Política
Data da Publicação: 15 de junho de 2013
Número de leituras: 53
Endereço: http://mailsparaaminhairma.blogspot.com/2013/06/cronicas-de-maledicencia-credibilidade.html#.UcHBUfk70vw

De Sempre (12/05/2009 – 19/06/2013):

1.º – “SLB”
Tipo de Texto : Apontamento
Data da Publicação: 02 de março de 2011
Número de leituras: 6349
Endereço: http://mailsparaaminhairma.blogspot.com/2011/03/slb.html#.UcHBS_k70vw

2.º – “Púbis”
Tipo de Texto : Poesia
Data da Publicação: 14 de outubro de 2010
Número de leituras: 3488
Endereço: http://mailsparaaminhairma.blogspot.com/2010/10/pubis.html#.UcHEjvk70vw

3.º – “Silhueta de mulher com por-do-sol ao fundo”
Tipo de Texto : Poesia
Data da Publicação: 22 de outubro de 2010
Número de leituras: 2283
Endereço: http://mailsparaaminhairma.blogspot.com/2010/10/silhueta-de-mulher-com-por-do-sol-ao.html#.UcHEkfk70vw

4.º – “Citação do Equívoco”
Tipo de Texto : Citação
Data da Publicação: 10 de março de 2011
Número de leituras: 1735
Endereço: http://mailsparaaminhairma.blogspot.com/2011/03/citacao-do-equivoco_10.html#.UcHEmfk70vw

5.º – “É tão pouco, o Mar”
Tipo de Texto : Poesia
Data da Publicação: 29 de junho de 2012
Número de leituras: 1382
Endereço: http://mailsparaaminhairma.blogspot.com/2012/06/e-tao-pouco-o-mar.html#.UcHBUfk70vw

————————– Boas Leituras ———————-jpv—-


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Mails para a minha Irmã no Facebook

MPMI fez há pouco tempo 4 anos. Todas as suas publicações era publicitadas no Facebook através da minha página pessoal naquela rede social. Ora, o autor e o Blogue do Costume começavam a confundir-se e, assim, desde o passado sábado que “Mails para a minha Irmã” tem uma identidade própria no Facebook, ou seja, o blogue tem a sua própria página: http://www.facebook.com/jpvideira
Convido-vos a visitá-la e, se a considerarem merecedora disso, a fazerem um “Gosto”.
Realço ainda que, desde o primeiro dia, 12 de maio de 2009, “Mails para minha Irmã” é um blogue gratuito, disponibiliza os seus conteúdos de forma totalmente livre ainda que, claro, a autoria de todos os textos esteja registada na IGAC.
Ou seja, a minha “competição” por “Gostos” é só mesmo para ver a família de amigos e leitores crescer. Não tem, por isso, qualquer outra motivação. Posso um dia publicar livros e esses, sim, venderei, mas gostava de manter sempre o conteúdo de “Mails para a minha Irmã” de acesso totalmente livre.
De resto, o Facebbok continuará a ser um meio de comunicação para manter os amigos e leitores informados, mas os textos integrais continuarão a ser publicados aqui no Blogue do Costume ou, como já lhe vão chamando carinhosamente, no MPMI.
Um forte abraço e um agradecimento a todos os amigos e leitores pela vossa dedicação e pelas vossas leituras.
jpv


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Crónicas de Maledicência – Carta de Conveniência

Crónicas de Maledicência – Carta de Conveniência

Eu nem devia dizer isto porque sou homem, muito menos escrevê-lo, mas enfim, cá vai: então as mulheres ainda não aprenderam que, se disserem a um homem, “Utiliza-me como te convier.”, há uma probabilidade elevadíssima de ele o fazer?!

A Senhora da Imagem é Christine Lagarde, a diretora do FMI. Sim, esses mesmos que nos andam a exigir sacrifícios e a errar nas contas e nas folhas dos excéis. Ora, a senhora escreveu uma cartinha ao então presidente de França, Nicolas Sarkozy, e, entre outros mimos, trata-o por “querido”, diz-lhe que existe para o servir e acaba dizendo a lapidar frase “Utiliza-me como te convier.” E ele utilizou. Não, caro leitor, não vá pelos caminhos sinuosos da libido porque o Sarkozy já tinha a Carla Bruni que lhe dava uma trabalheira. De cada vez que a excelsa modelo francesa pedia uma beijoca ao presidente, lá ia ele buscar o escadote e vai de subir e vai de beijar e vai de descer. Ou seja, Lagarde bem quis, mas ele não podia mais. Então, serviu-se dela para, alegadamente (escrevendo esta palavra livro-me de processos), se dirigir ao presidente jurando-lhe fidelidade. Acontece que a folha da senhora está tão limpa como um pano de mecânico, os mecânicos que me perdoem, e ela estava a ser investigada no escândalo Tapie quando a terna missiva foi encontrada.

Pergunta o leitor, com toda a razão, Ó JP e quando é que começas a fazer sentido? Vai já, caro leitor, vai já!

Acontece que o tribunal condenou o Estado Francês, representado por Sarkozy, a pagar a um empresário chamado Bernard Tapie a módica quantia de 403 milhões de euros sendo que, pasme, amigo leitor, pasme, Tapie é amigo de Sarkozy e Christine Lagarde é amiga dos dois e até se predispõe a ser usada por um deles como, a ele, lhe convier. Não censuremos a senhora! Se eu tivesse uma amiga com uma amiga com 403 milhões de euros eu não só escrevia à minha amiga para me usar como lhe conviesse, como escrevia às DUAS para me usarem como lhes conviesse.

Conclusões. A senhora da foto é amiga de um tipo que era chefe de estado quando o seu amigo, também amigo dela, o processou e ganhou e ela assistiu a tudo e calou-se. E o que é que isto tem a ver connosco? Simples. Está a ver a dificuldade em pagar a conta da luz, em fazer compras no supermercado, em comprar o gasóleo? Pois, ela não tem, mas o caro leitor tem. Por via de uma austeridade imposta por uma equipa que esta senhora dirige!

E pronto, traçada a teoria da conspiração, vou ali escrever uma carta e já venho:

“Querida Christine,
Utiliza-me como te convier…”

Tenho Dito!
jpv


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Crónicas de Maledicência – Bacalhau com Natas


Parece bacalhau com natas? Cuidado, podem ser só as natas!

Crónicas de Maledicência – Bacalhau com Natas

Lá diz o aforismo popular, e muito bem, que “Quem nasceu para caracol, nunca chega a bacalhau”!

Nem mesmo que tente esgueirar-se sorrateiramente por entre as natas! Naaa… ele há dignidades que vêm do berço, são inerentes à condição com que nasce um peixe. Foi, no mínimo, uma parvoíce do Peixe Caracol achar que passava despercebido por entre as natas e assim ascendia a bacalhau. Acaso passou-lhe pela cabeça que a ASAE não escrutinava tudo o que é bacalhau? Estou mesmo a ver o Peixe Caracol escondido entre as natas e a batata frita e o zeloso agente a dizer: “Alto e para o baile que isso é caracol não é bacalhau!” E apreendeu-se o subversivo peixe. É caso para se dizer que ia ali caracol escondido com os corninhos de fora!
E porque é que esta não notícia é notícia? Para distrair a malta da greve dos professores? Não creio, essa tem todas as atenções. Para distrair a malta das declarações climatológicas do Senhor Ministro das Finanças? Também não creio, esse deve ser o homem sobre o qual pendem mais olhares! Acho mesmo que é uma chico-espertice dessas cadeias de supermercados de nome duvidoso e difícil de pronunciar que achavam que conseguiam enganar, falsificando bacalhau com natas, o povo que inventou o bacalhau!
Ó senhores, Deus que é Deus nem estava para criar o bacalhau. Foi preciso um português, ainda de tanguinha paradisíaca, não é como as de agora que são impostas pelo FMI, dizer ao Criador: Olha lá Deus, e não estás a esquecer-te de nada? Olha que matas antes de nascer a indústria da pesca do bacalhau! E Deus, perplexo, terá perguntado, Da pesca de quê? E pronto, após a explicação, o Criador fez um plim com os dedos e criou o bacalhau. Ora, vir agora um empacotador de bacalhau com natas, achar que fintava os protugueses nesta matéria é, no mínimo, ingenuidade, mas cheira-me a burrice.
Mas há mais grave. Ainda se fosse substituir o bacalhau por peixe adjacente, a malta até podia, num dia de distração, ser enganada. Agora pelo pobre do Peixe Caracol… Então não se está mesmo a ver que a ranhoca ia denunciar o dito? Eu bem sei que é com natas e o bacalhau com natas está para o peixe como a bolonhesa para a carne, aquilo pode lá ter tudo, até carne, que no meio da misturada de proteínas e molhos e temperos e sabores, a coisa passa despercebida. Normalmente, faz-se com restos! Acontece que, além de se auto-denunciar pela baba, o Peixe Caracol é proibido em Portugal! E, no meio deste arrazoado mal amanhado de crónica, era aqui que importava chegar. Então substituem um peixe digno, consumido há milénios, quem sabe, mesmo há séculos, ou até talvez há décadas, por um peixe de consumo proibido e estavam à espera que a malta não notasse?! Isso só tem paralelo naquela jogada política que foi tentar convencer os trabalhadores portugueses de que eles é que eram os culpados da crise, os agentes do seu próprio desemprego. A malta ouve, engole o primeiro argumento e, ainda o segundo não foi proferido, já o esquema está desmontado, os verdadeiros barões da crise denunciados, a situação esclarecida e a verdade reposta. O problema do nosso povo é que no fim de se darem à trabalheira de desmascarar a coisa, vai-se a ver e ainda comem o Peixe Caracol, se não souber mal, a malta afinfa-lhe o dente, empurra com uma cervejola e no fim ainda se faz aquela graçola do “Comi que nem um abade. Você comeu foi que nem uma besta que abade sou eu e não como assim”.
Hoje, ao final do dia, já saberemos quem são os abades e as bestas!
Tenho Dito!
jpv


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Crónicas de África em Imagens – Maputo Outdoor

Crónicas de África em Imagens – Maputo Outdoor

Maputo, 16 de junho de 2013

Uma das marcas culturais e epocais da Capital Moçambicana são os outdoor. É, eventualmente, o meio de publicidade mais utilizado e é, sem sombra de dúvida, um dos mais eficazes.

Há publicidade na TV, há na rádio e nos jornais, mas os outdoor marcam o quotidiano colorindo a cidade, transformando as fachadas laterais dos prédios, normalmente com a pintura degradada, em espaços que atraem o olhar e anunciam empresas, serviços e produtos.

Os outdoor são aos milhares, em papel, em palhinha, eletrónicos e de todos os tamanhos e feitios. Contudo, os que mais caraterizam a paisagem da cidade são os gigantescos mega-anúncios colocados nos edifícios.

Abaixo, deixamos 26 exemplos com um pequeno comentário onde se inclui a localização. As fotos foram tiradas com telemóvel e algumas até foram captadas em movimento daí que a sua qualidade possa não ser a melhor, mas  não era esse o objetivo. Divirta-se a analisar o que se anuncia, a linguagem utilizada e a composição gráfica escolhida para os maiores anúncios de Maputo.

KFC – Av. 25 de Setembro.
A concorrente Mcdonald’s não está autorizada a operar em Moçambique.
 Amarula – Av. 24 de Julho
Trata-se de uma bebida alcoólica produzida a partir da planta/fruto que lhe dá o nome.
É produzida na África do Sul.
Western Union – Av. 24 de Julho
Este anúncio tem a particularidade de ser um dos poucos onde se identifica a empresa que o produziu.
Coca-Cola – Av. 24 de Julho
A bebida mais consumida e mais barata de Moçambique. Uma garrafa de Cola-Cola tem o preço tabelado e impresso na cápsula. Custa 12 meticais (menos de 0,30€).

Blue – Av. Eduardo Mondlane
Trata-se de uma bebida muito consumida. Tem uma variedade muito grande de sabores.
Mcel – Av. Eduardo Mondlane
Operadora telefónica Moçambicana. Tem um dos slogans mais usados em Moçambique porque radica numa expressão popular: “Estamos Juntos”. Significa somos amigos, estamos em consonância, estamos de acordo.
Cartrack – Av. Rduardo Mondlane
Sistema de rastreio de carros furtados.
Mcel – Av. Eduardo Mondlane
Operadora telefónica Moçambicana. Tem um dos slogans mais usados em Moçambique porque radica numa expressão popular: “Estamos Juntos”. Significa somos amigos, estamos em consonância, estamos de acordo.
Mcel – Av. Eduardo Mondlane
Operadora telefónica Moçambicana. Esta série de outdoors é feita usando texturas típicas de Moçambique.
TDM – Av. Eduardo Mondlane
Operadora de Internet e comunicações Moçambicana.
Colgate – Av. Eduardo Mondlane
Millennium – Av. Eduardo Mondlane
A marca Millennium, em Moçambique, pertence ao grupo BIM. O grande concorrente é o BCI, pertencente ao Grupo Caixa Geral de Depósitos.
TDM – Av. Eduardo Mondlane
Operadora de Internet e comunicações Moçambicana.
Vodacom – Av. Eduardo Mondlane
Operadora telefónica do grupo Vodafone. O crédito vodacom é em duas “moedas”. Meticais para o saldo real, a usar em chamadas para outras operadoras. E saldo “Vodacom” a usar entre clientes da operadora. Nessa modalidade, há chamadas muito baratas, a partir de 2 meticais por minuto (0,025€). A simpatia moçambicana acolheu muito bem um slogan da Vodacom: “Tudo bom pra ti!” e a expressão entrou no quotidiano.
Blue – Av. 24 de Julho
Trata-se de uma bebida muito consumida. Tem uma variedade muito grande de sabores.
Vodacom – Av. Mao Tse Tung
Operadora telefónica do grupo Vodafone. O crédito vodacom é em duas “moedas”. Meticais para o saldo real, a usar em chamadas para outras operadoras. E saldo “Vodacom” a usar entre clientes da operadora. Nessa modalidade, há chamadas muito baratas, a partir de 2 meticais por minuto (0,025€). A simpatia moçambicana acolheu muito bem um slogan da Vodacom: “Tudo bom pra ti!” e a expressão entrou no quotidiano.
Mcel – Av. Eduardo Mondlane
Operadora telefónica Moçambicana. Tem um dos slogans mais usados em Moçambique porque radica numa expressão popular: “Estamos Juntos”. Significa somos amigos, estamos em consonância, estamos de acordo.
Vodacom – Av. 24 de Julho
Operadora telefónica do grupo Vodafone. O crédito vodacom é em duas “moedas”. Meticais para o saldo real, a usar em chamadas para outras operadoras. E saldo “Vodacom” a usar entre clientes da operadora. Nessa modalidade, há chamadas muito baratas, a partir de 2 meticais por minuto (0,025€). A simpatia moçambicana acolheu muito bem um slogan da Vodacom: “Tudo bom pra ti!” e a expressão entrou no quotidiano.
Mcel – Av. Eduardo Mondlane
Operadora telefónica Moçambicana. Esta série de outdoors é feita usando texturas típicas de Moçambique.
Nivea – Av. 24 de Julho.
Os outdoors deste prédio mudam, mas costumam ser sempre da mesma marca.
Leite Nido – Av. 24 de Julho
O velhinho Nido da Nestlé está em muito boa forma em Maputo.
Toyota – Av. Eduardo Mondlane.
Este outdoor foi recentemente tirado. Constituiu, durante algum tempo, uma interessante atração da Capital. Não só pela pick up suspensa, mas também pelo original efeito das marcas de travagem fora dos limites do anúncio. Há no Youtube um filme sobre a sua colocação. A Toyota é a marca de automóveis mais comercializada em Moçambique.
Cadbury – Av. Eduardo Mondlane
Só para gulosos!
Banco ProCredit – Av. Eduardo Mondlane.
Um banco de suporte quase só digital. Tem, contudo, uma agência na Av. 24 de Julho.
Vodacom – Av. Eduardo Mondlane
Um outdoor longitudinal de colocação em topo de edifício.
Mcel – Avenida 25 de Setembro
Este outdoor longitudinal tem a particularidade de estar no cimo do prédio mais alto de Maputo. O edifício é conhecido como o “Prédio 33” por ter, precisamente, 33 andares, erguidos 118m acima do solo, nos anos setenta.

jpv
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À exceção da imagem do outdoor Toyota,
todas as imagens foram captadas por mim ou familiares.


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Crónicas de Maledicência – A Credibilidade da Troika


Crónicas de Maledicência – A Credibilidade da Troika

O problema prende-se, sobretudo, com o caráter cordato e concilidador dos portugueses. Como tínhamos um problema de índole financeira, vai de acreditar naqueles senhores de fato cinzento e ar circunspecto. E vai de nos sentirmos culpados como se as pessoas que trabalham tivessem culpas na vilania alheia.

Ora, já não bastavam os erros do Excel a fazer desconfiar que as contas andavam mal paradas, já não bastava o redutor argumento da chuva, não bastava já o Senhor Presidente da República sem saber o que dizer, não bastava termos aceite toda a austeridade possível e mesmo a impossível e… quando era suposto começarem a chegar boas notícias acontecem duas coisas quase surreais. Primeiro, o relatório do FMI descarrega mais austeridade, a raiar os limites da miséria. Segundo, zangam-se as comadres. É verdade! Os tais senhores de fato cinzento e ar circunspecto afinal não se entendem, afinal são humanos e erram. Erram e não é pouco. Afinal, andamos a fazer sacrifícios com base em instruções e exigências de umas comadres desavindas.

Haja decência e respeito pelos trabalhadores, pelos governos e, em última análise, pelas nações.

Ainda as terras dessa gentalha eram um conjunto de baldios entregues a bárbaros porcos e bêbados e já nós tínhamos canalizações, comíamos de faca e garfo e tomávamos, ao menos, um banho de seis em seis meses. Ainda esses tipos pediam aos deuses sorte para atravessarem uma estrada e já nós navegávamos oceanos de sextante em punho.

Estou farto dessa escumalha que injeta sofrimento nos povos, goza com os governos e abandalha as nações que os ensinaram a ser gente.

Ainda recentemente Portugal me encheu de orgulho por ter lutado pela autodeterminação de uma nação irmã: a timorense. Urge, agora, lutar pela nossa própria autodeterminação. Urge ensinar a esses senhores que é a política, porque a política são ideias e ideais, que comanda a finança e cabe à finança servir os caminhos que se escolherem como mais adequados para o desenvolvimento e conforto humanos. As calculadoras e os excéis exercem a ditadura cega da insensibilidade e urge humanizar e politizar os governos das nações. Importa, contudo, que o processo seja dirigido por homens que coloquem o serviço público como prioridade, que sirvam as nações e os povos e não a si próprios. Precisamos de uma geração de gente corajosa, determinada e incorruptível. E, meus senhores, essa gente, normalmente, não anda de calculadora no bolso. Urge devolver o controlo das nações a pensadores, a Humanistas. E urge, como há muito não sentia essa urgência, ouvir o Povo e governar com humildade e inteligência.

Se Portugal vai sair da crise? Claro que sim. E sairá tanto mais depressa, quanto mais rapidamente se encontrar e seguir as suas próprias passadas. Creio mais num jovem estudante português do que nessa trindade usurpadora da nossa soberania! Chega!

Tenho Dito!
jpv


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Resultados da Sondagem sobre "A Paixão de Madalena"

E pronto, terminou a sondagem sobre a “Paixão de Madalena”.

E o que nos diz?

Em primeiro lugar, que muito poucas pessoas responderam à sondagem. Efetivamente, os dados do Blogger revelam que os capítulos deste romance são muito lidos e em consonância com isto está o facto de muitos leitores remeterem e-mails a perguntar “pelo próximo capítulo”. Em segundo lugar, que, os que responderam, deram respostas  que são, para nós, muito gratificantes e motivadoras.

Este romance não será consensual, será sempre surpreendente e revelará algo que já tínhamos desenvolvido, a espaços, no romance “De Negro Vestida”, uma escrita com um ritmo trepidante, uma personagem central sempre capaz de mais e de desenvolver facetas diferentes e personagens que a rodeiam marcadas por percursos notáveis, seja pela positiva, seja pela negativa. Sendo que pensamos não haver negativa. Há só pessoas. Podemos estar enganados, mas acreditamos que este romance ainda vai provocar reflexões de índole ética e moral porque desafiará os parâmetros de ambos os valores.

Pessoalmente, estamos a adorar escrevê-lo. E, uma vez feita a investigação, estamos a demorar o tempo necessário para que o texto assente e se defina. É, por assim dizer, um prazer trabalhado.

Obrigado aos leitores e amigos que votaram. Até ao próximo capítulo que está para breve.
jpv
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Resultados da Sondagem

Pergunta:
Para sabermos a sua opinião acerca da história que temos vindo a publicar, “A Paixão de Madalena”, diga-nos o que pensa dela sendo que pode escolher diversas opções como resposta.

Respostas:
Gosto, porque está bem contada.
  5 (55%)
 
Não gosto, porque é demasiado descritiva
  0 (0%)
Gosto, por causa do ritmo da narrativa.
  6 (66%)
 
Não gosto, por ser superficial.
  0 (0%)
Gosto, por ser realista.
  6 (66%)
 
Não gosto, por ser demasiado fantasiosa.
  0 (0%)
Não gosto nada.
  0 (0%)
Não gosto.
  0 (0%)
Gosto.
  0 (0%)
Gosto muito.
  8 (88%)
 
Não leio.
  0 (0%)
O que é isso?
  0 (0%)


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Crónicas de Maledicência – O Mal Agradecido

Crónicas de Maledicência – O Mal Agradecido

A imagem que escolhemos para ilustrar esta crónica não bate muito certo com o título dela. E o efeito é propositado.
Efetivamente, vemos na imagem o Senhor Presidente da República agradecendo quando, na verdade, terá dado mostras de ser um tanto mal agradecido.
Eu explico e faço-o com brevidade. Numa altura em que o país é assolado pelo mais grave dos flagelos, o desemprego, fenómeno que destrói a economia, a capacidade de produção, o comércio e o tecido familiar, e, concomitantemente, numa altura em que se antevê que o homem que dá corpo ao Senhor Presidente da República, o cidadão Aníbal Cavaco Silva, pode engrossar as fileiras de desempregados, houve um cidadão que, em Elvas, terá mandado Aníbal trabalhar, com certeza oferecendo-lhe emprego, numa demonstração de preocupação com o seu futuro e simpática generosidade. E como foi recebida tal oferta? Com um célere julgamento que, logo no dia seguinte, condenava o simpático cidadão a uma multa de 1300€.
Ficámos perplexos. Logo à partida, não sabíamos que o trabalho constituía ofensa, depois, pensámos que, havendo tão pouco trabalho, assim que aparecesse algum, a oportunidade não seria desperdiçável e, por fim, pensávamos, até agora, que Aníbal era um adepto do trabalho. De tal forma que até acumulava funções e as respetivas regalias como sejam os vencimentos, as reformas, as viaturas, enfim, tudo a que tinha direito.
Ora, ironias à parte, importa perceber como é que num país em que é preciso dedicarmo-nos a tanta coisa de suma importância para sairmos da situação em que estamos, a justiça, conhecida por ser lenta, foi desta vez tão célere. Porque se gastam energias e a preciosa verba do erário público com coisas como seja um cidadão, num clima de crise, dizer ao Presidente da República para ir trabalhar.  Mesmo reconhecendo a falta de respeito, e condenando-a, parece-me que o Senhor Presidente da República deveria ter mais o que fazer do que a andar a apresentar queixa e a patrocinar processos desta (quase insignificante) importância! Imaginemos que era eu, ou o amável leitor, que me queixava à justiça por alguém me mandar trabalhar. Teríamos processo resolvido em 24 horas? Seria o culpado identificado, interrogado e intimado a pagar uma multa de 1300€ em tão curto espaço de tempo? Ficam as interrogações. E fica, para a história, esta sensação de que Aníbal Silva, ainda pode vir a arrepender-se de ter recusado a oferta…
Tenho Dito!
jpv
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A presente crónica fez fé em notícia publicada aqui e aqui.


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A Paixão de Madalena – Capítulo 12

A Paixão de Madalena

Livro II – O Cordeiro de Deus

12. É preciso conhecermos as pessoas para as percebermos. É, sobretudo, preciso conhecê-las antes de as julgarmos. A história que agora se contará não justifica o futuro, mas derrama luz sobre ele.

Já estiveram os três à mesa. Agora está só o pai, perna cruzada, jornal aberto, e o filho olhando o que resta da refeição, girando o garfo sobre a comida, um braço estendido ao longo da mesa e a cabeça sobre ele. Carne de jardineira não lhe agrada. Sobretudo não percebe o que veem os adultos no feijão verde e, como não está autorizado a sair da mesa antes de terminar, vai espalhando a comida no prato e, de quando em vez, pergunta:
-Já posso?
-Come o que tens no prato!
E aquela frase, assim contundente, caiu-lhe em cima como uma espada de cortar esperança. Não lhe resta mais do que continuar a remexer a comida fria à espera que o pai se canse. Numa reviravolta que dava a um pedaço de feijão verde cortado aos quadradinhos, o vegetal saiu-lhe disparado do garfo, bateu-lhe no peito, tabelou no joelho e anichou-se no chão, mesmo por baixo dos seus pés. A primeira reação foi olhar para o pai. Felizmente tinha a cara por trás do jornal e não tinha visto. Enganou-se no juízo. Saiu da cadeira e foi abaixo da mesa buscar o pedaço de feijão verde e era lá que estava quando tudo recomeçou. Lembra-se do sabor a sangue logo após o primeiro pontapé a encher-lhe a cara e a cortar-lhe os lábios, lembra-se de bater com a parte de trás da cabeça na perna da mesa e depois não se lembra de mais nada. Erguido pelos cabelos, esbofeteado e esmurrado ao som de uma letra que variava pouco, Julgas que ando a matar-me a trabalhar para te pôr a comida na mesa e tu depois a atirares para o chão? Hã? Hã? Responde-me! Não! Não quem? Não, papá! E achava que tinha respondido bem e por isso não percebeu a sequência de bofetadas e murros após a resposta. A voz da mãe ao longe gritando, depois pegando nele, serenando-o, os cuidados e a humilhação numa próxima refeição em família:
-Aquele ainda esta semana levou uma tareia à moda antiga. A deitar-me a comida para baixo da mesa, o sacanita… depois lá veio a mãe com falinhas mansas e paninhos quentes. Não me importa. O pai dá a educação, a mãe dá os mimos. Sempre assim foi, sempre assim será.
Quando entrou na escola, Mário Só não pôde evitar a pergunta da professora:
-O que te aconteceu Marinho?
-O meu pai bateu-me, disse o miúdo com inocência e verdade.
Bernandino Só foi chamado à escola e quando lá chegou ralhou com a professora, reclamou para si a função de educador, ela que se limitasse às tabuadas e às cópias que o pai era ele, sabia muito bem o que estava a fazer, filho seu nunca lhe haveria de faltar ao respeito. À noite, chegou a casa, fechou-se num quarto com o miúdo, gritando-lhe que o que se passava em casa não se contava na rua porque só à família dizia respeito, tirou o cinto e descarregou na criança a humilhação de ter sido chamado à escola. No dia seguinte a professora percebeu que a cavalaria da besta Bernardino Só havia de novo carregado sobre a pobre criança e já não lhe perguntou nada. De tempos a tempos aparecia com marcas visíveis do calvário que era o seu quotidiano e a professora aprendeu a rezar e a pedir que não se repetisse muitas mais vezes. Mário Só não tinha irmãos, razão porque colhia todas as atenções do pai que jurara fazer dele um homem. E o seu conceito de fazer dele um homem era ensinar-lhe palavrões, comprar-lhe cadernetas com os cromos da bola e verificar se ele já tinha decorado os nomes dos jogadores do Varzim e do Farense e perguntar-lhe, em público, Olha lá, pá, já apalpastes o cu a alguma gaija lá da tua escola? O coitado não respondia e, quando chegava a casa, a mãe apressava-se a fechar-se com ele no quarto a dizer-lhe que aquilo eram brincadeiras do papá, para não levar a sério, nem repetir aquele palavreado.

Certo dia, estavam os três à mesa, a mãe acabara de sentar-se. Como habitualmente, fizera tudo sozinha, o jantar, a cozinha arrumada que Bernardino não queria ninguém à mesa com a casa de pantanas, a mesa posta, as sobremesas prontas, a sua comida quase fria, o marido e o filho quase comidos e bebidos. E assim que se sentou, Bernardino atacou:
-Traz-me os palitos!
Num momento de cansaço e inusitada ousadia, Maria das Dores respondeu-lhe, educada, mas declinando o pedido:
-Ai, Bernardino, vai lá tu que ainda agora me sentei.
As costas da mão dele voaram e assentaram-lhe com violência tal que a senhora caiu desamparada. Bernardino percebeu o ar perplexo do filho e disse-lhe como quem ralha:
-E tu vê lá se aprendes a ser homem. Homem que é homem não admite certas coisas.
E quando Mário Só faz menção de levantar-se para ajudar a mãe, foi impedido por verbal e inequívoco comando:
-Deixa-te estar no teu lugar! A tua mãe sabe levantar-se sozinha.
Mais tarde, Bernardino abordou o miúdo:
-Mário, ouve o pai, o pai gosta muito da mamã, mas a vida é difícil, tem de haver rigor e respeito e o que hoje te pode parecer mal, amanhã vais perceber e valorizar, o pai não faz nada que não seja para bem da mamã e de ti, percebeste?
-Sim, papá.
-Então vá, vai lá dormir.
E Mário Só foi deitar-se e adormeceu nessa noite anestesiado pela violência dos gestos do pai. De manhã percebeu que a mãe estava marcada na face e deu-lhe um abraço mais demorado. Maria das Dores percebeu e recuperou a vontade de viver.

Enquanto andou na escola, Mário Só foi um miúdo submisso e cumpridor, mas sem qualquer ponta de imaginação. O medo, por vezes, tolhe as almas e elas, por defesa, encolhem-se e podem nunca chegar a nascer para o mundo. Mário Só era um jovem profundamente respeitador, mas nunca soube o que era o respeito. Encolhia-se por medo e foi por via desse mesmo medo e desse encolhimento que nunca foi aluno para além do sofrível. Aos dezasseis anos, assim que pôde, saiu da escola e foi trabalhar de servente para as obras. E foi aí que aprendeu a fumar um cigarro, a beber meia dúzia de minis numa tarde, a puxar pelo cabedal, a erguer a espinha e a trabalhar a vida. Sempre submisso, quase sempre discreto, a evitar os palavrões que usava de quando em vez e com parcimónia só para que ficasse claro que era tão homem como os outros. E começou a sair à noite, sobretudo ao fim de semana e uma dessas noites trouxe-lhe o primeiro corpo de mulher. Pago, bem entendido, mas, ainda assim, a melhor oferta que o Universo e a vida lhe haviam feito em quase vinte anos de existência. Cedo se apercebeu que transportar era com ele. O carro de mão, o empilhador do armazém de construção, a moto do Joaquim, mais tarde, uma carrinha de caixa aberta, muito velha, que o empreiteiro usava para materiais de menor porte. Era rápido e eficaz nas suas escapadelas ao armazém para ir buscar vinte e cinco quilos de cimento cola, uma caixa de azulejo que tinha faltado nas contas, são tramados, os cortes, geram muito desperdício, duas pontas de ferro de doze, meia palete de blocos. Um dia, a polícia mandou-o parar e ele parou e respondeu a tudo com verdade e submissão e o patrão viu-se e desejou-se para se safar da enrascada de ficar com a carrinha apreendida e uma multa monumental. Propôs pagar-lhe a carta e ir descontando no vencimento, mês a mês, em pequenas parcelas. Mário Só sorriu e aceitou. Não falhou o código e menos ainda a condução. Depois, quem o queria ver, era montado na carrinha velha a acartar materiais de um lado para o outro. O próximo passo que lhe pareceu lógico foi tirar a carta de pesados e, no mesmo dia em que a conseguiu, teve uma oferta de emprego. Pediu um avanço para pagar uma dívida. Deram-lho e ele foi ter com o empreiteiro e acabou de pagar o que lhe devia. Puseram-lhe um carro pesado nas mãos, um mapa, uma listagem de fornecedores e clientes e a sua tarefa era ir buscar e distribuir caixas de bacalhau. Não tinha horário. Tinha fretes por dia. Se os acabasse cedo, saía cedo. Se os acabasse tarde, saía tarde. Descansava um dia por semana e recebia dez vezes mais do que a acartar baldes de massa e carros de mão de areia nas obras. Alugou uma casa velha e pequena onde ia dormir e via televisão nas folgas. Passava algum tempo em bares frequentados por camionistas e os seus afetos entregava-os às prostitutas de beira de estrada. Um dia estranhou porque uma delas segurou-lhe a cabeça entre as mãos e disse:
-És só um menino cheio de medo.
Ele estremeceu:
-Que dizes?
-Esquece. Não é nada. Eu tenho a mania que conheço os homens pela maneira como…
-Bebeste?
-Sim, bebi! Que parvoíce a minha, estar para aqui a dar conversa a clientes. Estou paga, estás servido, até à próxima, se a houver.
Passou a procurá-la. Encontrou-a umas poucas de vezes. Gostava da forma como ela lhe acariciava a nuca enquanto ele suava em cima dela e gostava, sobretudo, dela ter sempre uma palavra no fim. Uma provocação. Uma observação.
-Olha lá, já pensaste em ter uma namorada a sério?
-Já.
-E…
-Não sei o que dizer, não sei o que fazer… e esta vida de um lado para o outro com o camião também não ajuda…
-Tens medo das mulheres?
-Não. Tenho medo de mim ao pé das mulheres.
-Tu é que sabes, mas isto não é vida.
-A tua?
-Não. A minha faz todo o sentido. Escolhi-a. A tua! A tua é que está uma baralhada. Não te percebo, miúdo, não te percebo.
-Não há nada para perceber. Sou um tipo burro que gosta de conduzir e teve a sorte de conseguir ganhar dinheiro com aquilo que gosta de fazer.
-Não sei… há qualquer coisa baço no teu olhar…

Nunca mais o viu. Nem poderia. Ele emigrou. Um dia, a mãe, com quem falava de tempos a tempos, a quem mimava às escondidas do pai que decidira não rever desde que fora trabalhar, disse-lhe com esperança na voz:
-Tenho uma novidade.
-Ai sim? Conta.
-O tio António perguntou por ti.
-O da Suíça?
-Sim. Queria saber como estavas e eu disse que bem, que estavas um homem, tinhas trabalho, eras independente, e ele perguntou o que fazias e eu contei um pouquinho da tua história, mas isto já foi há tempos…
-E só agora me contas?
-Na altura não dei importância, mas esta semana ele voltou a ligar, diz que tem lá trabalho para ti, que apareceu lá um emprego de motorista, acho que é para andares com um senhor que é advogado, carro bom, alojamento e alimentação e o ordenado é muito melhor do que aqui… querem um português. Dizem que somos de confiança e tio conhece-o e falou em ti…
-Isso é a sério?
-É. Achas que a mãe gosta de dar-te esta notícia? Vais para lá e nunca mais te vejo, mas o teu bem é o meu bem e se tu fores para melhor, eu fico feliz…
-Dá cá um beijinho.
Mário Só abraçou a mãe, beijou-lhe as faces e poucas emanas depois desembarcou em Genebra.

O salão está escurecido. É banhado por ecos de luz emanada da mesa central sobre a qual pende uma lâmpada longitudinal que ilumina o pano verde. As bolas está já muito distribuídas. Por cima de um sussurrar abafado, ouve-se o silêncio que invade a sala. Madalena está debruçada sobre a mesa de snooker, o taco na mão direita assente sobre os dedos da esquerda que ela apoia na mesa. É preciso que a bola branca vá ao fundo da mesa tabelar com efeito e volte para trás a empurrar a bola preta para dentro do buraco no mesmo topo onde se encontra agora a bola branca, mas no canto oposto. Estão separadas por uma bola inoportuna e será preciso arriscar esta longa viagem. A branca já lá vai, Madalena ergue-se, , respira fundo e reza para dentro. Se falhar é o seu fim. Se ganhar, são quatro mil francos. Uns meses a respirar melhor o quotidiano, alguns bens fundamentais para as crianças. E a bola rola serena, quase lenta, a sala está suspensa da sua trajetória, o adversário e a assistência esperam quase impacientes. Nunca uma mulher havia participado no torneio de Genebra, quanto mais ganhá-lo. A bola já encontrou a tabela lá ao fundo, faz a viagem de regresso descrevendo um vê. Falta saber se é um vê perfeito. Ela aí vem…

A vida tem sido difícil. Não lhe tem dado tréguas. Madalena decidiu procurar todas as saídas, experimentar todos os caminhos. Enfim, quase todos. Pediu autorização para ficar meia hora a treinar numa das mesas de snooker depois de fechado e limpo o pub. Só pelo facto de ser tão pouco habitual ver uma mulher jogar, foi-lhe concedida permissão. E ela ficava, no fim de um dia de trabalho, espreitando tabelas, traçando percursos, ensaiando efeitos. Um dia pediu dinheiro emprestado ao patrão para se inscrever num torneio, era ao sábado, ao final da tarde, sem conflituar com o seu horário de trabalho. Ele não lhe emprestou o dinheiro, pagou-lhe a inscrição:
-Pago para ver até onde vais.
O prémio contemplavam os primeiros quatro classificados. Madalena terminou essa longa jornada em quarto lugar, fez questão de devolver o dinheiro da inscrição e guardou o resto. Era pouco. Para os outros. Para ela e os seus meninos representou imenso. Mais três competições deste tipo nos primeiros quatro lugares e poderia inscrever-se no torneio de Genebra. Jogou cinco para conseguir a qualificação. Sempre pedindo e devolvendo a verba da inscrição. Da única vez que não chegou ao prémio, pagou com horas extra. Via um pouco menos as crianças, mas o torneio de Genebra rendia quatro mil francos. Treinou mais intensamente nos últimos tempos. Um dos frequentadores do pub, que ainda conhecera e confraternizara com Kyle, ofereceu-lhe um estojo com um taco desmontável:
-Tome, nunca fui bom nisto. Ganhe o torneio por nós, pela malta aqui do bairro.
Sabia que teria de estar ao seu melhor nível para chegar à final e, chegando, tudo poderia acontecer. O seu fraco… o seu fraco era ter pena do adversário e, por isso, falhar em momentos cruciais. O patrão ralhava sem cessar:
-Tens de manter o nível até ao fim, a precisão na tacada, o instinto de vitória, não podes amaciar, desfaz os tipos, imagina que são teus inimigos, pensa nos teus filhos, faz o que quiseres, mas não tenhas pena dos gajos!

À medida que se aproxima da bola preta, a branca perde velocidade, vai acariciá-la, terá de ter ainda a força suficiente para empurrar a outra que está a meia dúzia de centímetros do buraco… toca-lhe de mansinho, a preta desliza suavemente, a direção é perfeita, chega junto do buraco e parece parar, hesita, suspende-se como a respiração da sala e… tomba! Está lá dentro! A sala explode em aplausos, o patrão vem abraçá-la, Albertina corre para ela, segura-lhe a cabeça entre as mãos enquanto grita, Conseguiste! Conseguiste! Até o homem que emprestou o nome a Jacob a veio felicitar. Sessão de fotos e entrega do prémio, garrafas a salpicar champanhe, as felicitações do adversário. Madalena espera que os ânimos acalmem um pouco e vai arrumar o taco no estojo. Estava de costas para a multidão em festa quando sentiu uma mão no seu ombro. Era Mário Só.
-Parabéns, Madalena.
-Obrigado, Mário.
E não foram precisas outras palavras, pendurou-se no pescoço dele e beijou-o apaixonadamente com o coração a bater forte como não julgara até esse dia que pudesse voltar a acontecer. Daí a seis meses estariam casados e daí a outros seis divorciados. Foi simples e fulminante a história.

Foi quando fazia uma jogada de precisão. Baixou-se sobre o tapete verde da mesa. Tinha a bola branca alinhada com a preta. Era uma tacada distante mas limpa. Só necessitava de uma pancada forte, seca e precisa. Olhou a bola branca, aqui perto, moveu o taco para a frente e para trás com vigor em movimentos de aproximação à bola, levantou os olhos sem levantar a cabeça e procurou a preta ao fundo da mesa para traçar a linha imaginária que as haveria de unir e, por cima dela, ao fundo da sala, em visão enevoada e periférica, a zona pélvica dele, do adversário que assistia suspenso aos seus movimentos. Num relance, lembrou-se de que Kyle chamava àquilo, na intimidade, o “pack” ou ainda “um rei e dois súbditos”, levantou um pouco mais o olhar e encontrou o tórax definido e os braços musculados encimados por um olhar verde e cristalino cheio de promessas. Ainda não havia reparado nele. Aquele olhar continha promessas de risco e a vida tem sido tão dura e tão repetitiva que um pouco de risco só poderia ser o sal que lhe vinha faltando. E desceu-lhe um calor de desejo que depois lhe aflorou à cara, era inacreditável, tanto tempo depois de ter feito amor pela última vez, emerge-lhe na mente um pensamento erótico que lhe rebenta na face no meio de uma jogada que valia cem francos. Foda-se!, pensou. Puxou o taco atrás, bateu a bola. Falhou. Ele concluiu o jogo com serenidade e no fim, quando os presentes faziam conversas e desenhavam teorias acerca do que poderia ter acontecido, ele veio felicitá-la:
-Parabéns. Jogou muito bem.
-Mas perdi.
-Pois… essa foi a parte que não percebi.
-Claro que percebeu. Você colocou-se à frente do meu campo de visão para me distrair.
-Não sabia que constituía distração para si.
-Na altura constituiu.
-E agora?
-Agora, depende do que disser…
-A única coisa que me ocorre dizer é que não ganhou o melhor jogador, você joga muito melhor do que eu, talvez lhe falte certo instinto assassino.
-Pois, mas eu sou mãe de duas crianças.
-Pense que o que está a fazer salvaria a vida delas.
-E salvaria…
-Ah… joga pelo dinheiro.
-Entre outras coisas.
-Levante o prémio. Você mereceu-o.
-Jamais! Nunca aceitei uma esmola, nunca recebi nada que não tivesse conquistado.
-Compreendo, mas posso pagar-lhe o jantar?
-Se não tiver melhor companhia…
-Tenha ou não tenha, neste momento, não quero outra coisa que a honra da sua companhia.
-Disse as palavras corretas, senhor…
-Mário Só.
-Mário. Tratei-o por senhor porque não o conheço, nunca fomos apresentados.
Mário Só soltou uma gargalhada e acrescentou:
-Pode e deve tratar-me só por Mário, mas não foi isso que eu quis dizer quando revelei o meu nome. Eu chamo-me Só de apelido.
-Ah! Mário Só!
-Exato! E a senhora…
-Só Madalena.
-Mau…
-No meu caso, o só era para não usar a senhora…
Jantaram. Madalena revelou-lhe que estes pequenos torneios no pub eram uma simpatia do patrão para ela ter com quem treinar uma vez que estava para inscrever-se no torneio de Genebra. Mário Só confessou-se admirador da sua forma de jogar e custasse o que custasse, estaria no torneio para apoiá-la. Levou-a a casa. Despediram-se educadamente e com algum pudor e passaram a conversar com regularidade no pub, sobretudo, porque ele esperava pela hora dela sair e levava-a a casa. E foram partilhando o que pensavam da vida, algumas coisas sobre os seus percursos até chegarem ali. Ficaram amigos de conversa com o desejo latente não consumado por prudência de ambos e particular contenção dele. As suas vidas haviam sido demasiado complexas para acreditarem, assim, de repente, no amor e uma cabana. Andaram neste bailado das palavras e das conversas cúmplices cerca de seis meses até que um dia Mário Só se encheu de coragem e lhe disse:
-Madalena, tu tiveste a tua vida, eu tive a minha, já percebemos que nos entendemos, que gostamos da presença um do outro, não quero desconcentrar-te do torneio de Genebra, mas não achas que merecemos um pouco mais do que conversar à noite depois do teu trabalho?
-As conversas são boas…
-Por isso mesmo, porque são maravilhosas, porque és quem és, porque sou quem sou… pensa!
-Já pensei.
-Já pensaste?!
Mário Só não conhecia a Madalena determinada, decidida e até impetuosa que o leitor vem conhecendo e não sabia, também, que esta mulher estava ansiando mudança e risco. Por isso se surpreendeu com ela:
-Estás a pedir-me em casamento?
-Talvez não tenha usado as melhores palavras, mas queria ir para aí.
-Faltam três semanas para o torneio. Se eu ganhar, beijo-te e casamos.
Mário Só ficou perplexo. Será que tudo não passava de um jogo?
-E se não ganhares?
-Beijas-me tu e a seguir casamos.
O homem respirou de alívio. Abraçaram-se. E foram para suas casas sonhando acordados.

Mil novecentos e noventa e oito. De Portugal chegam ecos de uma exposição internacional de grande impacto. Em Genebra, Madalena ganha um torneio de snooker , beija um homem e casa-se recatadamente. Só alguns amigos e familiares de ambos a presenciarem o momento. A mãe de Mário Só chora de alegria, Albertina vive numa intrigante e saudável desconfiança em relação ao rapaz das falas mansas, Jacob e Mariana parecem conviver bem com a presença do novo homem da casa. O quotidiano é desafogado e feliz sem ser apaixonado, mas, honestos sejamos, nunca se confessaram paixões entre estes dois. Ele trabalha. Ela trabalha, deixou de novo o pub, fica com mais tempo para os miúdos e à noite pode continuar, agora no conforto do lar, todas as conversas que havia iniciado com Mário Só quando ele a vinha pôr a casa após o turno nu pub. Aos fins de semana passeiam e dedicam-se a dar algumas alegrias aos miúdos. Ao domingo, Madalena entra na cozinha e prepara uma refeição esmerada. Foi num desses domingos, durante uma dessas refeições especiais. Madalena andava numa roda viva a preparar tudo, estava impaciente, as coisas na cozinha não correram como esperara. Mariana, normalmente uma ajuda preciosa, estava impaciente e até um pouco rabugenta, Jacob agia fazendo justiça à condição de criança, batia com os talheres nos pratos e gritava que queria comida, não era de birra, mas enervava. Madalena conseguira servir a refeição, mas a sobremesa complicara-se  e ela andava para cá e para lá, Mário Só estava irritado com aquela inusitada barulheira à mesa de uma refeição que costumava ser tranquila e não comera descansado. Junto ao final da refeição, por entre o barulho e a movimentação atarefada de Madalena, disse:
-Trazes-me os palitos?
-Não posso, levanta-te e vai buscá-los.
Ele franziu o sobrolho, levantou-se contrariado e foi. Poderia não ter-se cruzado com ela e tudo teria sido diferente, mas cruzou-se com ela na cozinha:
-Podias ter levado a merda dos palitos à mesa.
-Podias ter levantado o cu da mesa para ajudar.
Ele já tinha passado por ela quando ouviu a resposta. Uma coisa antiga e má, uma semente ruim de gestos impróprios, acordou em si, cresceu, fez-se gigante no seu peito:
-Vê lá como é que falas comigo…
-Como tu mereces.
As costas da mão dele rebentaram-lhe os lábios, o tabuleiro de vidro que tinha nas mãos caiu ao chão, ela deu dois passos desamparada, ele cresceu para ela e esbofeteou-a quantas vezes lhe apeteceu. As crianças fugiram para o quarto, ele levantou a mão de novo mas apercebeu-se de que ela já não estava consciente. Saiu de casa. Só voltou à noite. Já não encontrou ninguém. Madalena acordou. Olhou em volta e tudo lhe parecia irreal. A vida voltara a testá-la, a surpreendê-la. Havia entre ela e as forças da natureza humana este constante medir de resistência. Estava cansada. Sangrando dos lábios. Colocou-se de frente para o espelho do guarda fatos toda nua e fotografou-se. Telefonou a Albertina. Colocou as coisas mais essenciais em dois táxis e enquanto a avó levou as crianças para sua casa, Madalena foi à polícia e apresentou queixa. Mário Só não negou nem rebateu as acusações. Foi condenado a serviço comunitário, não aproximar-se menos de quinhentos metros da residência de Madalena e a pagar-lhe uma indemnização imediata. Ou o faria com meios próprios ou o Estado o faria por si e Mário Só ficaria devedor do Estado com juros. Pagou com dinheiro próprio. Madalena abriu uma conta separada da sua conta à ordem e considerou aquele dinheiro um findo para a educação das crianças e a sua própria. Pressentiu que estas coisas aconteciam por deformação de caráter, mas também por falta de formação e não quis, nunca mais, viver dificuldades por via da falta de formação. Voltaram os dias difíceis, as refeições parcas, os recursos escassos, mas, agora, Madalena sabia que tudo isso tinha um fim à vista. O tempo de concluir o curso técnico de contabilidade e administração em que acabar de matricular-se. Era um curso de cinco anos, mas o sistema suíço permitia que pudesse fazer-se em menos caso os estudantes se auto-propusessem para exames. Madalena traçou um plano para concluir o curso em três anos. Era arrojado. Exigia um duplo sacrifício. Ter de estudar mais horas e não poder trabalhar no pub. Era para isso, para suprir a falta da verba que daí advinha, que o dinheiro da indemnização de Mário Só serviria. O seu coração ficaria marcado para sempre pela desilusão, mas a sua dignidade mantinha-se intacta. A sua batalha com a vida continuava. A primeira vez que casara, a doença levara-lhe o príncipe e deixara-lhe um filho como resgate desse amor. A segunda vez que casara, a violência trouxera-lhe uma desilusão mas trouxera-lhe uma lição. Dependeria sempre e só de si. Seria, enquanto vivesse, absolutamente livre. Nada valia a hipoteca do mais precioso bem da Humanidade. Estava aberta a amar, sim, agora mais do que nunca, mas sem preconceitos, sem papéis, sem formalidades, só com as pessoas que quisessem amar tanto e tão livremente como ela. Qualquer homem que a quisesse, que desejasse o seu amor, teria de respeitar a sua liberdade. O homem que não compreendesse isto, não poderia amá-la.

Madalena não voltará a casar. Amará de novo. Sempre com a mesma entrega que Kyle lhe ensinara e sempre com a liberdade que Mário Só a levara a compreender como imprescindível e intocável. É sinuosa, a vida, os caminhos que percorremos pelas nossas próprias passadas levam-nos, por vezes, a lugares e pessoas surpreendentes. O pensamento de Madalena em relação ao amor e a quem pudesse merecê-lo havia-se centrado, naturalmente, em homens e, contudo, seria uma mulher, a primeira pessoa a merecer esse amor. Marcelle Deschamps.

Foi na faculdade. Madalena matriculou-se no regime noturno para poder trabalhar de dia e, não obstante o cansaço de um dia de trabalho, tirava apontamentos que nem uma louca. Tentava captar tudo o que era dito, registar todas as demonstrações, pedia aos professores para colocarem os cálculos no quadro. Um dia, uma mulher alta e bem constituída, longe de magra, mas não gorda, de cabelos loiros a derramarem oiro sobre os ombros, tentou ajudar:
-Não precisas correr atrás dos apontamentos dos professores, está tudo disponível na reprografia.
-É gratuito?
-Não.
-Então tenho de correr atrás dos apontamentos dos professores.
Mais palavras não foram ditas porque não foram precisas. No dia seguinte, Marcelle aproximou-se dela, estendeu-lhe com discrição um saco escuro, e disse:
-Toma, são os deste semestre.
-Obrigada. És muito generosa, mas não aceito nada de ninguém. É uma questão de dignidade.
-Parece mais uma questão de orgulho.
-Admito que possa parecer, mas não é essa a razão.
-A vida tem-te tratado mal?
-Tem os seus momentos, mas quando me castiga, exagera sempre na força.
-Faz assim, guardas os apontamentos, estudas por eles e no próximo semestre oferece-los a alguém…
-É a mesma coisa.
-Não é não. A capacidade de dar dignifica o que se recebe.
-E porquê este gesto? O que queres de mim?
-Irra, a vida tem-te tratado mesmo mal!
-Como disse, teve os seus momentos…
-Olha à nossa volta. O que vês?
-Homens.
-Exato. Uns privilegiados. Nascem com uma coisa pendurada entre as pernas e estão automaticamente em vantagem em todos os campos…
-E…
-E eu pretendo equilibrar um pouco a balança. Considera que o meu motivo é solidariedade feminina. Devemos ser um caso de estudo, duas mulheres a estudar contabilidade na mesma faculdade…
-Com uma condição.
-Qual?
-No próximo semestre ajudas-me a escolher a beneficiária.
-Feito.
Foi o suficiente para começarem a conversar com frequência. Entre as aulas, nos trabalhos de grupo. Começaram por partilhar conhecimento e ideias e pistas de solução para problemas, primeiro, e depois, tudo o que havia para conversar entre duas mulheres, deve ter sido conversado por Madalena e Marcelle. Passaram a encontrar-se também ao fim de semana para estudarem e fazerem trabalhos. Marcelle conheceu as crianças e ajudava a cuidar delas nesses dois dias de descanso que dão sentido ao resto da semana e rápido se apercebeu que Madalena se deslocava de casa para a escola e da escola para casa caminhando um longo troço do percurso e fazendo o restante de autocarro. Era uma forma de poupar. Começou a levá-la, Conversamos no caminho, disse, e de qualquer forma não preciso desviar-me. Foram trocando histórias. Ambas trabalhavam, ambas adoravam a contabilidade e a gestão, ambas eram adeptas do rigor e acreditavam no controlo dos números. Constituíam, uma para a outra, uma interlocutora motivante e desafiante das suas próprias capacidades, uma interlocutora válida que obrigava a outra a estar atenta e a não falhar. Tiveram ambas excelentes notas no final do primeiro semestre. Numa noite fria, coberta pelo manto branco da neve, em que levou Madalena a casa, estavam já à porta, ainda dentro do carro, e Marcelle aconchegou-lhe as mãos entre as suas como que para aquecê-las:
-Tens as mãos frias.
-Em Portugal diz-se que é amor todos os dias, mas deve haver algum problema com esse provérbio…
-Ou não.
E puxou-a para si e beijou-a nos lábios. Madalena afastou-se num impulso:
-Eu não sou…
-Não és humana?
-Humana sou, só que nunca…
-Nem eu. E também não sou o que tu não és e também sou humana e será preciso outro requisito, uma palavra que te certifique, um rótulo, para beijares quem amas?
-Acho que não.
Aproximaram-se lentamente e encostaram os lábios rosados e sentiram o calor e a emoção que passava através deles. Não falaram do que acontecera. Permaneceram amigas verdadeiras e cúmplices mas não voltaram a beijar-se nem a trocar qualquer outra carícia do corpo. Era como se as suas almas se bastassem. Pelo menos, até encontrarem o homem que viria a pôr à prova todos os seus limites. Essa fantástica criatura que completaria o inseparável grupo dos três emes.

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