Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Praia

Praia

Quando chegaste,
Parti de mim.
Nunca vira
O mundo assim.
De meu corpo exilado,
Navegante de ti
Nesse mar encapelado
De emoções,
Nesse triângulo das Bermudas
Onde os gestos
Me saem sôfregos
E as palavras mudas.
Perco o meu Norte
E a minha ambição,
Entrego o meu sopro
Na tua mão
E regresso.
Já retomo a consciência.
Já tenho de mim a ciência
E de ti a dádiva.
Andei perdido
Até achar-me no teu corpo,
Até perder-me
Para me reencontrar.
És minha costa,
Minha espera.
A firme rocha
Onde se abate meu mar.

jpv


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Ouvido de Passagem…

Duas senhoras e um homem à porta de um elevador. Uma delas fala:

“Entramos os três e vamos para o quarto.”

Hehe… em que piso? Pergunto eu!


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O Clã do Comboio – A Amy Winehouse de Riachos

A Amy Winehouse de Riachos

Vi-a durante todo o inverno, mas nunca lhe dirigi a palavra. Não havia motivos para isso. Não a conhecia, nunca fôramos apresentados e nada justificava que o fizesse só por que sim. Eu era só mais um trabalhador a apanhar o regional das 7:47 em Riachos para Santa Apolónia e ela era só mais uma moça com a pele muito alva a emergir da escuridão das roupas. Botas de tropa. Calças de ganga pretas. Blusa preta. Casaco de cabedal preto.

Um dia destes, porém, senti o impulso de dirigir-lhe a palavra e fiz bem em não resistir-lhe porque a resposta dela foi deveras interessante.

Eram 7:35. Fui beber um café e ela lá estava com uma amiga. Acontece que o dia amanhecera quente e abafado a prometer suores e a pedir menos roupa e mais corpo.

Ela tinha as mesmas botas pretas de tropa, as mesmas calças pretas de ganga, uma blusa preta com tiras de tule alternadas com tecido opaco, cabelo preto, liso e comprido, a face oblonga e muito alva e os olhos castanhos e rasgados marcados com um risco de lápis que os faziam parecer ainda mais rasgados. Acontece que a blusa era de cavas e permitia ver os braços na íntegra e nos braços é que estava a história de vida, a marca indelével da sua individualidade, aquilo que é, para mim, o reflexo de um traço de caráter.

Do ombro direito até quase ao cotovelo estende-se uma enorme tatuagem a ocupar-lhe quase todo o braço. É um complexo desenho de flores e ramagens entrelaçadas onde pontua uma palavra e duas violas cruzadas. No pulso do antebraço direito mais um complexo apontamento gravado a tinta. No braço esquerdo, junto ao ombro, a imagem de duas mulheres em jeito de pin-up girls e, nesse antebraço, uma inscrição em chinês.

Não sou muito bom a adivinhar idades, quer dizer, até me dizem que sou mas, para isso, tenho de conhecer minimamente as pessoas, o que não é o caso. Ainda assim, diria que a Amy Winehouse de Riachos tem entre 17 e 20 anos. E, com uma idade tão tenra, tão jovem, ter já assumido o compromisso de marcar e alterar o seu corpo para toda a vida parece-me de uma alma com grande determinação, muito segura de si, muito convicta das suas opções e foi por isso que perguntei o que perguntei. Não tanto pela resposta concreta, a do sim ou não, mas mais para perceber se essa determinação e essa força de caráter habitavam o corpo tatuado. Acho que a resposta dela foi inequívoca e fala por si:

– Essas tatuagens são permanentes?
– Mas porque é que toda a gente me pergunta o mesmo? Quando se faz uma tatuagem tem de ser para sempre, para toda a vida, se não for, não é uma tatuagem.

E pronto. Eis uma pessoa que na aurora da vida tem convicções para todo o caminho a percorrer. É raro na juventude, mas acho que é muito saudável. Falta este caráter ao nosso país. E a jovem Amy Winehouse de Riachos tem-no.

É muito interessante a semelhança física entre ela e a cantora falecida. Espero, sinceramente, que viva muitos mais anos, uma vida longa a passear pelo Universo a sua determinação e as suas tatuagens. As do corpo. E as da alma.

jpv


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Saudade que Fica

Já está!
Já tem novo dono!

Desejo ao novo proprietário tantos bons momentos quantos o Bronco me proporcionou a mim e à minha família.


Não sei como é que se agradece a um carro. Nunca tive de o fazer antes. Sei que fica a saudade da sua força. Da sua incapacidade de desistir, da forma como conversava comigo, da sua generosidade, das paisagens que nos levou a ver, do mato, da serra, da praia, das noites ao relento só com o céu por manto. Não foi um carro, foi um verdadeiro companheiro. Mas a vida espreita ali àquela esquina e a mudança anuncia-se.


Um LandRover Defender não é um carro. É um conceito. Uma forma de estar na vida. Hei de voltar!

jpv


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Pedido: Vá lá… ‘facem-ma’ vontade!

Caros Amigos e Leitores,

Venho pedinchar!

Como dizia a minha avó, “Quem não chora, não mama”. E, neste caso, nem se trata de mamar o que quer que seja, é só uma questão de promover um pouquinho mais o nosso blogue, “Mails para a minha Irmã”.


Efetivamente, já temos uma afluência muito interessante, ou seja, mais de duzentas leituras por dia, um público muito assíduo e alguma presença na Web.


Ora, para as coisas melhorarem um bocadinho, dava jeito aumentarmos o número de “Seguidores” que, neste blogue, é baixo em relação ao úmero de leituras que apresenta.

É gratuito e não custa nada são só dois ou três cliques. Começam aqui à direita onde diz “Aderir a este site”, abrem a vossa sessão de e-mail e já está…

As vantagens para o blogue é que “Mails para a minha Irmã” torna-se potencialmente mais visitado.

As vantagens para os leitores são as seguintes:

1) Pode ler textos fantásticos como já fazia antes.
2) Pode não ligar nenhuma às parvoíces como já fazia antes.
3) Recebe um vale de descontos nos serviços que não prestamos.
4) Habilita-se a ganhar uma semana de férias um dia qualquer num sítio paradisíaco à nossa escolha num concurso com um representante do Governo Civil das Ilhas Caimão.
5) Agora podia fazer aqui uma piada com licenciaturas, mas o assunto está muito batido…
6) Ganha de imediato, sem concursos, a nossa gratidão e apreço.
7) Fica a fazer parte do excelso e exclusivo clube de seguidores de MPMI.
8) Faz uma boa ação e isso é contabilizado pelo seu Deus nas contas que, de acordo com o seu credo, Ele fará, quando o fizer.
8) Se for ateu isso não é contabilizado o que é fantástico para si porque não acredita em nada disso.

Abraços, beijinhos e muito obrigado!

ps: divulguem!
ps2: a meta é chegar aos 100 até à meia-noite de um dia destes
jpv


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Conversas Vadias – Por causa do Sexo

Conversas Vadias – Por causa do Sexo

– Tu amas-me?
– Não.
– Uf… que alívio… eu também não te amo…
– Sim, eu sei…
– Então, porque é que continuamos a fazer isto?
– Solidão, creio…
– Tens razão… por momentos achei que ias dizer que era por causa do sexo…
– Porque haveria de dizer isso? O sexo é péssimo…

jpv


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Conversas Vadias – Universo

Conversas Vadias – Universo

– Hum… é estranho.
– O quê? Eu estar aqui?
– Nunca ninguém trouxe malas!
– Não é uma mala, é um saco.
– Não é um saco, é um universo…
– É um problema?
– Não. É como se viesses para ficar, mas sei que não vais ficar…
– Posso tomar um duche?
– Claro…
– A seguir cozinho para ti.
– Trouxe coisas…

jpv


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Conversas Vadias – O Departamento das Suspeições

Conversas Vadias – O Departamento das Suspeições

– Gosto de falar contigo.
– Eu também, pode-se dizer tudo.
– Sim, é libertador.
– O sexo é uma consequência, não é o início da nossa relação.
– Tens razão. Já tenho pensado nisso e acho que é aí que reside o milagre do que há entre nós.
– Sim, mas isto é tudo muito confuso…
– Estás com dúvidas?
– Não, pelo menos em relação a nós, mas…
– Mas…
– Preocupa-me que se descubra. Achas que a tua mulher suspeita?
– Tenho a certeza de que não e, para ser franco… já que pegas no assunto…
– Diz…
– Acho sinceramente que, no departamento das suspeições, o perigo vem da tua mulher.

jpv


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O Clã do Comboio – Pequenina como a Sardinha

Pequenina como a Sardinha

Há uma expressão popular que diz “A mulher quer-se pequenina como a sardinha”. Cá para mim, é reflexo do desejo português de compactação das mulheres, ou então, e mais provavelmente, emerge a expressão do facto das mulheres portuguesas serem, geralmente, pequeninas. Venha de onde onde vier, o curioso é cruzar essa expressão popular com uma outra que diz “Mulher pequenina, ou velhaca ou dançarina”.

Vem isto a propósito de andar há já algumas semanas a observar uma passageira que se senta sensivelmente no mesmo sítio e que é uma típica mulher portuguesa, pequenina, portanto. Tem a pele pintada de um moreno bronzeado, o cabelo liso pelas costas, os olhos muitos escuros e muito vivos. Dorme profundamente até Lisboa, veste de acordo com as exigências do trabalho porque alterna entre fatos muito formais e outros bem práticos. E sempre, rigorosamente sempre, com uns óculos de sol Ray Ban clássicos a lembrar o Tom Cruise no Top Gun. Em todo o caso, traz todos os dias a sua mochila e a sua lancheira onde, por certo, transporta o almoço.

E é precisamente no pormenor da lancheira que me quero deter. Quando entra no comboio, coloca, invariavelmente, a lancheira na prateleira superior. Uma vez em Santa Apolónia, não chega lá acima para a tirar. Nunca isso constituiu um problema. Põe um pé, com cuidadinho, na ponta de um banco, segura-se à prateleira superior onde está a lancheira, iça-se e saca-a de lá em menos de nada. Desce, recompõe-se e vai à sua vida.

O interessante nisto é que este gesto revela a determinação que também o seu olhar espelha. Mostra a atitude resoluta e determinada que se percebe pelas suas expressões faciais. É pequenina, sim, como a sardinha e a típica mulher portuguesa, mas isso não parece constituir para si um problema. Bem pelo contrário!

jpv


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Conversas Vadias – Horário Zero

Conversas Vadias – Horário Zero

– Neste ano letivo que vai entrar, faço vinte anos ao serviço da mesma escola!
– Ena, ena, motivo para celebrar… devias receber um prémio.
– Já recebi.
– Não me digas, o que foi que te deram?
– No próximo ano sou “excedentária” e tenho um horário zero…
– Oops… e isso é assim?
– Sim. Parece que vinte e tal anos de carreira a educar e a instruir crianças e jovens e a servir o meu país, não valeram de grande coisa…
– Lamento.
– Também eu, também eu.

jpv