Monthly Archives: Maio 2011
A noite mais longa
"Com Amor," – Documento 26
Olá, Minha Menina Verónica,
O amor é uma forma de revolução, de reencontro e de libertação. É uma revolução nos nossos sentimentos comuns e consentidos, é a libertação da verdade e a única verdade é amar.
Sim, mantém-se o desejo e se há momentos em que rememoro as linhas elegantes e sensuais do teu corpo, também os há em que não vejo senão o teu olhar procurando abrigo no meu e nesses instantes prevalece o amor ao desejo. Eu já percebera que eras assertiva, que sabias bem o que querias, mas não imaginava que tudo isso pudesse sentir-se na tua volúpia fogosa, no teu sentir fundo cada respiração. Não me interessa nada se foi sexo ou amor. Interessa-me que ambos quisemos e interessa-me que foi lindo.
Não podia haver pecado, minha menina Verónica, precisamente porque foi em consciência e precisamente porque foi harmonioso. Sabes, às vezes ouso colocar-me no lugar de Deus e pensar como julgaria os actos dos humanos. Neste caso, no nosso caso, nem julgaria. Que fazer perante a realização plena do amor senão assentir e consentir? Era preciso ser um Deus muito deslocado do amor para condenar o que aconteceu entre nós. E sabes que mais? Foi bom… gostoso…gostei em particular daquele momento em que tu… esquece! Tu sabes ao que me refiro. Acho que se notou!
Antes que isto aqueça mais, deixa-me dizer-te, minha querida, que quero mais do que reencontrar-te. Quero reencontrar-nos. O quanto antes!
Teu homem Rui.
Sem Medo das Alturas
Be My Baby
O Tempo das Flores
O Tempo das Flores
Nasce o dia perfumado
Por um doce aroma a flores,
Como uma tela pintado
De muitas e diversas cores.
Andam lilases esvoaçando
E tons quentes também,
Andam os deuses brincando
Com o tempo que a gente tem.
Jorram doces líquidos no sabor
E erguem-se taças em comunhão,
Há corpos afogados em suor
Rolando sensuais pelo chão.
E há trocas e oferendas
A marcar o compasso da vida,
Invocam-se teorias e lendas
Para encontrar a fé perdida.
E fica no ar o prazer
De um amor cego e louco,
Para tanto que há a fazer
Todo o tempo de uma vida é pouco!
jpv
Fidelity
Regina Spektor é uma jovem cantora de voz doce e límpida que nos merece alguma atenção. Esta canção, “Fidelity”, faz parte da banda sonora de um interessante filme de 2010, “Love and Other Drugs”. Para que não vos falte nada:
"Com Amor," – Documento 25
Meu Homem Rui,
Escrevo-te em papel, para o trabalho como combinámos, para que me sintas mais próxima de ti, para que toques o papel que eu toquei, para que admires o selo que eu colei, para que sintas o perfume do papel que eu perfumei.
Agora percebo o que dizes sobre tomar decisões em consciência. O que aconteceu entre nós roçou a perfeição, pelo menos, a perfeição de amar. E não houve pecado naquilo que fizemos. Não pode haver pecado numa entrega assim, num amor e numa harmonia tão divinais. Sabes, Rui, os mails são mais rápidos e mais eficazes, mas hoje quis escrever-te em papel para cristalizar e materializar o que aconteceu entre nós e o que aconteceu entre nós foi como a nossa escrita, mas com o requinte do papel que tem um toque particular e um odor próprio.
Andei-me revelando nos teus braços, andei-me entregando e andei recolhendo-te no meu corpo. Conversámos olhos nos olhos, Rui, e esse foi outro milagre. E depois despimos roupas e preconceitos e todo o universo cristalizou à nossa volta. Ninguém viveu, nem morreu, nem correu, nem andou, nem sonhou, nem trabalhou, enquanto nos amámos. O mundo suspendeu-se da sua vida e da sua existência.
Não resisti porque não quis. E não quis porque quis. E tinhas razão, meu homem Rui, nada mais havia naquele momento que valesse a pena ser vivido, nada mais havia que valesse a nossa respiração, o nosso tacto, o nosso olfacto, a nossa visão, nada nos nossos sentidos e nas nossas capacidades, nada nos nossos gestos tinha outra intenção que não as carícias a incendiarem o desejo e o bailado dos corpos na entrega. E vem-me de novo à mente aquela tua teoria do sexo e do amor. Não sei exactamente o que foi, mas nenhum deles ali esteve sozinho.
Neste momento, Rui, não vejo nem sinto mais nada que não seja o desejo de reencontrar-te.
Tua menina Verónica.
Que bem que eles se entendem!
Curtas do Metro – Não Mexas Nisso, Pá!

Não Mexas Nisso, Pá!
Estação de Baixa/Chiado, sentido Santa Apolónia.
Mais uma vez saí tarde do trabalho. São mais ou menos 20:30h. Venho a chegar à plataforma. Acabei agora mesmo de descer as escadas que lhe dão acesso. Do outro lado da linha, no sentido Amadora-Este, vinda do cimo das escadas, oiço uma voz feminina que grita de forma bem audível e em tom zangado, muito zangado:
– Não mexas nisso, pá!
Olho para trás no sentido do som e vejo um corpo de homem bem constituído, a rondar os quarenta anos, a voar e a rebolar escada abaixo até se estatelar no patamar intermédio com um estrondo surdo. Com ele rebolou uma mochila e um saco de papel que acabaram junto ao corpo. O homem ficou caído, imóvel. Uma rapariga de mini-saia azul-escura e uma blusa às riscas desce a escada. Ao lado dela vem um rapaz musculado com calças de ganga e uma t-shirt cinzenta. Apressa o passo. Quando passa junto do homem estatelado, o rapaz coloca o dedo em riste, baixa-se e grita-lhe:
– Nunca mais mexes no que não é teu!
Os dois acabaram de descer as escadas tranquilamente. Algumas pessoas rodearam o homem caído. Uma levantou-lhe um braço, mas ele não reagiu. O meu Metro chegou. Entrei, espreitei pelo vidro e vi o homem levantar-se amparado à parede. Parecia apontar no sentido do casal. O meu Metro arrancou. Troquei umas palavras de circunstância com uma senhora, mas nenhum de nós sabia mais do que isto. Gritos, um corpo caindo escada abaixo, mais gritos.
jpv





