[Neste mês, tem início efectivo a guerra do Iraque. A Internet atinge os 500 milhões de utilizadores. As Nações Unidas criam um site para apoiar a Década da Alfabetização, que se desenrola de 2003 a 2012. Explicitando o conceito de literacia utilizado, afirma-se: “Literacy is about more than reading and writing – it is about how we communicate in society.”
Olá mana.
Lembro, ainda com medo, aquela madrugada sangrenta de corações pequeninos e toda a vida depositada na coragem do nosso pai, da nossa mãe. Caminhámos céleres por entre silvos de balas enquanto a aurora nos traía a vida. Ficou-me na alma um cheiro de desespero, um pressentir de desgraça. A memória vai fechando janelas neste meu caminhar quotidiano para o fim, mas dessa madrugada não esqueço! Não esqueço o pânico. Não esqueço ter prometido nunca mais viver nada assim. Não esqueço a ausência absoluta de dignidade. Não esqueço que os homens matam sempre, não esqueço que os homens escolhem matar. Não esqueço que todos os dias nos atraiçoamos uns aos outros e ao milagre da vida que Deus nos concedeu. Essa guerra africana terminou. Outra se anuncia agora, lá longe, em terras secas de amor, áridas de vida e desafortunadamente prenhes de ouro negro! Sabes, quando andava na faculdade estudei, por razões várias, várias vezes, em vários textos, a história de Agamemnon. A este guerreiro, mais tarde herói, os deuses deram duas hipóteses: ou sacrificar sua filha Ifigénia e ganhar a guerra ou não fazê-lo para a não perder. E, num gesto de crueldade ímpar que viria a trazer uma história de sangue e perdição para todos os seus descendentes, Agamemnon mata a própria filha e ganha a guerra! Ganha! Ganha? Ganha… Lembro-me ainda do teu sorriso inocente naquela madrugada em que foste a minha Ifigénia sacrificada à estupidez humana. Lembro-me de ti quando ainda acreditavas que o mundo podia ser, como diz o Pedro Barroso, “um jardim de poetas superiores e verticais”.
Beijo.
Mano.
19/05/2009 às 00:45
Para sempre!
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19/05/2009 às 00:13
Hoje tinha decidido não “web-ler”, mas bastou a pergunta o que é que eu posso dizer relativamente ao desaparecimento da Ifigénia que imediatamente estes curiosos dedos, que teimam em me acompanhar por estas ruas repletas de silenciosos noitibós, foram invadidos por um enorme formigueiro e resolveram meter mãos à obra.
Não me digam! Será verdade? Onde estão os frutos da Ifigénia? No deserto dos nossos sorrisos? Em nós? Não creio, porque esta imensidão de demónios que nos cercam diariamente,não desejam, não acreditam e não aceitam fazendo assim, secar as Ifigénias que ainda se atrevem a viver em nós. No entanto creio que a nossa Ifigénia viverá para sempre dentro de nós.
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18/05/2009 às 12:01
Olá Vanda, muito bem vinda sejas a este cantinho de pensamentos. Bem sei que este comentário deve ter sido a tua primeira experiência na blogosfera e, se foi, constitui um auspicioso começo. Abraço grande. JP.
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18/05/2009 às 11:18
Talvez matemos Ifigénia de vez em quando. Ou talvez não…
Sempre que conseguimos comunicar esperança e teimamos alicerçar a vida – de filhos, familiares, amigos, alunos… – na construção de um sonho que se reveste de paz e emoção, de dúvida e de fé, creio que salvamos Ifigénia.
Obrigada pela reflexão que me obrigaste a fazer pela manhã. Não deixes morrer Ifigénia. Escreve.
Com carinho.
Vanda
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