[Dos 50 principais jornais norte-americanos, apenas cinco alinham claramente pelas posições da Administração Bush de avançar para o ataque ao Iraque, segundo uma análise conduzida pela revista Editor & Publisher (entre eles: The Wall Street Journal e The New York Post). Há ainda 11 publicações que, embora alinhando no mesmo sentido, se mostram mais cautelosas, sublinhando a importância de conseguir primeiro evidências acerca das armas de destruição maciça e uma adesão da maioria da população (ex.: Los Angeles Times, The Washington Post). O Projecto “Público na Escola” lança uma nova edição do Concurso Nacional de Jornais escolares, este ano em torno do tema “O jornal. Que futuro?”. A República Popular da China decidiu bloquear o acesso ao Blogspot.com. Este site permite a criação de weblogs e, por conseguinte, a expressão individual e de grupo.
Data da primeira publicação: 31 de Janeiro de 2003]
Passámos juntos, há poucos dias, mais uma noite de Natal. Natal de trintões com cartão de contribuinte e número de identificação bancária. Longe, muito longe já, de uma noite irmã-mais-
velha que hoje recordo para nós. Tu, menina de colo, poucos meses na idade e eu criança de calções curtos e joelhos esfolados à força de tanta brincadeira, de tanta aventura… Por essas alturas o Natal eram mais as pessoas e menos as coisas, onde vivíamos não chegara ainda a televisão e o menino Jesus reflectia poucas luzes mas muitas pessoas. Cantava-se, não se punha um cd! O Natal era o Avô a encher a sala com a sua voz, comandando os festejos. Era a avó a fazer bolo rei e torta de chocolate, eram os pais, as tias, os primos mais velhos e os filhos deles, uma comunhão, uma amizade, uma conversa, uma alegria sem T.V., sem hipermercados, sem papel de embrulho igual para todos. Havia sempre um familiar, em geral o primo Armando, que avistava o Pai Natal na janela da frente e a pequenada corria aos atropelos: “Onde está? Onde está?”. Entretanto, alguém completava a teia da ingenuidade e gritava dos fundos: “Estão aqui! As prendas estão aqui!” E o Pai Natal voltara a enganar-nos a todos e as prendas, poucas e maravilhosas, completavam o ciclo da dança que começara numa carta encomendada pelas tias para entregar ao senhor das barbas brancas sem ninguém saber… A concorrência, à época, ficava-se pela arte de fazer o embrulho mais perfeito, o laço mais bonito. Era um ritual que começava na escolha do papel, sempre de acordo com o presenteado, viajava pelo embrulhar distinto e dedicado de cada um dos presentes e terminava num todo: o presente ideal, matéria envolta em espírito. Lembro-me até que os mais velhos guardavam as duas coisas, o presente e o embrulho. Era como que um acto de respeito pelo desvelo com que tinham sido urdidos. Hoje, quando vejo as crianças deixarem o papel dos embrulhos caído, abandonado no chão à espera do caixote do lixo, percebo que assim seja, afinal, quem é que conhece a menina contratada por trinta dias numa superfície comercial para substituir o desvelo de quem não tem tempo para ele e que traz ao peito um cartãozinho que diz “Vanessa Martins – operadora – um sorriso para si”? Pois, o sorriso é só um e si somos tantos!
Lembro-me, mana, da individualidade que um presente representava, lembro-me de como uma prenda era especial, lembro-me, até, de o Natal ser tão mais curto no tempo e tão mais intenso no sentir. O problema é que o Natal já não começa quando devia… já não é quando um homem quiser. Agora, começa logo ali a seguir ao Verão porque os fluxos comerciais assim o exigem. Já viste a miséria de vida que não teríamos se, regressados da praia, das campanhas de Verão em que se vendem automóveis e computadores às postas, o mundo estagnasse para pensarmos uns nos outros?! Já viste a desgraça que não seriam os nossos serões se, entre Setembro e Dezembro, não se vendessem os mesmos automóveis e os mesmos computadores pelo mesmo preço mas muito mais em conta numa campanha televisiva de Natal?! Já viste que infelizes seríamos se não comprássemos todos os mesmos presentes, nos mesmos sítios, com os mesmos embrulhos, para baralharmos, partirmos e darmos de novo?!Beijo,
Mano
18/05/2009 às 00:37
Olá Rita, recordar tem a insubstituível vantagem de se parecer com um filme mas… a sério! Obrigado pela visita. JP.
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18/05/2009 às 00:35
Este Natal descrito pelo João era quase sempre envolto em grande mistério e muitas estórias em que piamente acreditávamos. A curiosidade era tanta, que naquela noite o sono corria a 200 à hora de forma a que a manhã chegasse o mais rapidamente possível.
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17/05/2009 às 23:59
Gostei de ler este Natal, João… muito parecido com os que eu vivi…Creio que naquelas noites nem dormíamos, eu e as 2 manas, porque a vontade de ir à chaminé (era mesmo lá), buscar os presentes, roubava-nos o sono. Depois era ver as 3 em cima da cama dos pais a abrir os presentes, poucos mas sempre os desejados.
Também recordo as tropelias que fazíamos quando já desconfiávamos de quem nos trazia as prendas… 🙂
Boas recordações.
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