Quando a farpa
Entra na carne do touro,
Não é na carne
Que mais lhe dói.
É no êxtase da surpresa,
Na desilusão que corrói.
Quando investes
E te entregas
À volúpia da carícia
E da harmonia imaginada,
Não percebes
A origem da perícia,
Sentes, só,
O gume da espada.
Quando dás
Sem te pedirem,
O corpo à festa
E à multidão,
E sentes os pés fugirem
À gravidade
Que te prende ao chão,
Percebes, finalmente,
A verdade crua e ensanguentada:
Era para ti a mentira,
Era para ti a espada.
Eras tu, besta insana,
A vítima da tourada!
jpv
