De Rerum Natura
SE…
Lembro-me, imagem vívida, do teu último sorriso para mim, em pessoa. Seguravas-me as mãos. As tuas mãos eram sempre quentes e acolhedoras. Estávamos de pé, no campo de basquete junto à casa. O teu olhar iluminou-se de alegria por aquele momento a sós comigo, pela cumplicidade contida nele. Mas tinha aquela pontinha de melancolia que aperta o coração de quem se despede do amor de uma vida. E sorriste um meio sorriso que me deixava partir para as minhas aventuras e ao mesmo tempo chorava por dentro por não poder reter-me. Não foste capaz, nunca, de recriminar-me pelas minhas opções, de criticar-me pelas escolhas que nos afastavam. O máximo que conseguias era pedir-me que regressasse e tinha de ser eu a decidir se te referias a um regresso temporário, de férias, ou a um regresso definitivo para os teus braços. Eu soube sempre, mamã, que me querias junto a ti, que ansiavas o meu regresso definitivo para me acolheres no teu seio, para me preparares uma refeição deliciosa, com todos os cuidados e repleta de tudo o que eu mais gostava, para me tratares como a pessoa mais especial do Universo. Nunca me abandonaste. Fui eu que te abandonei. Que te deixei para trás. E guardo o teu último olhar para mim e o teu último sorriso para mim como os tesouros mais preciosos que a vida me deu. Quando estavas assim comigo, em cumplicidade, colocavas o pronome antes do verbo.
– Te cuida. Te amo.
– Também te amo muito mãezinha.
Se eu soubesse que exatamente quinze dias depois deixarias de estar entre nós, tinha-te segurado as mãos para nunca mais as largar.
Se…
jpv


