
Tens a liberdade que foi minha,
Tens a canção e o gesto acertado,
Tens o tempo e a opção.
Vives cada passada
Como quem caminha
Em estrada de ilusão.
E sorris ao perigo
E ao desafio.
Tentas sem risco
Nem cálculo,
E corres desenfreado como o rio
Que sabe onde fica o mar.
E tens o amor
Em passadeira estendido.
Tens essa ousadia,
E esse fulgor
De quem não vive arrependido.
Não contas os dias,
Não precisas do tempo,
Não queres o exemplo,
Com que me desafias…
E vives.
E desvives-me os conceitos
E as emoções.
Despregas-me as mãos da Cruz
E lambes-me os rasgões
Na carne
Como se pudesses…
Como se nada mais fizesses…
É já o Sol a por-se.
É já o declínio do dia,
Uma luz amarga e fugidia
Pinta as tardes.
E esse fogo que ardes
E foi em tempos meu
Deixou-me e morreu.
jpv