Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Verdade

Não há culpa
Nas tuas mãos
Quando me acariciam.
E não há crime
No teu olhar
Quando teus olhos
Me procuram.
Não há mentira
Nos teus lábios
Quando me beijas.
E não há pecado
Entre as tuas coxas
Quando me mostras
O que te peço
E desejo.
Não há cansaço nem defesa,
Não há, não pode haver, pejo
Em viver as palavras
E os gestos da alma acesa
E renascida.
Não há morte
Onde, a cada instante,
Brota vida.

Vieste como a nau

Na bruma da manhã
Deslizando sossegada
E silenciosa.
E a alma do poeta,
Habituada e ociosa,
Reergueu-se
E veio abraçar-te
E receber-te,
Veio ver-te
E acreditar.
A alma do poeta
Veio amar
Onde se podia amar.
Chão estendido e fértil,
Chão prenhe e quente,
Onde pulsa
O coração da gente.
E a gente és tu,
Pura e limpa
E diáfana,
Sem idade.
Meu Destino.
Minha Verdade.

jpv


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Poeta sem Palavras

Falta contar
A história do poeta
Que perdeu as palavras
Quando a forma
Do teu corpo
Abandonou o desenho
Das minhas mãos.

Falta contar
A história do ateu
Que saiu de casa
Numa noite de breu
E foi esconder-se
No templo sagrado
Desse corpo abandonado
Ao desejo e à distância.

Não é errância,
Isto,
É um Destino misto
De Fé e indiferença.
É acreditar, violentamente,
E essa crença
Estar dilacerada
E dividida
Entre o abraço
Na chegada
E o adeus
Na partida.
E as únicas palavras dizíveis,
Na medida justa e certa,
Serem as que perdeu
O poeta.

jpv