Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Paradiso XI

As cadeiras abandonadas

Sempre.

A paisagem é o mar,

Sempre o mesmo mar.

E as rochas

Acolhendo as bátegas

Com mais ou menos força.

Uma ave passa

De quando em vez,

O grasnar

Cortando o silêncio.

Tudo isto é verdade

E tudo isto

Tem uma repetição

Que não é própria

De um paraíso…

Falta-lhe vida…

A vida da savana!

Dos animais que se perseguem,

E comem, vorazes,

A presa.

E calmos,

Quando é preciso

Estar calmos,

E suados

Quando precisam

Suar.

E aquele, lá no alto,

Redondo,

E vermelho como nunca…

O Sol.

Quando chegarem a um local

Se o Sol não vos ferir

A sensibilidade

Ainda não é

O Paraíso…

jpv


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Paradiso X

Pardais.

Trepam todas as superfícies.

Ainda há pouco

Subiam a escada

Pelos caminhos

E ao mesmo tempo

Pelos degraus.

Enquanto um espiava

Os restos deixados

Numa mesa.

Outros debicavam

Uns grãos

Outros no chão.

E por fim,

A coragem de ir a uma mesa.

Dormem, às dúzias,

Por sob as palhas

Dos chapéus-de-sol.

E regozijam na grama

Da hortelã.

E por fim,

Uma pausa

Para interrogar-me

Porque um paraíso

Só tem pardais,

Só pardais.

Pardais.

jpv


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Chá Contigo

É um lago imenso
E tranquilo.
Onde vem espelhar-se
A luz limpa
Da meia manhã.
Um relvado amplo
Desce a suave colina,
Rebrilha verdes,
E vem beijar
As águas doces.
Sob a sombra densa
Dos plátanos
À procura do céu,
A velhinha contempla
O bailado da luz
E sente na pele
O canto das aves.
Espera.
E já nada espera.
O caminhante aproxima-se
Em passadas serenas
E firmes.
Cruza o olhar de espanto
Do comandante
Sem se deter
E desce a colina
Para a velhinha
Que o pressente
E não se move.

És tu?
Sou.
Demoraste…
Era longa, a viagem.
Que fazes aqui?
Vim tomar um chá contigo.

A mão da velhinha
Pousa devagar
Na do caminhante.
Antes de se reverem,
Descansam o olhar
No horizonte do paraíso
E sabem que só agora
Começa o fim.

jpv