Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Também já não é Vida

Como uma rajada,
Violenta e inesperada,
Entra o gume da faca
Na carne da alma.
A impotência do moribundo
À vista da ave
Que corre mundo
E nem sabe porquê.
O Homem é mais
Do que aquilo que vê.
A decisão retida.
A palavra contida
Em nome de uma paz
Que é morte anunciada.
Porque permanece o nauta
De olhar no horizonte
Debruçado n’ amurada
Se não há, já, porto
Para a nau triste,
Perdida e naufragada?
Há uma morte fingida,
Uma morte que não mata
Nem é saída.
E, contudo, trágica,
Também já não é vida.

jpv


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Maré

É como uma maré,
Gigantesca e impossível,
Onde desliza, serena,
A nau invisível.
E os nautas
Encostam-se à amurada
Prenhes de si
E de mão dada.
E há dor,
E há sacrifícios,
E há homens valentes
Que se jogam ao mar.
E há ventos contrários
E procelas terríveis
E os nautas navegam
Serenos e devagar
Vendo-se, no horizonte,
Amantes e impassíveis.
E chegam fogos,
E ondas de engolir,
E estes nautas
Não sabem fugir
E desconhecem os jogos
Da palavra arremessada.
Fica só uma mão na outra
Junto d’amurada.
É como um mar,
Revolto e encapelado,
O curso da felicidade.
Quem não morra de saudade,
Quem não sofra de medo,
É como se não tivesse amado.
No fim da borrasca,
No fim da poeira no caminho
E da nau atormentada,
Fica o nauta sozinho
E os amantes n’amurada…
De mão dada.

jpv


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Limite

No limite da palavra
E no limite do gesto.
No limite da carícia
E no limite do funesto.
No limite da tentação
E no limite da conjura.
No limite da revelação
Da atitude mais impura.
A nau naufragou
Porque tinha de naufragar,
Não há não quem navegue
Onde não haja mar.
E ficam nautas suspensos
E outros afundando.
Todos têm destino,
Seja prazeroso
Ou nefando.
Uns se erguem
E cruzam a rebentação
A poder de braços.
Outros olham o horizonte
E veem metros escassos…
No limite da coragem
E no limite da lucidez.
No limite da voragem,
A grandeza ou a pequenez.

jpv