Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Verdade

Não há culpa
Nas tuas mãos
Quando me acariciam.
E não há crime
No teu olhar
Quando teus olhos
Me procuram.
Não há mentira
Nos teus lábios
Quando me beijas.
E não há pecado
Entre as tuas coxas
Quando me mostras
O que te peço
E desejo.
Não há cansaço nem defesa,
Não há, não pode haver, pejo
Em viver as palavras
E os gestos da alma acesa
E renascida.
Não há morte
Onde, a cada instante,
Brota vida.

Vieste como a nau

Na bruma da manhã
Deslizando sossegada
E silenciosa.
E a alma do poeta,
Habituada e ociosa,
Reergueu-se
E veio abraçar-te
E receber-te,
Veio ver-te
E acreditar.
A alma do poeta
Veio amar
Onde se podia amar.
Chão estendido e fértil,
Chão prenhe e quente,
Onde pulsa
O coração da gente.
E a gente és tu,
Pura e limpa
E diáfana,
Sem idade.
Meu Destino.
Minha Verdade.

jpv


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Maré

É como uma maré,
Gigantesca e impossível,
Onde desliza, serena,
A nau invisível.
E os nautas
Encostam-se à amurada
Prenhes de si
E de mão dada.
E há dor,
E há sacrifícios,
E há homens valentes
Que se jogam ao mar.
E há ventos contrários
E procelas terríveis
E os nautas navegam
Serenos e devagar
Vendo-se, no horizonte,
Amantes e impassíveis.
E chegam fogos,
E ondas de engolir,
E estes nautas
Não sabem fugir
E desconhecem os jogos
Da palavra arremessada.
Fica só uma mão na outra
Junto d’amurada.
É como um mar,
Revolto e encapelado,
O curso da felicidade.
Quem não morra de saudade,
Quem não sofra de medo,
É como se não tivesse amado.
No fim da borrasca,
No fim da poeira no caminho
E da nau atormentada,
Fica o nauta sozinho
E os amantes n’amurada…
De mão dada.

jpv


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Limite

No limite da palavra
E no limite do gesto.
No limite da carícia
E no limite do funesto.
No limite da tentação
E no limite da conjura.
No limite da revelação
Da atitude mais impura.
A nau naufragou
Porque tinha de naufragar,
Não há não quem navegue
Onde não haja mar.
E ficam nautas suspensos
E outros afundando.
Todos têm destino,
Seja prazeroso
Ou nefando.
Uns se erguem
E cruzam a rebentação
A poder de braços.
Outros olham o horizonte
E veem metros escassos…
No limite da coragem
E no limite da lucidez.
No limite da voragem,
A grandeza ou a pequenez.

jpv