Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Nha Terra

Cabo Verde, Ilha de Santiago, Praia do Tarrafal.

É Cabo, mas não tem cabo.
É Verde, mas não tem sempre verde.
É país, mas tem países.
É Língua, mas tem Línguas.
É luz intensa
E chão escuro.
Meneio da anca.
Ritmo no corpo
Que sofre o trabalho duro.
É paisagem que surpreende.
Floresta densa,
Solo de lua,
Marte ardente,
E postal de praia que vende.
É um vulcão esquecido
E outro que não se pode esquecer.
É sabor de peixe
E catxupa no dia seguinte.
É terra de pessoas ki bai
É terra de pessoas ki bem.
É um sorriso
E uma cara cerrada.
É um deambular
Junto ao mar
Numa Praia ornada
De diferenças.
É gente de pose orgulhosa
E rápidas sentenças.
É uma alegria contagiante
E uma antiga dor.
É o sal queimando
Na pele do pescador.
É uma morna dolente
Que paira no ar,
Um corpo ardente
Colado ao outro
Quase a dançar.
É saudade em cada frase.
É História forte e presente.
São amores perdidos
E gente ausente.
E é uma força e uma glória,
Um grito nacional no peito,
Pronto a sair.
É uma irmandade
Na Língua
E no sentir.
Cabo Verde,
Terra de chegar e partir.

jpv




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A Bíblia do Ateu

beijo

Foi bom, esse beijo,
De fugida,
Mais roubado que dado.
Nasceu em meus lábios
E morreu nos teus.
Foi simples e improvisado,
Tentação do Diabo,
Milagre de Deus.
Corpo ausente,
Junto a mim,
Desejo de beijo,
Sem princípio,
Sem fim.
Abraço de Platão
E o teu corpo sobre o meu,
A roupa que abandonaste pelo chão,
Bíblia sagrada deste pobre ateu.
E outro beijo, talvez,
Oferecido com o mesmo vigor.
Ainda bem que não me amas
Porque, se isto é assim sem amor,
Que seria deste pobre coração
Se o calor dos teus lábios
Trouxesse volúpia e paixão?

Não me beijes mais,
Peço-te, por favor,
Que o calor da tua língua
Traz-me o prazer
E mergulha-me na dor.
Ritual sem sacerdote
Nem altar,
Que tem por Salmo
Sinuoso decote
Oferecido ao olhar.

Foi bom, esse beijo.