Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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A Tatuagem do Caminhante

Uma voz interior
Acorda um clamor
Dentro do peito exangue.
Uma ave corta o céu
No azul que brilha sobre a mão.
Informes, as nuvens
Desenham futuros em vão.

É uma planície
E é um terreno acidentado
E montanhoso.
É um jovem fogoso
E um velho decrépito a morrer.
E não sabe o velho porque não viveu,
Não sabe o jovem porque não vai viver.
É uma dúvida nua
Cravada no pensamento.
E ter o tempo todo
E gastá-lo como se não houvera mais tempo.
É uma coisa indizível
Sem palavras para a desenhar.
E é outra coisa, igualmente perecível,
Com todos os verbos no lugar.
É um rebentamento devastador
E uma música dolente
No horizonte distante.
É um homem-estátua
Rindo-se do caminhante.

A voz é agora um grito
E o pássaro livre procura, aflito,
Onde emudecer sossegado.
É uma estrada de terra vermelha
Tomando conta do chão macadamizado.
E o caminhante passa descalço,
Pés rasgados a arder,
Continua a rir-se o homem-estátua,
Inerte e imutável, sem Saber
E sem ignorância também.
Ri-se com desdém do desdém
Do olhar azul e altivo
Do caminhante só e cativo
De si e do Conhecimento.

Calou-se a voz interior.
Desfez-se o terreno acidentado.
Morreu o jovem ignaro
E foi a sepultar o velho abandonado.
Não há, já, dúvida,
Nem palavras para a vestir.
Não há música,
Nem homem-estátua a rir.
Só a estrada,
Um cavalo alado que dança,
O asfalto fervente,
A imensidão do vazio
E a linha magra e infinita
Na frente do caminhante
Que sorri de esperança.

jpv


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O Corpo do Jovem

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Nesse sinuoso caminho,
Trilhado com dor e sangue
Jaz morto e frio,
O corpo do jovem, exangue.
Tombou lá longe, sozinho.
Não tinha nada de seu,
De seu não tinha nada.
Só a alma envolta no breu,
E a carne, a golpes, dilacerada.
E vive exultante em meu peito,
Neste fogo de paixão que me consome.
Esse menino que morreu lá longe,
Viveu e fez-se homem.
Por cada golpe
E por cada ferida que dói,
Morre mais o menino
E cresce, em mim, o herói.

E tenho esta visão,
Este conforto de assistir
À grande revolução
Que é ver-te partir.

 jpv