Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Maré

É como uma maré,
Gigantesca e impossível,
Onde desliza, serena,
A nau invisível.
E os nautas
Encostam-se à amurada
Prenhes de si
E de mão dada.
E há dor,
E há sacrifícios,
E há homens valentes
Que se jogam ao mar.
E há ventos contrários
E procelas terríveis
E os nautas navegam
Serenos e devagar
Vendo-se, no horizonte,
Amantes e impassíveis.
E chegam fogos,
E ondas de engolir,
E estes nautas
Não sabem fugir
E desconhecem os jogos
Da palavra arremessada.
Fica só uma mão na outra
Junto d’amurada.
É como um mar,
Revolto e encapelado,
O curso da felicidade.
Quem não morra de saudade,
Quem não sofra de medo,
É como se não tivesse amado.
No fim da borrasca,
No fim da poeira no caminho
E da nau atormentada,
Fica o nauta sozinho
E os amantes n’amurada…
De mão dada.

jpv