Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


6 comentários

Crónicas de Maledicência – Os Gregos são uns Chatos

tsipras

Crónicas de Maledicência – Os Gregos são uns Chatos

Os gregos, em geral, são uns chatos. E os do Syriza são da pior espécie. A mulherada não fala noutra coisa que não seja em Tsipras, o Adónis da política, ou Varoufakis, o Apolo da finança. Depois de Demis Russos, Nana Mouskouri, e mesmo mais do que eles, os novos e emergentes políticos gregos tomaram conta do nosso quotidiano. E, quer se concorde comvaroufakis eles, ou não, o facto é que não se lhes pode ficar indiferente. E não me venham cá apelidar de sexista porque a mulherada, pelo menos a que me rodeia, fala mesmo deles.

Os gregos do Syriza são da pior espécie. Para já, atrevem-se a ser giros no meio de uma cambada de tipos de aspeto gasto, envelhecido e francamente feio. É fácil identificar um ministro europeu. É sempre o tipo mais feio da sala. Se for alemão, pode mesmo nem se ter nas pernas e andar de cadeira de rodas. E andam todos com o pescoço sufocado e o corpo pendurado de gravatas anódinas, de custo superior ao valor real, realmente pagas pelos nossos impostos.

Já o Tsipras e os amigos têm um ar saudável e desafogado, colarinho despreocupado e um aspeto moderno e informal quase como se os políticos fossem gente como nós e não essa imortal e excelsa casta de eleitos que nos tem governado e guiado pelas trevas da nossa ignorância.

E esses gregos syrízicos andam de mota, deslocam-se em viatura própria, voam em classe económica, têm blogues, conta no Twiter e, imagine-se o inusitado da questão, falam com as pessoas.

Estava a Europa descansadinha e aprumadinha, convenientemente imersa numa crise e numa recessão económicas que duram há quase uma década, têm responsáveis identificados, os ranhosos dos povos do Sul que, com a sua indigência e preguiça e incapacidade intelectual, têm ficado a dever muito do dinheiro que não gastaram às mui nobres gentes do Norte, quando surgem estes rufias, assim lhes chamou o “Die Welt”, e dizem ser necessária uma nova ordem, que pagar submarinos e armamento que não precisavam e que não pediram para guerras que não existiam, não lhes parece muito correto e, como tal, talvez seja melhor pagar ao ritmo do crescimento económico para o garantir e, já agora, se não se importam, convém que sejam pagas dívidas antigas de maus pagadores com boa fama que, em larga parcela, cobrem o que agora se diz que se deve.

Parecia a Grécia tão vulnerável, tão sem soluções, enredada numa teia financeira gerida por tipos antigos, rígidos, sulcados pelas rugas e armadilhados de colarinho branco, e surgem estes giraços, estes modernaços, e ousam desafiar as regras do jogo, ousam ter as suas próprias ideias para o seu próprio país e ajudam as pessoas mais prejudicadas pela crise, aumentam o ordenado mínimo, readmitem funcionários públicos, pagam a luz das pessoas e pensam nelas. Políticos sem gravata a pensar nas pessoas. Os gregos são uns chatos e os do Syriza são da pior espécie.

Agora, que tudo ia tão bem na Europa…

Tenho dito.
jpv


Deixe um comentário

Crónicas de Maledicência – E Agora, Europa?

greciaCrónicas de Maledicência – E Agora, Europa?

Lá, onde se inventou a democracia, lá, onde ela parecia estar moribunda e desnorteada, lá, esse povo parece querer tomar conta desse poder e reinventar, com novas linhas, essa mesma democracia. E agora, Europa?

O mundo estava já acomodado à alternância no poder de duas grandes forças. Os nomes variavam, a dança repetia-se. Os gregos rasgaram o livro de instruções e, parece, estão a trilhar novos caminhos. Imprevisíveis. Inusitados. E agora, Europa?

Esse mesmo mundo que se espantou, e ainda anda à procura de saber como se pronuncia “SYRIZA” E Tsipras, discute agora se haverá Euro ou não, se haverá Europa ou não, se haverá Troika ou não, se haverá austeridade ou não, se haverá radicalismo ou não. E agora, Europa?

Os gregos não parecem muito preocupados com todas estas questões. Na verdade, parecem mais preocupados com a sua soberania, com a sua dignidade e com aquilo que eles próprios querem para eles próprios. E isto, este simples exercício de autonomia e autodeterminação, parece estar a incomodar muita gente por esse mundo fora, a mobilizar muita gente por esse mundo fora. E é isto que merece a nossa reflexão. Se tudo isto está tão errado, tão fora das regras, porque aderem as pessoas com tanta esperança à ideia de mudança que as eleições gregas trouxeram consigo?

É verdade que há regras internacionais de funcionamento, é verdade que as regras e os acordos são para respeitar, mas é verdade, também, que foi com essas regras que os bancos e os banqueiros faliram as nações e os povos tiveram de sacrificar-se para pagar esses despautérios ao mesmo tempo que se convenciam as pessoas que a culpa era delas e de viverem acima das suas possibilidades. Dentro desta equação, o que se passou ontem e hoje na Grécia tanto pode ser visto como um desrespeito às regras de funcionamento da Europa, como a salvação e o resgate dessa mesma Europa.

Importará perceber qual a dimensão da determinação do novo Governo grego, qual a profundidade do seu ímpeto reformista e, sobretudo, que ideias tem para alicerçar uma nova ordem. Sendo que, para nós, algo se afigura como óbvio: é mesmo necessária uma nova ordem. Terá custos, naturalmente. Mas ainda não estamos nesse plano. É que os sistemas estatuídos têm tendência a segurar-se e a agarrar-se à sua própria existência. Ainda não aconteceu nada. Isto, ainda é só o começo. Importa ver como o resto da Europa vai reagir à nação que a (re)inventou.

E agora, Europa?

Tenho dito.
jpv