Short Stories – Equívoco
Era um tipo decidido. Resoluto. Sabia bem o que queria da vida e raramente olhava para trás. Era um cavaleiro andante, um destes homens que não para em lado nenhum porque está em todo o lado. Um conhecedor. E, sem ser belo, era charmoso. As suas palavras tinham o dom de comandar e o poder de seduzir.
Um dia atravessou um oceano e dois continentes e conheceu uma menina meiga e tímida, de poucas palavras e muitos e calorosos beijos, uma menina de satisfazer-lhe os caprichos na cama, de rir-se com ele, de cuidar de si, de andar consigo de um lado para o outro como uma sombra apaixonada. Ela nunca soube, porque ele não o permitiu, manteve sempre a pose e a atitude da personagem que tinha construído, mas ele apaixonou-se. O desejo incendiou-lhe o peito, semeou-lhe a dúvida na mente e assustou-o.
Saíu. Atravessou os continentes e o oceano em sentido contrário.
Estava longe dela, já, onde os dias começam ao contrário e os rios correm noutra direção, quando a viu na rua. Ali, onde seria impossível que estivesse. Estava agachada, dando um nó aos atacadores no sapato de uma criança e ele olhou-a enquanto passava e o seu pescoço foi-se virando para trás até que deu meia volta e ficou a dois passos dela, a olhá-la como que a certificar-se de que era mesmo ela. A rapariga pressentiu a sombra dele e olhou para cima:
– Desculpe, em que posso ajudá-lo?
– Nada, nada. Eu é que peço desculpa. Confundi-a com outra pessoa.
À medida que se afastava, o homem das palavras certas lutava contra as lágrimas e as suas próprias convicções.
jpv
