Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Crónicas de Maledicência – Os Gregos são uns Chatos

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Crónicas de Maledicência – Os Gregos são uns Chatos

Os gregos, em geral, são uns chatos. E os do Syriza são da pior espécie. A mulherada não fala noutra coisa que não seja em Tsipras, o Adónis da política, ou Varoufakis, o Apolo da finança. Depois de Demis Russos, Nana Mouskouri, e mesmo mais do que eles, os novos e emergentes políticos gregos tomaram conta do nosso quotidiano. E, quer se concorde comvaroufakis eles, ou não, o facto é que não se lhes pode ficar indiferente. E não me venham cá apelidar de sexista porque a mulherada, pelo menos a que me rodeia, fala mesmo deles.

Os gregos do Syriza são da pior espécie. Para já, atrevem-se a ser giros no meio de uma cambada de tipos de aspeto gasto, envelhecido e francamente feio. É fácil identificar um ministro europeu. É sempre o tipo mais feio da sala. Se for alemão, pode mesmo nem se ter nas pernas e andar de cadeira de rodas. E andam todos com o pescoço sufocado e o corpo pendurado de gravatas anódinas, de custo superior ao valor real, realmente pagas pelos nossos impostos.

Já o Tsipras e os amigos têm um ar saudável e desafogado, colarinho despreocupado e um aspeto moderno e informal quase como se os políticos fossem gente como nós e não essa imortal e excelsa casta de eleitos que nos tem governado e guiado pelas trevas da nossa ignorância.

E esses gregos syrízicos andam de mota, deslocam-se em viatura própria, voam em classe económica, têm blogues, conta no Twiter e, imagine-se o inusitado da questão, falam com as pessoas.

Estava a Europa descansadinha e aprumadinha, convenientemente imersa numa crise e numa recessão económicas que duram há quase uma década, têm responsáveis identificados, os ranhosos dos povos do Sul que, com a sua indigência e preguiça e incapacidade intelectual, têm ficado a dever muito do dinheiro que não gastaram às mui nobres gentes do Norte, quando surgem estes rufias, assim lhes chamou o “Die Welt”, e dizem ser necessária uma nova ordem, que pagar submarinos e armamento que não precisavam e que não pediram para guerras que não existiam, não lhes parece muito correto e, como tal, talvez seja melhor pagar ao ritmo do crescimento económico para o garantir e, já agora, se não se importam, convém que sejam pagas dívidas antigas de maus pagadores com boa fama que, em larga parcela, cobrem o que agora se diz que se deve.

Parecia a Grécia tão vulnerável, tão sem soluções, enredada numa teia financeira gerida por tipos antigos, rígidos, sulcados pelas rugas e armadilhados de colarinho branco, e surgem estes giraços, estes modernaços, e ousam desafiar as regras do jogo, ousam ter as suas próprias ideias para o seu próprio país e ajudam as pessoas mais prejudicadas pela crise, aumentam o ordenado mínimo, readmitem funcionários públicos, pagam a luz das pessoas e pensam nelas. Políticos sem gravata a pensar nas pessoas. Os gregos são uns chatos e os do Syriza são da pior espécie.

Agora, que tudo ia tão bem na Europa…

Tenho dito.
jpv


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Crónicas de Maledicência – O Skype e Eu

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Crónicas de Maledicência – O Skype e Eu

Há uns tempos escrevi uma crónica de maledicência intitulada “O Facebook e Eu”. Hoje é a vez do Skype.

Ainda sou do tempo em que o Skype só existia na ficção científica. Por essa altura, a existência de um telefone através do qual fosse possível ver quem estava do outro lado da linha era uma deliciosa, mas remota possibilidade.

Hoje é real e une e aproxima famílias e amigos por todo o mundo. Atenua ausências, ilude presenças. As pessoas percorrem as casas com o portátil na mão para mostrar como vivem, passam os dedos pelo ecrã simulando que tocam quem está do lado de lá, mostram os animais domésticos, o que estão a comer, o que trazem vestido, e olham-se como se estivessem a ver-se… mas não estão!

Eu não gosto do Skype. Uso-o mais para não desiludir os meus familiares do que por gostar da experiência. Eu sinto as mesmas profundas saudades que os outros, as mesmas dores de separação, as mesmas dúvidas… mas o Skype não me atenua nada disso, pelo contrário. E é por isso que não gosto dele.

O Skype não me atenua a distância, torna-ma mais vívida. O Skype não me cria a sensação de que estive com as pessoas, aviva-me a distância que me separa delas. O Skype não me cria a ilusão de que estive com os familiares, consciencializa-me o quão longe estou deles. O Skype torna-me mais pesado cada dia que falta até ao próximo reencontro. O Skype incomoda-me como me incomoda saber que não há magia, mas ilusionismo. Não é para mim uma quase possibilidade, é uma impossibilidade, não é para mim uma quase verdade, é uma mentira enganosa.

Sim, por vezes, lá de longe a longe, gosto de rever a família e trocar umas palavras como quem mata saudades. Lá de longe a longe… Tirando isso, prefiro saber que a família está bem e manter essa distância para revê-los ao vivo quando for possível, do que me enganar com a falsa proximidade digital. Prefiro três linhas escritas. Um telefonema rápido. Aquilo de ver as pessoas, ali mesmo, ao alcance da mão e não poder tocar-lhes é como se fosse uma promessa de vida quebrada à partida, um beco sem saída onde nos metemos sabendo para onde vamos, um Sísifo, um Tântalo…

O Skype magoa-me e incomoda-me. Lembra-me que algo está errado. Fora do sítio. Peça perdida de um puzzle inacabado. Mas isto sou só eu… um tipo esquisito.

jpv

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Fotos de Família

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Crónicas de Maledicência – Daqui, eu vejo um país…

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Crónicas de Maledicência – Daqui, eu vejo um país…

Daqui, eu vejo um país…
Preparado para o ébola, mas incapaz de resistir a um surto de legionella, nem tão pouco a perceber a sua origem.
[Nós, emigrantes, por aqui mais comummente designados de expatriados, não só temos uma visão distante da nação, como, mais do que por vezes os nossos irmãos pensam, sofremos na pele as consequências do que se passa em Portugal. Seja porque sofremos consequências diretas, seja porque as sofremos de forma indireta, nomeadamente, pela confrontação das misérias da nação. Viver no estrangeiro não é estar mais longe. Bem pelo contrário. É ser um símbolo, alvo fácil, de tudo o que se diz e faz em Portugal. Desde os resultados do futebol, às politiquices caseiras ou às opções e atitudes de política externa. Recentemente, ouvimos com espantado agrado que Portugal estava preparado para um surto de ébola, caso o mesmo viesse a registar-se. Afinal, dizem-nos por aqui, viver na África subdesenvolvida é mais seguro. A água até pode nem ser potável, mas a população sabe! A incapacidade para lidar com o fenómeno legionella deixa-nos preocupados com os nossos familiares e apreensivos em relação às verdadeiras capacidades do país para reagir ao que quer que seja.]

Daqui, eu vejo um país…
Decente e civilizado, mas a transformar a casa da democracia num circo sem dignidade.
[A chocarreira pouco digna em que se transformou a Assembleia da República de que foi protagonista o Dr. Pires de Lima, infelizmente, não é um fenómeno próprio de um partido. É uma recorrência transpartidária que, de quando em vez, envergonha os portugueses um pouco por todo o mundo. A Assembleia da República não é um bordel, não é um café, não é uma discoteca. É a casa onde se asseguram os nossos direitos e definem os nossos destinos. Nem se coloca a questão de ter razão ou não. Perdeu-a de imediato. Não pode habitar a AR quem age assim, seja de que partido for.]

Daqui, eu vejo um país…
Muito democrático, mas onde a Assembleia da República se preocupa mais com o Orçamento da Câmara de Lisboa do que com o Orçamento Geral do Estado.
[A discussão do Orçamento da Câmara de Lisboa, tenha a importância que tiver, emane de quem emanar, nomeadamente, no caso presente, do homem que ensombra a continuidade do atual Governo, não pode sobrepor-se àquilo que nós, portugueses, realmente precisamos: que se discuta e esclareça o Orçamento Geral do Estado. Quem está de fora pensa: ‘O Costa já ganhou. Até consegue ofuscar o OGE com o Orçamento da Câmara de Lisboa!’, mas a verdade é que o facto é preocupante porque é um sinal inequívoco de que as políticas se exercem em nome da continuidade do poder e não pelo debate e aplicação das ideias.]

Daqui, eu vejo um país…
Que anuncia, ao mesmo tempo, como se fossem fenómenos desligados, a diminuição da taxa de desemprego e o aumento do abandono dos seus jovens para o estrangeiro.
[Apareceu uma figura a provar com matemáticas diversas que a Taxa de Desemprego tinha baixado. Aceito sem discutir. Não sou, nunca fui, bom a Matemática. Mas penso. E não ouvi nesse arrazoado falar dos milhares de jovens que não estão em Portugal porque não conseguem lá viver. Esses, quer queiramos, quer não, são desempregados do nosso país. Ninguém abandona a Pátria como primeira opção de vida. Abandona-se a Pátria quando a vida se torna, nela, insuportável, sem esperança, prenhe de barreiras e cega de oportunidades. E essa é a mais grave e doentia forma de desemprego. É aí que habita o cancro. Passar por cima desses números, é ignorar os sacrifícios dos que partem com a esperança de um dia voltar. Essa esperança tombou pesada e teima em não reerguer-se.]

Daqui, eu vejo um país…
Com excelentes condições para se viver, mas onde se não consegue viver.
[Sempre que os portugueses expatriados comparam Portugal com qualquer outro país, nomeadamente, aquele em que estão a viver, a nossa terra sai a ganhar. É sempre o melhor sítio para se viver, é sempre o local onde tudo é melhor. E é! Mas já vamos evitando falar nisso porque, não raro, surge a pergunta, ‘Então porque é que não está lá?’ O irónico é que ninguém percebe a resposta ‘Porque não posso’. A verdade, é que Portugal tornou-se tão evoluído, os seus equipamentos sociais são tão bons, as condições de vida são tão fantásticas, que o país deixou de estar ao alcance do português comum. E nasce aqui o paradoxo social do ‘País demasiado desenvolvido”. O país são as pessoas, antes de mais. E as pessoas ou sofrem imenso por estar em Portugal, ou não conseguem lá estar. Depois há os outros, aqueles para quem o Paraíso foi erguido. Mas esses são um minoritário grupo de privilegiados…]

Daqui, eu vejo um país…
Com excelentes trabalhadores, mas cujo mérito é sempre reconhecido no estrangeiro.
[A malta aqui até já se ri. E gozam connosco! Sempre que um português tem um sucesso estrondoso, sempre que o seu mérito é social e profissionalmente reconhecido, isso acontece fora de Portugal. Das duas uma, ou os portugueses só têm comportamentos de excelência fora da terra natal, ou os portugueses de excelência estão todos fora do país, ou o país não vê e não reconhece o mérito dos seus cidadãos. É um penoso motivo de orgulho ler as notícias de grande sucesso dos portugueses e constatar que ou são notícias de reconhecimento de terra aliena, ou são notícias de reconhecimento em terra aliena.]

Daqui, eu vejo um país…
Muito preocupado com o estado da Nação, mas onde as casas políticas se digladiam pelo poder através do insulto pessoal, sem debate real de ideias e onde a tal Nação é preterida em nome de jogos de interesses.
[Quando as situações de crise se agravam, seria de esperar uma espécie de toque de recolher armas e trabalhar em prol de um bem maior, o estado da Nação. Não acontece. A primazia é invariavelmente a da divisão, a procura, antes de mais, do que divide os responsáveis pelo país e não aquilo que os deveria unir. Não há inocentes. O primeiro que se auto-proclamar inocente constitui-se, ato contínuo, culpado. Quem está de longe, não de fora, olha com desespero e incredulidade para as opções discursivas, os insultos, as picardias e a confrangedora falta de soluções que os políticos apresentam.]

Daqui, eu vejo um país…
Preocupado, tão preocupado, que os reality shows ganham nas sondagens logo seguidos das transmissões de futebol.
[Ou é o Sporting que perde, ou é o Porto que empata, ou é o Jesus que dá uma entrevista, ou são as diversas Casas com poucos segredos, ou são as tardes da Maria e as maratonas televisivas em que é sempre possível fazer fortuna com uma simples SMS, tudo isso invade as televisões e as notícias cibernéticas. Quando se tenta fugir a essas rotinas, embate-se no sensacionalismo vazio do homem que se suicidou com dois tiros de caçadeira e anda a monte! Cultura… Educação do gosto… O primado da qualidade na produção, isso são coisas raríssimas. Quase parece que alguém anda a entreter alguém… Uma coisa é certa, e disso não nos podemos queixar, todos sabemos em tempo útil e atualizado, como vai a vida emocional, gastronómica e a saúde física do CR7. Mai nada.]

Daqui, eu vejo um país…
E o que vejo é-me livremente oferecido pela televisão… ao longe. Imaginem, se olhasse de perto…
[Olhar de longe não é ver menos, mas, admito, pode falhar-nos o pormenor. O mais grave, penso, é que nós, portugueses, não sabemos da missa nem a metade. O que nos chega é escrutinado, selecionado, tratado e apresentado, na maior parte dos casos, já com os juízos de valor construídos. Aqui, longe, mora a preocupação e a impotência. O desespero. E mora, também, a certeza de que a verdade nos é servida às fatias, só aquelas que conseguimos engolir e pagar, à vez, e depois surgem outras, e outras, e outras, e acabamos a perguntar-nos, todos, porque pensamos nos nossos filhos e nos nossos netos, ‘Mas isto não tem fim’? É preciso que estas trevas, é preciso que este tolhimento tenham fim. É preciso que os nossos descendentes herdem um pouco mais do que esta trapalhada sócio-económico-política em que se transformou um país que em tempos valeu a pena. Olhamos em volta e não vemos as almas grandes. As maiores. E somos portugueses… todos…]

jpv


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Crónicas de Maledicência – O Facebook e Eu

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Crónicas de Maledicência – O Facebook e Eu

Não pretendo ter razão. Nem sequer pretendo traçar uma teoria. É só um sentir. Holístico, sim. Mas verdadeiro porque verdadeiramente sentido. E não há, da minha parte, qualquer pretensiosismo. Sinto isto e pronto.

Eu acho que temos vindo a estragar o Facebook. A deteriorá-lo enquanto rede social. E quanto mais tempo passa, pior se encontra o universo azul da procrastinação.

Certo, certo, é que, quando comecei a usá-lo, sentia um certo prazer e um certo regozijo em andar por ali. Ultimamente, evito esse ambiente porque antes de entrar se apodera de mim uma sensação de desconforto e desassossego. Só não fecho a porta porque valem a pena os amigos que por ali contacto e com que converso e vale a pena como instrumento de divulgação daquilo que escrevo.

E como veio isto a suceder? Foi paulatina, a mudança. Inicialmente, era só um espaço onde encontrávamos amigos e conversávamos despreocupada e respeitosamente sobre coisas banais, aspetos em comum, viagens, férias, família, curiosidades. Receita ligeira, portanto. Depois veio a fase da lamechice. Longos textos ou animações com máximas de vida. A malta passava ao lado. Depois veio o humor. Pessoas a dar tralhos de skate ou bicicleta, mergulhos mal sucedidos e tudo o que pudesse fazer rir. A fazer rir, mas a puxar para a consciência social, ou falta dela, chegou a fase dos acidentes de automóvel, sobretudo da Rússia. Veículos em movimento ou câmaras em túneis captavam as imagens para cruel regozijo dos consumidores. Tudo isto era tão desnecessário quanto inofensivo. Acontece que a rede social cresceu, mudou de aspeto, subtilmente tornou-se mais eficaz, chegaram os telemóveis andróides e similares e tudo se alterou. Subitamente, surgiram moralistas, ativistas, gente de missão consciencializadora e moralizadora em punho e vai de expôr ao mundo as desgraças do próprio mundo. Ao mesmo tempo que proíbe palavrões, o Facebook permite um filme com uma execução humana em massa, ou com um homem a maltratar a mulher, ou um homem a maltratar crianças, ou animais a serem violentamente agredidos, ou pessoas a perecerem vítimas das drogas, ou pessoas a comerem um peixe frito e, simultaneamente, ainda vivo, ou os estropiados de um acidente automóvel, ou crianças famélicas a arrastarem-se pelo chão, já sem força, e a implorarem ajuda. Se eu quero fechar os olhos a tudo isto? Não. Claro que não. Eu sou a favor da consciência e da responsabilidade social. Defendo a solidariedade e a fraternidade entre os homens. Mas também penso que tudo tem um espaço e o Facebook nasceu como um espaço de interação social informal e despreocupada. É certo que ele será o que quisermos, mas será que queremos mesmo converter esta rede social numa montra do dislate e da miséria humana? É curioso que, quanto mais humanizado está, mais desagradável se tem tornado. E é aqui que eu penso que temos de parar para pensar. Se esta rede social for uma montra do nosso comportamento e da nossa evolução, então as notícias são muito más.

Se sairei? Não. Continuam por cá os amigos, continua a ser um veículo de comunicação diversificado e eficaz. Mas, das duas uma, ou os mentores começam a dividir isto por temas e áreas de partilha e debate, ou começo a fazer incursões cirúrgicas e a desligar-me cada vez mais da rede social azul. É que me preocupa um aspeto, para mim, fundamental: o Facebook tem vindo a cercear a nossa liberdade de escolha, tem vindo a invadir a nossa presença com aquilo que não procuramos, tem vindo a transformar-nos e não a ser transformado por nós. Tem vindo a diminuir a nossa sensação de conforto e bem-estar e a tornar-se cada vez mais desconfortável e despropositado. E quando isso acontece, está na hora de partir.

Tenho dito!

jpv