Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


Deixe um comentário

Senhora

Princesa da minh’ alma,
Senhora de meu coração,
Comandante deste terreno
Sem norte nem chão,
Vem exercer teu reinado
Em meu corpo despido,
De teu desejo convertido
Em pobre e humilde estalagem.
Vem ser Senhora deste servo,
Vem sujugá-lo a ti,
Exigir-lhe apaixonada vassalagem.
Não quero coroas,
Nem espadas cintilantes,
Quero somente as insígnias
Dos amados e dos amantes,
Esse arfar voluptuoso,
Essa seda de odores
Em meus lábios,
Teu sexo exposto
À minha investida obediente.
Há no mundo tantos reinos
E reinados tão diversos
Sobre multidões de gente
Ondulante e distraída,
E ninguém percebe
Que és tu a Senhora
Deste sopro, desta vida…
Já me ofereceram o mundo,
Poços de dinheiro sem fundo
Onde pudesse ser feliz.
Já atendi a todas as mesas,
Já comi em todos os banquetes
Iguarias incertas
E palavras repletas de certezas.
E recebi os olhares
E os sorrisos desejosos
Das damas e das donzelas
Mas não são elas…
Só tu,
Senhora da distância
E do silêncio,
Comandas meu Destino
E meu Tempo.

Princesa da minh’ alma,
Senhora de meu coração,
Comandante deste terreno
Sem norte nem chão.

jpv


Deixe um comentário

Súbdito

Ó pobre de mim!
Abandonado
E torturado, assim,
Na tua presença
E na ausência tua.
Teu corpo vestido,
Tua alma nua.
Quisera preencher-te a alma,
Despir-te o corpo,
Libertá-lo dessas amarras
E preenchê-lo também,
Com ganas e garras,
Nesse deleitoso ritual
Que me faz refém.
E, no momento da rendição,
Entregar-te meu coração
Para o abandonares de novo.
Tu és a rainha
E eu sou o povo.
Proletário dos afetos,
Errante mendigo de teu corpo.

jpv


Deixe um comentário

Praia

IMG_2532

Mar.
Sol.
Enlevo.
Sal na ferida aberta.

Areia.
Brisa.
Luz na alma.
Alma deserta.

jpv


1 Comentário

Luz

20170412_062528

É tão pouco
E tão ténue
O que nos divide.
E é tão clara
E tão forte a divisão.
A minha vida
Não é Bíblia
Nem Corão.
É só o ar que respiro,
O vôo da ave
Que vejo e admiro.
A minha vida
Não é Norte
Nem Sul.
É só o morrer das ondas
Na areia,
Sob o céu azul.
A minha vida
Não é Grande
Nem Pequena.
É só o sentir
Da brisa serena
Acariciando-me
Os pelos nos braços.
E é ter-te junto a mim
Num longo
E emocionado abraço
E acreditar
Que isso é todo o Universo.

Entre o aroma
Da tua pele macia
E o madeiro que desliza
Sob a ponte
Não há diferença alguma.
E, se a houver,
É só uma.
Tu és a fonte
De todos os rios,
O raio que provoca
Todos os arrepios,
A luz que rasga os céus
Antes da explosão
Que derruba
A árvore ao chão
De onde se desprende
O madeiro
Que desliza na corrente.
Tu és alma
E és gente,
Fogo incessante
De dúvida e esperança.

Por ti,
Meu mundo balança.
Por ti,
Rasgo a Bíblia e o Corão.
Por ti,
Abjuro o Norte e o Sul.
Por ti,
Não quero senão
A imensidão
De uma vida pequena.

Abraço.
Aroma.
Madeiro.
Ponte.
Alma.
E Luz.

Que seduz.

jpv


2 comentários

Morrer

africa-tree

A ausência da palavra.
A dor do silêncio.
O inequívoco rumo
Da flecha.
Uma alma vergada
Ao sofrimento
Num corpo só
E exilado de ti.
Um grito, primeiro.
Depois, um lamento,
Um debater-me com o inexplicável.
E por fim o choro.
Caminho cego
E prometo voltar a ver,
Mas nada já me resta
Na vida
Melhor que morrer.

jpv