Tenho-o dito e repito, sem preconceitos, a experiência de viver em Maputo tem tido as suas dificuldades, mas é absolutamente fantástica. Uma das muitas coisas a que temos de habituar-nos é o ritmo. Os dias acordam muito cedo, a partir das 4, 4:30 e também se escondem cedo, por volta das 20 é hora de começar a adormecer e às 22 é muito tarde. Não tem tanto a ver com as horas, mais com o ritmo dos dias.
Por outro lado, também a sequência de acontecimentos, a forma como a vida se encadeia, é muito diferente daquilo a que estamos habituados na Europa e, em particular, em Portugal. Não é pior, nem melhor. É, simplesmente, diferente. Vejamos como pode ser uma semana em Maputo. Este exemplo é diretamente retirado do filme da minha vida, logo, foi real e efetivamente vivido.
Segunda Feira
– Aulas.
– O carro começa a ter dificuldade em pegar.
– Falta a água à noite. Nada a fazer.
Terça Feira
– O diagnóstico da falta de água revela inequivocamente que a bomba que leva a água do depósito no r/c, que a recebe da companhia, e a bombeia para o depósito no terraço, no 4º andar, donde descerá para a casa, no 1º andar, queimou. Literalmente. Contacta-se o senhorio que faz o favor de contactar o eletricista/canalizador que, às 7:30, informa que chegará às 9:30.
– Almoço no Piri-piri. Frango de churrasco, o que havia de ser?
– Às 14:30 chega o canalizador/eletricista, um tudo-nada atrasado. Informa que a reparação demora 30 minutos. – Levar o eletricista/canalizador a casa para trazer as chaves. – Comprar uma bomba nova. – Petisco ajantarado com o Nunes e uns amigos. Chouriço assado com vinho de Reguengos. Faz-se diagnóstico do carro. Precisa nova bateria. – Às 21:30 o arranjo de 30 minutos da bomba que leva a água do r/c para o terraço a fim de baixar ao 1º andar é remetido para o dia seguinte. Quarta Feira
– Comprar bateria nova. A pessoa que a vende substitui a bateria velha por uma nova. – Em casa, arranjar o arranjo da bateria refazendo as ligações que estavam mal amanhadas. – Aulas. – À tarde falta a luz.
– O fornecimento de luz é retomado ao princípio da noite.
– Prossegue o arranjo da bomba de água. Banho com um balde e um púcaro.
– O Benfica perde com o Chelsea.
Quinta Feira
– 48 horas depois de ter sido diagnosticado um arranjo de 30 minutos recupera-se o fornecimento de água.
– A buzina do carro começa a apitar sozinha. Ao cabo de três vezes, dou-lhe um valente murro. Nunca mais se manifestou por vontade própria.
– Aulas.
– Preparação do Sarau das Línguas: audições.
– Falta o sinal de televisão. Depois de verificados os cabos, contacta-se a empresa que fornece o serviço de televisão. Vamos já!
Sexta Feira
– Pagar ao eletricista/canalizador.
– Aulas.
– Jantar da equipa que coordena os trabalhos de preparação do Sarau das Línguas.
– 24 horas depois de ter sido suspenso sem aviso, retoma-se o fornecimento de serviço de televisão.
Sábado
– Compras.
– Corrigir testes.
– Skype com a família.
– Dormir e sonhar com um domingo tranquilo que começará, sem dúvida, com um banho retemperador.
Domingo
– Falta a água. Pânico geral. Telefonemas diversos para o senhorio e eletricista/canalizador. Uma hora depois, assistido por telefone, descubro que ele tinha enchido o depósito do terraço, tinha ligado a bomba nova, mas… tinha-se esquecido da torneira de segurança fechada. Abre-se a torneira de segurança. O líquido precioso jorra avonde. Banhos. Finalmente.
– Pequeno almoço no Continental.
– Passeio de carro e a pé pela marginal. Paisagem belíssima.
– Testes.
– Intervalo dos testes para fazer esta publicação no MPMI.
Se eu podia viver sem ser em Maputo? Poder, podia, mas não era a mesma coisa!
E, por fim, algumas imagens que acompanharam a loucura de uma semana normal na Capital moçambicana:
Poloni faz um amigo. Se não fosse o vidro, brincávamos mais.
Marginal de Maputo.
Leitura matinal junto ao mar.
Marginal de Maputo.
Vista da praia da marginal de Maputo onde Poloni costuma dar umas corridinhas.
[Apesar de muito divulgado na comunicação social, o caso “CAsa Pia” não sofre evoluções significativas.Sinal dos tempos: As marcas TMN e Vodafone posicionaram-se no topo do ranking do investimento em publicidade. Nos EUA, diversos jornais influentes – alguns dos quais apoiantes da guerra no Iraque – têm vindo a questionar a Casa Branca e os serviços secretos norte-americanos, perante a conclusão, que se vai generalizando, de que não existiam armas de destruição maciça no Iraque. Portugal assina o acordo internacional anti-tabagismo (Framework Convention on Tobacco Control). Início da missão do 3º Batalhão de Infantaria Páraquedista na Bósnia-Herzegovina [Data da primeira publicação: 9 de Janeiro de 2004]
O ritmo das coisas
Olá mana! Um bom ano te desejo daqui, donde os sentimentos se sentem mais fundo, daqui donde se não pode fingir, donde se não pode enganar o juiz que é a alma, daqui, deste sentir irmão.
Hoje, quando faço estes votos que espero se realizem, envio-os em pensamento a uma irmã mulher, crescida, de responsabilidades imensas e mundo inteiro às costas. Vejo-te na plenitude do teu ser e do teu viver e orgulho-me da obra que o tempo fez. E lembro-me de outros anos terem passado e recuo trinta e tal desses anos no tempo e lembro o tempo em que o tempo não corria como hoje. Hoje, o tempo impressiona-me por ser tão pouco, tão curto. As pessoas correm cada vez mais, cada vez mais atarefadas, para usufruírem cada vez mais do tempo que cada vez menos têm e de que cada vez menos usufruem. Todos querem poupar tempo mas o intento parece nunca ser alcançado porque todos se queixam sempre de o não terem. Um ano como aquele que acabou ainda agora para todos nós ou como aquele que agora desponta parece ser incrivelmente mais célere, mais efémero, menos tempo, menos ano. Nos anos em que inauguraste o ser, arriscaste os primeiros passos ou estreaste as primeiras palavras a vida parecia mais lenta, mais calma e mais vivida. Os anos eram eternos. Por essa altura um automóvel que conseguisse a marca impensável dos 120 km/hora era uma máquina extraordinária. Na generalidade, 80 km/hora era já a fronteira do risco desnecessário. Daí que as viagens fossem mais longas e as distâncias parecessem maiores. Um simples Coimbra – Lisboa, que tanta vez fizemos, era obra para quatro a seis horas correndo as coisas bem. Uma carta em correio normal, que o não havia ainda às cores, percorria entre o dedicado remetente e o ansioso destinatário oito dias úteis, no mínimo e sem atrasos. Às vezes ainda sorrio ao lembrar-me do meu primeiro bilhete de identidade, a eternidade que esperei por ele: trinta dias inteiros. Um bolo, por exemplo, era tarefa para uma manhã ou uma tarde. Nos dias que correm qualquer pré-pré-pré-feito, em indo ao micro-ondas cinco minutos, está prontinho. E uma gravidez? Como quando a mãe e eu e o pai esperámos por ti… eram nove meses inteiros! Nove longos meses de esperar pelo primeiro pontapé, de pensar os nomes todos para escolher o melhor que o era só por ser teu! Hoje já nenhuma gravidez dura nove meses. Vemos a futura mãe uma ou duas vezes e, à terceira, ou a vemos com a criança ao colo ou esbarramos com o pai sorridente a dizer que a menina tem três meses e já quer agarrar as coisas. Às vezes parece-me, sinceramente, que o tempo vem em pastilhas compactas e gasta-se numa noite de frente para a televisão. Sabes, manucha, a acreditar no que vão dizendo os cientistas na televisão, no que leio nos Atlas e outros livros da especialidade e até, porque não, no meu relógio de mesa-de-cabeceira, o tempo dura o mesmo tempo, hoje, que durava quando vieste ao mundo! O problema não me parece residir na passagem do tempo que se rege pelos movimentos dos celestes astros e esses, que eu saiba, pouco se ralam se nós contamos com mais ou menos precisão e paciência a forma como sempre se movimentaram, movimentam e hão-se continuar a movimentar. O problema reside no ritmo das coisas. Na forma como os meios de comunicação enfatizam a informação, na forma como compactam os anos em 3 minutos de bons momentos, maus momentos, quedas de motocicletas, desastres de automóvel, golos memoráveis, recordes impressionantes, catástrofes naturais, homens importantes em tribunais. O problema reside na forma como dependemos do relógio para deixar a criança em casa dos pais, no infantário, trabalhar à pressa, almoçar à pressa, ir buscar as crianças à pressa… tudo à pressa. O problema reside na forma como, pela facilidade do consumismo e pela facilidade do conforto, deixamos de estar uns com os outros, nos vemos menos, conversamos menos, temos menos histórias e, claro, vivemos menos embora, segundo as apuradas médias internacionais, passemos mais tempo vivos. Não sei que ilusão de rapidez é esta que nos leva a ser atraídos pela vertigem do Já em detrimento do apuramento do Durante. Somos, definitivamente, uma sociedade de produtos e, contudo, a vida é um conjunto de processos, é, ela própria, um processo.
E no atropelo de corrermos a vida em vez de a vivermos, atropelamos a calma das coisas, atropelamos o tempo que é preciso dar ao tempo, atropelamos as ideias, os conceitos, os valores. Tudo o que exija um processo é atropelado por aquilo que apresente um produto. E depois admiramo-nos com o pessimismo com que se encara este tão novo e já tão condenado 2004. Ele é o pessimismo em torno da economia, ele é o pessimismo em torno do desemprego, ele é o pessimismo em torno da pedofilia, ele é o pessimismo nacional, o europeu e o transcontinental… e bastava que, em vez de corrermos, parássemos para olhar, para mostrar atenção, para vigiar, para cuidar e conversar…
Por isso, mana, te não desejo que este novo ano seja um ano de paz, saúde, alegria e sucesso. Vou desejar-te, antes, que este ano seja um ano em que inicies e desenvolvas processos e projectos de paz, de saúde, de alegria e de sucesso. Em lume brando, ao ritmo das coisas!
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