Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


Deixe um comentário

Crónicas de Maledicência – Aos Jovens Políticos

Crónicas de Maledicência – Aos Jovens Políticos

Não dou lições de moral. Não gosto disso, cheira-me a arrogância intelectual e ética e com a arrogância não faço pactos. Também não acho que alguém possa considerar-se autorizado a tal exercício. Ainda assim, observo. Muito. E capto, registo… quando as coisas não me suscitam interesse, gosto ou preocupação, deixo passar. Quando acontece uma das três, normalmente, escrevo. Hoje escrevo aos jovens políticos.
Estou preocupado. Os jovens, de certo por responsabilidade nossa, na forma como os educámos, confundem política com poder, confundem política com exercícios de retórica e demagogia. Que os políticos façam isso, é condenável e preocupante, que os jovens cresçam com essa matriz inculcada no seu comportamento, é mais do que preocupante, é grave, é uma geração à beira de perder-se e Portugal não pode dar-se ao luxo de desperdiçar mais gerações!
Manuel Laranjeira, escritor do séc, XIX/XX escreveu “Eu sou um homem que tem a coragem dos seus defeitos.” Essa coragem é precisa. É fundamental que reconhaçamos os nossos erros porque a sua superação constitui um inestimável caminho de aprendizagem. Ora, os jovens estão a crescer evitando reconhecer os erros, desviando-se deles de forma habilidosa, imputando-os a terceiros. Isso é grave em qualquer jovem. Num jovem político é muito grave porque representa a condenação do futuro da nação, representa a falta de consciência e responsabilidade, representa que, independentemente do que as folhas de Excel disserem, não sairemos da crise.
Um dia destes, numa rede social, vi um jovem político cometer um erro crasso. Foi uma questão de desconhecimento basilar. Uma daquelas situações em que, ou nos calamos para não dizer asneira, ou vamos investigar e informar-nos antes de falar. Não fez uma coisa nem outra. Escreveu e errou. Ora, isto, a meu ver, não é grave. É natural. O grave, muito grave, foi o que se passou a seguir. Alguém, por certo um amigo preocupado com a sua imagem, corrigiu-o com educação, tato e até inteligência. Abriu-lhe as portas para se retratar, se informar e mostrar que o tinha feito, que tinha crescido no processo. E o que fez ele? NUNCA assumiu o erro, iludiu, ou pensou que iludiu, o seu erro com palavras vazias e ludibriosas e saiu, ou pensou que saiu, triunfante de uma situação em que tinha sido o único a não triunfar. Ainda pensei fazer-lho notar, mas não valia a pena. Aquele jovem político estava tão cheio de si, das suas certezas e das suas capacidades que não lhe assistiria a humildade do reconhecimento do erro. Calei-me.
E fiquei preocupado. Os jovens políticos, hoje, não percebem que sofrer é fundamental, que errar é precioso, e envolvem-se em jogos de escondimento e disfarce por via da manipulação das palavras e seguem em frente como se estivesse tudo bem. Mas não está. Está tudo podre. Um dia vou ver aquele miúdo num cargo de responsabilidade, é certinho… e nunca saberei se o que está a dizer é fundamentado ou uma enorme máscara de disfarce das suas lacunas não enfrentadas. Errámos algures na nossa missão de educá-los e ensiná-los. Os políticos adultos não têm constituído um exemplo de verdade, de essência, de honestidade intelectual e ética. As palavras têm estado demasiadas vezes antes e primeiro do que as ideias e os atos. E há, em relação a isso, uma impunidade generalizada que mina a formação dos jovens políticos. É por isso que a política anda a reboque das máquinas de calcular e enjeita e rejeita as pessoas de verdade. Porque é submissa. E é submissa porque não tem a força da verdade e da essência. Hoje, a política é só retórica e demagogia mal disfarçadas e isso tolhe-nos, criminosamente, o futuro.
Tenho dito!
jpv


Deixe um comentário

Crónicas de Maledicência – O Descrédito das Cimeiras

Crónicas de Maledicência – O Descrédito das Cimeiras

Ora, caros leitores e amigos, parece que vem aí mais uma cimeira. Não sei qual é, nem onde é, nem com quem é. Desliguei. Sei que será determinante e definitiva. Como as últimas 19!

Eu não sei se os políticos sabem que a malta sabe que, se eles reúnem 19 vezes, em 19 reuniões determinantes e definitivas e não sai de lá nada de determinante e definitivo, então, nós sabemos ou, pelo menos, intuímos, que “determinante” e “definitivo” são só palavras. Vãs.

O Mundo está na mesma. O Ambiente piora, a Economia piora, as Pessoas sofrem mais, os Problemas agravam-se e estas Cimeiras determinantes e definitivas são rituais de acasalamento absolutamente fúteis. Em linguagem popular: uma palhaçada! O facto é que as cimeiras caíram no descrédito total porque já ninguém acredita nelas e constituem só mais uma forma de gastar dinheiro dos contribuintes desnecessariamente.

Meus Senhores, e que tal reunir menos e trabalhar mais?

Tenho dito!
jpv


4 comentários

Quanto vale um par de cornos?

[Esta é a primeira publicação deste texto: 3 de Julho de 2009]

Olá Mana,

O título, hoje, pode parecer-te estranho. E é!

A sua estranheza vem-lhe do estranhamento que sinto na evolução do mundo que nos circunda e da inversão de valores que, paulatina e gravemente, se vai operando. Estive para titulá-lo com um mais digno e ilustre “A inversão” mas depois decidi não fugir a este apelo ribatejano e intrínseco de ruralidade e realidade confrontadora!
Eu lembro-me, como tu te lembrarás, de que não tivemos uma infância marcada pela punição física. Nem o pai nem a mãe iam por esses caminhos com facilidade. E lembro-me também de que, quando optaram por essa solução, ela teve sempre duas características, resultou de algo desproporcionalmente grave que pudessemos ter feito ou dito, que é fazer com palavras, e a falha foi-nos explicada. Valha a verdade, nenhum de nós ficou traumatizado ou deixou de fazer o seu percurso por causa de umas palmadas! Enfim…

Ora, estive aqui a tentar lembrar-me que razões poderiam levar os nossos pais a darem-nos umas palmadas pedagógicas ou, com menos pruridos de linguagem, uma tareia à moda antiga. E a primeira, a razão central, é a mentira! A mãe e o pai suportavam-nos as falhas quase todas mas a mentira vinha à cabeça das inadmissíveis. Por exemplo, se um de nós, na malandrice da infância que leva aos primeiros desafios do status representado e mantido pelos adultos se lembrasse de fazer um par de cornos a alguém, levaria, por certo uma repreensão, uns olhos muito abertos, umas palavras mais severas mas nunca uma tareia, umas palmadas… pura e simplesmente não era falta para tanto. Era uma parvoíce e uma falta de respeito mas nada que se comparasse a uma mentira.

Repara como as coisas mudaram. o Primeiro-Ministro mentiu ao parlamento e à nação quando disse que não conhecia o que se passava no negócio PT/TVI que depois, afinal, já conhecia. O ministro Manuel Pinho fez um par de cornos na Assembleia da República. o Primeiro-Ministro continua em funções. O ministro Manuel Pinho demitiu-se! E a demissão foi aceite por quem? Pelo Primeiro-Ministro!

Ambos tiveram um comportamento reprovável na Assembleia mas repara na inversão. Um gesto, reprovável, é certo, mas superficialmente desrespeitoso, uma parvoíce, uma criancice, teve a reconhecida gravidade de uma demissão enquanto que um gesto profundamente desrespeitoso, um dolo, uma fraude de carácter, passa em branco e incólume.

O que me preocupa é que há pessoas adultas e crianças a ver, a assistir, a comentar e há uma mensagem que, subtilmente, passa: mentir já não é tão grave como dantes. Mentir são só palavras ditas ao contrário da verdade. Aquilo que era a essência passa para a periferia dos valores, bons e maus, e aquilo que era a periferia está a tornar-se essência. E porquê? Porque é visível, porque as câmaras mostram! Ou seja, eu não sei, mana, ao certo, quanto vale um par de cornos mas fico apreensivo quando um par de cornos começa a valer mais do que uma mentira!

Beijo,

Mano.